22 de abril de 2024

Fala na abertura do Seminário Opinião Pública, Política e Democracia

A mensagem foi proferida na abertura do Seminário Opinião Pública, Política e Democracia, realizado na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) em 18 de abril de 2024.

Prezados colegas, mestrandos, doutorandos e convidados,

Gostaria de expressar minha sincera gratidão pelo convite para participar como membro da mesa de abertura do Seminário Opinião Pública, Política e Democracia, representando aqui a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, a ABERJE e a disciplina Memórias Rituais, Narrativas da Experiência, que integra o PPGCOM ECA-USP. É uma honra e um privilégio estar ao lado de renomados acadêmicos e pesquisadores como os Professores Doutores Eneus Trindade, Margarida Kunsch, Clotilde Perez e Roberto Chiachin.

O Prof. Luiz Alberto de Farias pediu-me que fizesse algumas considerações no contexto da realização deste seminário como parte das atividades da disciplina Memórias Rituais, Narrativas da Experiência, que Luiz e eu ministramos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM ECA-USP).

A primeira consideração é que este Seminário delineia um espaço de diálogo profundo e reflexivo sobre os temas cruciais que permeiam a sociedade contemporânea. É uma oportunidade única para explorarmos as interseções entre opinião pública, política e democracia, considerando suas implicações epistemológicas, hermenêuticas nos campos da Memória, das Narrativas, dos Mitos e Rituais.

Oportuno é refletirmos sobre as grandes narrativas políticas, religiosas e laicas, principalmente em suas formas de narrativas e rituais, que orientam cotidianamente a vida das pessoas, especialmente dos brasileiros, bem como sobre as instituições contemporâneas que balizam os fatos sociais – como pensado por Emile Durkheim – e as forças orientadoras das principais instituições sociais, como a família, a escola, a igreja e as empresas.

Além disso, o debate sobre o modelo de Estado, a estabilização política a partir da Revolução Francesa, e os desafios enfrentados pelas democracias contemporâneas frente a modelos ditatoriais e autocráticos, são temas urgentes e relevantes para o contexto global atual.

Vale destacar, a análise do papel da universidade como produtora de narrativas, mitos e rituais referenciais, e sua interação com uma sociedade conflagrada, é fundamental para compreendermos o papel da educação e da pesquisa na construção de uma sociedade mais justa e democrática.

É evidente que o escopo das questões que serão delineadas aqui abrange uma gama ampla de temas cruciais para entender a dinâmica social e política contemporânea. Permita-me abordar algumas dessas questões de maneira mais geral, dada a complexidade e amplitude das questões apresentadas. Essas questões estão no escopo dos seguintes conteúdos:

  • As Grandes Narrativas Políticas, Religiosas e Laicas: No contexto brasileiro, as grandes narrativas políticas muitas vezes giram em torno de ideologias como o nacionalismo, o desenvolvimentismo, o liberalismo e o conservadorismo, entre outras. Em termos religiosos, o país possui uma diversidade significativa, com o Cristianismo predominante (especialmente o Catolicismo e o Protestantismo), mas também com presenças significativas de outras religiões, como o Espiritismo, o Candomblé e a Umbanda. Narrativas laicas podem incluir ideais de modernização, secularização, direitos humanos e direitos da Natureza.
  • As Instituições Contemporâneas como Narrativas Rituais: As instituições contemporâneas, como o Estado, a família, a escola, a igreja e as empresas desempenham papeis fundamentais na criação e perpetuação de narrativas sociais e rituais, muitas dessas narrativas defendidas em reação aos ideais laicos. Elas moldam identidades, valores e comportamentos através de suas estruturas, normas e práticas.
  • As Narrativas das Instituições e os Estratos Sociais Desfavorecidos: Para os pobres e as classes médias desestabilizadas, as narrativas institucionais muitas vezes se manifestam de maneira desigual, refletindo e perpetuando desigualdades socioeconômicas e culturais. Esses grupos podem experienciar as instituições de forma mais coercitiva ou excludente, o que pode gerar tensões e conflitos.
  • Os Modelos de Estado e Democracia: Os modelos de Estado, especialmente os baseados na separação de poderes proposta por Montesquieu, têm sido adotados como pilares das democracias modernas. No entanto, eles enfrentam desafios significativos em contextos onde há ameaças à independência dos poderes, corrupção e autoritarismo.
  • A Universidade como Produtora de Narrativas: A universidade desempenha um papel vital na produção e crítica de narrativas sociais, mitos e rituais. Elas são espaços de conhecimento, debate e contestação, contribuindo para a diversidade de perspectivas e a construção de uma esfera pública informada e crítica.
  • A Opinião Pública, Política e Democracia: A opinião pública, a política e a democracia são arenas fundamentais onde as narrativas, o poder e o conhecimento se entrelaçam. A opinião pública pode influenciar a política e moldar o curso da democracia, enquanto a política, por sua vez, busca legitimar-se através do discurso público e das práticas democráticas.

Estas são apenas algumas considerações preliminares sobre os temas complexos que serão discutidos aqui neste Seminário. Cada um deles pode ser explorado em detalhes a partir de diferentes perspectivas teóricas e empíricas, oferecendo insights valiosos sobre a natureza da sociedade contemporânea e os desafios que enfrentamos.

Estou ansioso para contribuir para este importante evento e compartilhar ideias e perspectivas com os demais participantes e os estudantes envolvidos. Mais uma vez, agradeço profundamente pelo convite e pela oportunidade de participar deste encontro tão significativo.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Paulo Nassar

Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje); professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP); doutor e mestre pela ECA-USP. É coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN), da ECA-USP; pesquisador orientador de mestrado e doutorado (PPGCOM ECA-USP); pesquisador da British Academy (University of Liverpool) – 2016-2017. Entre outras premiações, recebeu o Atlas Award, concedido pela Public Relations Society of America (PRSA, Estados Unidos), por contribuições às práticas de relações públicas, e o prêmio Comunicador do Ano (Trajetória de Vida), concedido pela FundaCom (Espanha). É coautor dos livros: Communicating Causes: Strategic Public Relations for the Non-profit Sector (Routledge, Reino Unido, 2018); The Handbook of Financial Communication and Investor Relation (Wiley-Blackwell, Nova Jersey, 2018); O que É Comunicação Empresarial (Brasiliense, 1995); e Narrativas Mediáticas e Comunicação – Construção da Memória como Processo de Identidade Organizacional (Coimbra University Press, Portugal, 2018).

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