Lab de Comunicação para a Sustentabilidade discute oportunidades e desafios para ações sociais
Na última quarta-feira (10), a Aberje realizou o evento Comunicação Consistente: Estratégias para Catalisar a Transformação Social, parte do Lab de Comunicação para a Sustentabilidade, com patrocínio da ArcelorMittal. Com a mediação de Marcelo Douek, CEO da Social Docs; Tatiana Nolasco, presidente da fundação e diretora de futuro da ArcelorMittal; Rafael Araújo, fundador e CEO da Árvore; Ana Caiasso, Diretora de Comunicação & CSR para América Latina da Alstom; e Paulo Moregola, Diretor de Comunicação dos Jesuítas do Brasil, debateram os desafios e as oportunidades para comunicadores no panorama da sustentabilidade.
Em um cenário de pressão crescente sobre recursos naturais e relações complexas entre pessoas e organizações, as iniciativas sociais ocupam um lugar de destaque na construção da reputação corporativa. A partir delas, além de transformações sociais necessárias, as áreas de comunicação e de sustentabilidade podem criar novas oportunidades – desde que essas ações sejam difundidas da melhor forma junto à sociedade civil e seus stakeholders.
Meninas e mulheres na ciência
No evento, a educação foi um dos temas de destaque, permeando outros assuntos e sempre integrada com a comunicação. “O ESG está na moda nos últimos tempos, mas a inovação e a sustentabilidade fazem parte do nosso DNA”, lembrou Tatiana Nolasco, presidente da fundação e diretora de futuro da ArcelorMittal. E para ela, esse trabalho não pode ser feito de maneira isolada. “É muito importante buscar aliados e multiplicadores”, explicou. Foi dessa maneira que, ao longo de 35 anos, a fundação impactou 11 milhões de crianças e jovens em todos os estados do Brasil. Nos últimos cinco anos, a empresa investiu R$300 milhões em ações sociais, com foco em educação, cultura e esporte.
“Quando falamos de projetos sociais, precisamos fazer com que as pessoas sintam”, contou. Para Nolasco, a comunicação eficaz é muito importante para aumentar o impacto e o reconhecimento em projetos como a Liga STEAM, que visa levar iniciativas de Artes, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática às escolas e inspirar meninas a ingressar nas áreas de ciência e tecnologia (a sigla STEAM deriva da sigla em inglês STEM, que se refere às áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). “Incentivamos escolas públicas de ensino fundamental e médio a trazer projetos ligados à área STEAM e às temáticas do ESG para mudar a realidade de sua comunidade”.
Desconstruindo estereótipos
“Hoje em dia, qualquer iniciativa de impacto gera oportunidades e gera riscos”, explicou Rafael Araújo, fundador e CEO da Árvore. Para ele, é preciso ter muita segurança no discurso para ESG. Ele contou como a Árvore atuou junto à Fundação ArcelorMittal para integrar a comunicação aos projetos desde o início.
Para o projeto, a abordagem para a comunicação e para a transformação social envolveu estratégias de curto, médio e longo prazo. Araújo explicou como a comunicação apoiou a Liga STEAM, começando o projeto com uma pesquisa aprofundada para entender o público e o cenário. Um dos pontos revelados pela pesquisa foi a desigualdade de gênero, ilustrada com um exemplo inocente. Araújo lembrou quando a pesquisa foi apresentada e a profissional responsável falou sobre brinquedos infantis, como dar ferramentas e carrinhos para os meninos e bonecas e panelinhas para as meninas.
“As empresas historicamente gostam de ter controle sobre a comunicação, mas hoje isso não é mais possível”, afirmou Araújo. A comunicação hoje vive o desafio de um ambiente saturado de informação, em que as organizações precisam superar o desinteresse do público – que está cada vez mais seletivo com a informação que consome.
Ações locais
“A responsabilidade social corporativa precisa se adequar à realidade de cada local de atuação da organização”, afirmou Ana Caiasso, da Alstom. Ela citou como exemplo o trabalho dos colaboradores no Brasil junto a ONGs que já trabalham nas comunidades em que a empresa está presente. No Brasil, a Alstom Foundation atua com prioridade em projetos voltados a acesso a água, energia ou mobilidade urbana, proteção ambiental e desenvolvimento econômico ou ambiental. Desde sua criação em 2009, a fundação já apoiou mais de 300 projetos no mundo.
Em São Paulo, a Alstom já trabalhou com a associação Arca de Noé, da Vila Prudente, e suas diversas iniciativas de engajamento comunitário, incluindo a doação de uniformes e sucata e o patrocínio de eventos locais.
“Trabalhamos a comunicação interna para informar e comunicar. Informamos as lideranças para que os líderes possam atuar como influenciadores, para que os funcionários conheçam os projetos e instituições”, explica Caiasso. “Usamos comunicados internos, com artigos na intranet, com jornal mural para atingir as equipes nas fábricas, que não têm acesso ao e-mail”, enumera.
Aproximando pessoas
“Por trás de todas as organizações há pessoas e, se não houver convicções individuais, não há base para ação social”, afirmou Paulo Moregola. “A ordem atua em periferias geográficas – na sociedade e na existência”, contou Paulo, ao falar sobre o trabalho dos Jesuítas e como essa atuação busca aproximar – e entender quais são – essas periferias. “Não tem como trabalhar em sustentabilidade se não conhecer vulnerabilidades”, concluiu.
De acordo com Moregola, educação e comunicação andam juntas no trabalho ligado à sustentabilidade. “Temos que entender que as pessoas são o centro dos projetos e da comunicação, as ações trabalham com pessoas”, explicou. “Os ODSs da ONU exigem a transição do individual para o social”, continuou, por isso, nos Jesuítas, ele trabalha com Objetivos de Relacionamento Sustentável, buscando aproximar pessoas ao reconhecer as (muitas) diferenças entre elas – a comunicação faz parte da compreensão do outro.
Moregola citou ações dos demais participantes e iniciativas da Igreja para reforçar o papel da educação para a sustentabilidade. “Temos que falar em educação para além da sala de aula”, explicou.
Barreiras
Após as falas dos palestrantes, o mediador Marcelo Douek recordou os dois mandatos da ONG Médicos Sem Fronteiras: cuidar das pessoas e salvar vidas e comunicar e contar suas histórias. “Eles só podem salvar mais vidas ao contarem mais histórias, ou seja, a comunicação tem um lugar muito especial”, explicou. Ele então provocou os palestrantes:
Quais são as barreiras para colocar a comunicação nesse lugar estratégico?
Para Paulo Moregola, é preciso que os comunicadores sejam convidados a participar do planejamento das ações. A comunicação não pode ser encarada como um pilar operacional – ela é um pilar estratégico e precisa ser vista como tal. Os processos internos e o timing são questões delicadas, de acordo com Ana Caiasso. Para ela, as diferentes áreas das organizações precisam conhecer a atuação das outras e também suas condições de trabalho para que a empresa possa se comunicar de forma integrada. Já para Tatiana Nolasco, da ArcelorMittal, estratégia e engajamento são fundamentais. É preciso definir o que é prioridade, e atuar com profundidade e resiliência, para engajar stakeholders e lideranças. Nessa atuação, a comunicação também precisa escutar esses vários stakeholders e se planejar antes de começar o trabalho de comunicação externa.
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