27 de março de 2024

Reflexões sobre o Page Spring Seminar 2024: desafios e oportunidades de uma comunicação global

Artigo publicado originalmente no LinkedIn no dia 27 de março

Na última semana, o Page Spring Seminar 2024, da Page Society, reuniu especialistas em comunicação corporativa em discussões sobre algumas das tendências – e polêmicas – mais significativas de nosso mercado na atualidade. A Page Society é a principal associação do mundo para diretores de comunicação (CCOs); CEOs de empresas de relações públicas; e educadores ligados à comunicação corporativa, dedicada a fortalecer o papel de liderança empresarial do diretor de comunicação, com altos padrões profissionais.

Na edição deste ano, realizada em Paris, o tema da geopolítica permeou muitas discussões do evento – como se diz no interior de São Paulo, a geopolítica está “na crista da onda”. Com a internacionalização crescente de negócios e com o cenário político cada vez mais complexo, não é à toa que o tema deste ano tenha sido a importância do olhar global dos CCOs nas organizações. O diretor de comunicação é cada vez mais demandado para agir globalmente, em meio a negócios internacionalizados. Sua atuação dentro das empresas está ganhando relevância, cada vez mais próxima do C-level e, consequentemente, das estratégias de negócios e em sua interlocução com stakeholders de diferentes esferas.

O papel da comunicação na política contemporânea foi uma das questões discutidas em profundidade. Embora o uso dos meios de comunicação nas campanhas eleitorais não seja novidade, com a polarização atual, tudo se exacerbou. Um dos palestrantes, o ex-presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski, comentou a eficácia da comunicação do presidente Zelensky na Ucrânia como um exemplo dessa dinâmica, onde a polarização é explorada para ganhos políticos, mesmo em meio a desafios geopolíticos complexos.

Em meio a esse ambiente polarizado e exigente, a comunicação pública precisa se reinventar para atender as demandas práticas do cidadão. Em uma palestra com Michaël Nathan, Diretor Executivo do Serviço de Informação e Comunicação Governamental da França, falamos sobre como a comunicação pública poderia usar as estratégias da comunicação corporativa para ganhar mais tração entre os cidadãos – evidentemente, seguindo as normas necessárias à boa comunicação pública, como os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. É importante frisar que a comunicação pública não pode se confundir com a comunicação partidária ou com campanhas políticas. Ela precisa estar concentrada na divulgação daquilo que é importante para o cidadão e para o exercício da cidadania.

Em meio a essa situação desafiadora, as decisões precisam ser tomadas com rapidez. O CCO (junto com sua organização) está imerso em uma teia de relações dinâmica e global e suas ações podem ter repercussões imprevisíveis. Por isso, os dados ganham uma relevância inédita nas ações de comunicação, para embasar decisões e avaliar sua eficácia. A mensuração do impacto social das organizações, particularmente no contexto das práticas de ESG, é fundamental para comunicar o valor dessas práticas para o bem comum. Mas como medir tudo o que o negócio está fazendo com objetivo de contribuir para o desenvolvimento da sociedade? Isso requer padrões e métricas claras – o que, mais uma vez, destaca o papel dos comunicadores na transformação desses esforços em dados compreensíveis.

E, entre as muitas práticas de ESG que precisam ser mensuradas, o uso de novas tecnologias, notadamente a Inteligência Artificial, vem ganhando importância. Em um painel dedicado à IA e ao papel do CCO para seu uso responsável, a questão foi abordada sob dois aspectos: como ela vai impactar na estratégia do negócio, na estratégia e no resultado dos negócios; e como as organizações estão lidando com a IA do ponto de vista prático e ético. Não há dúvidas de que a Inteligência Artificial vai impactar e já está impactando as várias disciplinas da comunicação, com ganhos de produtividade e agilidade. Ou seja, o CCO, dentre suas atribuições, também deve pensar como utilizar a IA para impulsionar a eficiência e a inovação nos negócios, ao mesmo tempo em que elabora um compromisso ético e transparente em torno do uso da IA.

Sei que os desafios para a Comunicação para os próximos anos são significativos, mas estou convencido de que os comunicadores e as comunicadoras estão prontos para superá-los.

A agenda internacional da Aberje tem o apoio da Latam.

+ Leia a cobertura do Page Spring Seminar.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Hamilton dos Santos

Jornalista, mestre e doutor em Filosofia, ambos pela Universidade de São Paulo (USP). Também é formado em Administração de Empresas pela Stanford Global Business School. Tem experiência em diversas redações dos principais veículos de comunicação do Brasil e como diretor de Recursos Humanos da Editora Abril, onde trabalhou por 20 anos. Atualmente é diretor executivo da Aberje – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, representa a instituição na Global Alliance For Public Relations and Communication Management e é membro da Page Society, do Conselho da Poiésis e um dos líderes do movimento “Tem Mais Gente Lendo”.

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