Aberje promove debate ESG para os negócios e o futuro do setor de mineração
Laboratório de Comunicação para a Mineração reuniu comunicadores e acadêmicos da Fundação Dom Cabral, da XP Investimentos, do Ibram, da Petrobras e da Kinross
O segundo Lab de Comunicação para Mineração, promovido pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, realizado no dia 23 de junho, reuniu acadêmicos e estudiosos para debater o tema ESG para a Mineração: fundamental para os negócios e o futuro do setor. Foram convidados o diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral, Heiko Hosomi Spitzeck; o sócio e head de Relações Públicas XP Inc, Matheus Lombardi; e a gerente executiva de Responsabilidade Social da Petrobras, Olinta Cardoso. O Lab também teve a abertura feita pelo diretor do Instituto Brasileiro de Mineração – Ibram, Flávio Penedo, e a mediação conduzida pela diretora de Comunicação e Relações Institucionais da Kinross, Ana Cunha, também conselheira do instituto.
Ao saudar a presença de todos, Flávio Penido ressaltou a importância de trazer a discussão para o mundo da comunicação corporativa, sobre a aplicação de práticas do ESG no universo da mineração do Brasil. “Essa é uma demanda que não podemos nos furtar, precisamos dar prática a essa narrativa, prática nas operações para o mundo dos comunicadores. Praticamente todas as ações que o setor mineral tem tomado desde 2015, quando houve o rompimento da barragem em Mariana (MG), têm dado ênfase aos componentes de proteção ao Meio Ambiente: Responsabilidade Social, um relacionamento mais aberto e transparente com as pessoas e aprimoramento da governança. Desde que houveram esses acidentes, as mineradoras e o Ibram estão à frente de um profundo processo de transformação no setor mineral brasileiro e as boas práticas de EGS estão na base de todo esse esforço”, comentou.
ESG: a pauta do dia a dia das empresas
Ao iniciar a sua fala, o professor Heiko Hosomi Spitzeck, da Fundação Dom Cabral, fez algumas recomendações quanto ao olhar das organizações às questões ambientais, sociais e de governança na administração de empresas. “A primeira recomendação é não fazer a sua estratégia ESG apenas nos questionários dos bancos, porque há outras razões pelas quais ações de sustentabilidade fazem sentido como para atrair talentos, para cumprir a lei, para compliance, para se posicionar no mercado, por exemplo, ou seja, há uma visão mais ampla de como a sustentabilidade agrega valor para o seu negócio. Não se limite apenas ao mercado financeiro. Segundo ponto: o mercado financeiro olha para riscos, então a perspectiva é predominantemente risco, o que não vai impulsionar a sua empresa a se destacar no mercado”, ponderou.
Seguindo a mesma linha de raciocínio de Heiko, Matheus Lombardi, da XP, contou um pouco como é o dia a dia do mercado financeiro e ressaltou a necessidade de um novo olhar por parte das empresas, pensando não só na rentabilidade, mas no propósito do negócio. “O mercado financeiro responde a uma demanda da sociedade. As novas gerações já consideram fundamental investir em empresas que seguem critérios ESG. Essa mudança da sociedade não tem volta. As empresas não vão conseguir mais se financiar aos mesmos custos de outros competidores que são ESG, ou seja, haverá uma seleção natural das empresas ESG e as que não são”, definiu.
Na visão de Olinta Cardoso, da Petrobras, as questões de ESG estão se tornando, de fato, materiais. “Trinta anos atrás, quando se falava de mudanças climáticas, a maioria dos investidores não considerava um substancial risco de investimento. Hoje, não tem como negar que é completamente diferente. As evidências são crescentes, o ativismo, a regulamentação e eles estão incluindo essas considerações nas suas decisões de investimento”, analisou.
“Se, por um lado, as questões ambientais estão muito mais materiais, as questões sociais não vieram nesse mesmo ritmo e são pouco compreendidas pelos investidores; questões relacionadas à saúde e bem-estar dos empregados, direitos trabalhistas, direitos humanos, cadeia de suprimentos. São desafios enormes e ainda pouco materializados, pouco acompanhados pelo mercado, mas com uma tendência significativa de crescimento”, completou.
Maturidade das lideranças do setor
Como está o grau de maturidade das organizações no que se refere a criar impactos positivos gerando de valor para a sociedade e, ao mesmo tempo, obter resultados positivos ao fazer negócio? Pesquisa da KPMG aponta que quase 50% dos executivos das empresas de mineração não entende as expectativas dos investidores em relação a este tema. A questão colocada pela mediadora Ana Cunha promoveu uma reflexão nos convidados do laboratório.
Para Heiko, as duas coisas andam juntas, porém a liderança tradicional é reativa a essas questões. “É possível ser bom para o planeta e bom para o seu negócio ao mesmo tempo. Para mim as ODS são um milagre: são 193 países da ONU dizendo que são 17 objetivos a atingir juntos até 2030. Isso já é impressionante. Mas, a postura de grandes empresas é defensiva, pois a pressão sempre vem de algum lugar, seja do banco, do colaborador, do investidor e aí a narrativa já começa torta. Penso que só 2% das lideranças querem fazer isso intrinsecamente, e normalmente parte de uma liderança jovem, ou seja, esse é um problema geracional. Temos alguma liderança muito proativa, mas muito poucos ainda para representar um movimento mais sólido”, colocou.
Lombardi frisa que o caminho das empresas é o entendimento de que as práticas de ESG são essenciais para a sobrevivência de uma organização a longo prazo. “Se você ainda não começou até agora, comece amanhã. Quem busca investimento no exterior, por exemplo, já é uma exigência ser ESG, caso não seja, tem muito mais dificuldade ou paga um valor muito mais alto. O mercado financeiro é feito por pessoas e não é uma coisa única. Generalizando, o mercado gosta de previsibilidade, é ter uma racionalidade nas ações e nas atitudes. As empresas que se mostram dispostas a mudar e a evoluir, mesmo que estejam num estágio muito inicial, mas têm no planejamento estratégico e verdade no que estão fazendo, demonstrando isso de forma prática, o mercado vê com bons olhos.
Para Olinta, o desafio maior para o setor de mineração, assim como para o setor de óleo e gás, é traduzir as narrativas. “Sempre andamos numa corda bamba e o posicionamento tem que ser consistente e aí a questão do risco é fundamental; entender o risco do negócio para poder construir narrativas que garantam uma coerência”, analisou.
Em sua análise, as empresas tradicionais dos setores de mineração e de óleo & gás estão no caminho dessa transição, que não ocorre de uma hora para outra, pois há que se mudar os processos, mudar a cadeia produtiva e alterar uma lógica de produção que vai levar a isso. “A consciência já chegou aos nossos setores e as nossas indústrias estão preocupadas no ‘como’ vão fazer isso. Há um comprometimento, mas os desafios para essa transição são robustos. O que faz a diferença são as lideranças e os conselhos. Vejo que há um processo de mudança cultural em curso. Há uma expectativa muito grande com relação ao perfil dessas lideranças e para os comunicadores: traduzir essas narrativas e absorver e influenciar para trazer para essas novas lideranças comportamentos e atitudes até então não muito valorizados que é a capacidade de trazer a intuição, o propósito como valor e traduzir isso construindo sentido, que é o papel do comunicador”, ressaltou a executiva.
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