O investimento social privado é um dos caminhos para um futuro sustentável
Recentemente, tivemos a notícia de que o Investimento Social Privado (ISP) superou os R$ 4 bilhões, segundo prévia da pesquisa BISC 2023 – estudo que apura anualmente o montante desse tipo de investimento no Brasil. Mas o que, de fato, representa esse dado para as empresas e para a sociedade?
O Investimento Social Privado é um repasse de recursos empresariais, sejam próprios ou incentivados, para projetos e ações voltadas às causas sociais. Essa iniciativa tem crescido no país e abre discussão para um futuro mais sustentável, através de um modelo onde a iniciativa privada desempenha um papel socialmente responsável diante dos muitos problemas do país.
Para entender o impacto de todos esses números na área social, é preciso conhecer melhor a realidade de instituições e de projetos sociais no Brasil. Em grande parte, os projetos de cunho social são iniciativas que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas em situação de vulnerabilidade. A transformação positiva gerada por esses projetos está diretamente ligada com a redução da pobreza, com a melhoria da educação, com o aumento do acesso à saúde, com a promoção da igualdade de gênero, entre outros bons resultados. São variáveis que interferem diretamente nas comunidades onde as empresas estão inseridas e, consequentemente, nos negócios. São questões indissociáveis.
A título de exemplo, no ano passado, os projetos apoiados pelo Instituto CPFL, diretamente, impactaram mais de 700 mil pessoas. Mensurar esse impacto social é sempre uma questão controversa, mas defendo que é possível, utilizando-se de metodologia, equipe e recursos. Mas entendo que, talvez, este seja o maior gargalo: o investimento social demanda dedicação, monitoramento e recursos que, por muitas vezes, não estão disponíveis no planejamento de muitas empresas.
Mas como e por onde começar? A definição de um propósito social é o ponto de partida para qualquer tipo de investimento nessa área. No Instituto CPFL, nosso propósito: “Energia que Transforma Realidades”, se materializa por meio de projetos que utilizam a cultura e o esporte, como ferramentas de inclusão e de impacto social. Esses projetos foram divididos em frentes de atuação específicas: CPFL Jovem Geração, para aqueles que atuam com crianças e adolescentes; CPFL nos Hospitais, para aqueles que atuam em entidades de saúde; e Circuito CPFL, para aqueles que atuam com itinerância.
Essa divisão nos ajudou a melhorar tanto a seleção dos projetos quanto a definição dos indicadores que avaliamos mensalmente. Esses indicadores dizem respeito ao dia a dia das atividades realizadas e, também, temos indicadores que evidenciam a mudança e a transformação de fato, como o desempenho escolar, a sociabilidade e a saúde e bem-estar dos beneficiados pelos projetos.
Ao longo dos últimos anos, temos aprimorado essa análise, com resultados que contribuem, diretamente, com o caminho de nossas atividades. Concentrar esforços em projetos de contraturno escolar é uma das conclusões aferidas pelo nosso acompanhamento. As atividades que acontecem no contraturno escolar acabam desempenhando um papel muito relevante para crianças e adolescentes, pois exercem uma função de socialização e de extensão do aprendizado. E os nossos indicadores confirmam que as notas de muitos estudantes melhoram quando estão envolvidos com aulas de música ou esportes coletivos, como futebol, basquete e vôlei.
Já na área de saúde, apoiamos fortemente as iniciativas de humanização hospitalar, pois são ações que, além de beneficiar diversos públicos – como pacientes, familiares e profissionais de saúde – atuam com acolhimento, escuta ativa e empatia, detalhes que podem passar despercebidos no dia a dia de uma instituição de saúde que lida com alto volume de atendimento e obstáculos inerentes à saúde pública. Assim, conseguimos alcançar desde unidades de tratamento para crianças, até instituições de longa permanência para idosos.
Segundo ranking da BISC de 2021, que listou as 10 áreas que mais receberam investimento social, as três primeiras colocadas são eventos culturais, com 20,7%; educação, com 17,3%; e saúde, com 13,0%. Essas são as áreas em que o Instituto CPFL mais investe, juntamente com o esporte, que na lista da BISC figura na sexta posição, com 4,7%. Isso também nos leva a acreditar que estamos acertando nas escolhas e na metodologia de trabalho.
Mas, há um aspecto importante e que não pode ser negligenciado por quem decide investir na área social: a continuidade. É importante lembrar que as pessoas atendidas por essas iniciativas dependem muito dos serviços oferecidos, especialmente num momento de dificuldade econômica e desemprego. Passamos por isso, recentemente, em um cenário que foi agravado pela pandemia e que ainda está em processo de recuperação.
Portanto, a atuação social também precisa considerar a perenidade dos projetos selecionados, a fim de que o impacto positivo seja realmente significativo e transformador. O futuro melhor, que tanto almejamos, precisa começar agora, com investimentos que contribuam para a redução das desigualdades e sabemos que nada disso acontece do dia para a noite, por isso, o poder privado precisa e deve fazer a sua parte.
Há 13 anos, apoiamos a ORCAMPI, um projeto social que usa o atletismo para a inclusão social de jovens e adultos em Campinas (SP). Ao longo desse tempo, testemunhamos inúmeros bons resultados em diversas competições, inclusive nas Olimpíadas de Tóquio, realizadas em 2021, onde três atletas da ORCAMPI foram convocados para representar o Brasil na equipe de atletismo. Além deles, dois integrantes da comissão técnica da ORCAMPI também foram convocados. Este resultado é importante sim, mas, mais importante são as histórias desses jovens que foram construídas fora das ruas, da violência e de tantas mazelas que podem acometê-los ao longo da vida.
Mas isso seria possível sem investimento social privado? Estes atletas estariam em outras equipes? Eles ainda teriam visibilidade sem o trabalho do projeto e sem o nosso apoio? Eu não tenho essa resposta. É um cenário que eu não posso prever. Todavia, eu acredito categoricamente que esse seja um caminho possível.
As desigualdades precisam ser o fator que nos impulsiona em direção da transformação verdadeira, essas que realmente mudam uma realidade. E a gente tem que acreditar nisso, precisa vir de dentro, começar por nós. Por isso, vivenciar a realidade das instituições sociais é fundamental para engajar pessoas. Com foco nisso, olhamos para dentro e, ao mesmo passo que apoiamos o engajamento social externo, provocamos essa transformação a partir dos nossos colaboradores.
Isso pode acontecer através de um programa de voluntariado corporativo. No Instituto CPFL temos o Semear, que tem proporcionado, para centenas de colaboradores, a experiência do impacto social com ações que vão desde o assistencial, com arrecadação de insumos; até a ação voluntária, com reformas, plantios de hortas, manutenção e recreação nas entidades assistidas pelo programa.
Olhar para dentro, para olhar para fora também é uma alternativa de ISP eficaz. É uma atuação de troca, escuta e compartilhamento de valores com a comunidade. Acho que esse é o futuro disruptivo de que precisamos: fortalecer nossa cadeia de valor com as pessoas no centro da estratégia, gerando impacto social positivo e engajando comunidades em prol disso. Temos colocado a nossa energia nestes objetivos e assim continuaremos.
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