Empresas ainda avaliam participação na COP30, aponta pesquisa Comunicação e Engajamento Empresarial na COP30

A pesquisa “Comunicação e Engajamento Empresarial na COP30”, realizada pela Aberje, foi apresentada em um evento especial na última segunda-feira (05), na sede da entidade, em São Paulo. Com o objetivo de mapear a prontidão das organizações brasileiras para a conferência, que será realizada em Belém (PA), o levantamento reuniu respostas de 104 empresas, de diferentes portes, setores e regiões do país. A maioria das participantes (80%) é composta por organizações privadas, sendo 49% multinacionais e 31% nacionais.
Além da apresentação dos principais achados da pesquisa, o evento contou com um debate entre Isabela Morbach, presidente do Instituto Bem da Amazônia e diretora da CCS Brasil; Grazielle Parenti, vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Syngenta; e Fábio Toreta, chefe da Assessoria Especial de Comunicação Social do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima; mediado por Mônica Alvarez, gerente de Comunicação Corporativa na Alubar Global Management e diretora do Capítulo Aberje Amazônia.
Sustentabilidade entre as prioridades, mas com pouca presença nas COPs
Na abertura, Carlos Ramello, responsável pelo Núcleo de Pesquisas da Aberje, apresentou alguns resultados da pesquisa, que revelam que a sustentabilidade já figura entre os principais temas estratégicos das empresas brasileiras: 15% das organizações participantes indicaram que o tema é sua prioridade máxima, enquanto 47% o incluem entre as três principais prioridades corporativas.
Entre as empresas que já participaram das COPs, 37% estiveram presentes em mais de uma edição, enquanto 11% compareceram apenas uma vez. Em relação à COP30, 44% das organizações ainda estão avaliando se irão participar. Por outro lado, 12% já decidiram que não estarão presentes no evento em Belém. Para aquelas que não estarão fisicamente no evento, 70% afirmaram que pretendem se engajar com o tema da crise climática em 2025. Ainda, 52% das empresas nunca participaram presencialmente de nenhuma edição das conferências do clima.
A pesquisa também mostrou que, nas organizações que planejam participar da COP30, estarão presentes majoritariamente profissionais de Sustentabilidade (88%) e de Comunicação (48%), além dos CEOs (47%).
A importância de ocupar o espaço e comunicar com profundidade
Durante o debate, os participantes reforçaram a necessidade de ocupar os espaços de discussão sobre clima com consistência técnica e comunicacional. Para Isabela Morbach, o evento em Belém representa uma oportunidade ímpar de qualificar o diálogo sobre sustentabilidade no Brasil e, especialmente, sobre a Amazônia.
“O Instituto Bem da Amazônia surgiu de uma discussão entre jornalistas que queriam abordar a sustentabilidade para além do clichê. Queremos comunicar sobre a Amazônia sem cair em representações caricaturais”, explicou. Segundo ela, o Instituto tem investido na formação de jornalistas sobre mudanças climáticas e organizado ações como a Jornada COP+, com o objetivo de construir um espaço de debate qualificado. “A COP vai acontecer na Amazônia, mas não é a ‘COP da Amazônia’. Nosso papel é integrar a indústria a essa discussão e apoiar programações paralelas diante da limitação de credenciais na Blue Zone”, afirmou.
“A COP é uma viagem cara. Por isso, é importante enviar alguém sênior, que tenha repertório para participar das discussões”, afirmou Grazielle Parenti, da Syngenta. Com base em sua experiência na Rio+20 e na COP26, em Glasgow, ela lembrou que a presença nos eventos exige planejamento e critério.
Ela também chamou a atenção para a importância de o Brasil assumir protagonismo no debate climático. “Não é à toa que a COP30 será no Brasil. Em 2024, o G20 aconteceu aqui e, em 2025, os BRICS também se reúnem no país. Ainda existe uma visão exótica sobre o Brasil por parte de muitos países do hemisfério norte, então temos que evitar nos prender a temas pitorescos e buscar uma participação qualificada”.
Comunicação como aliada e sustentabilidade como negócio
Fábio Toreta destacou que o momento atual é de emergência climática e que a implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira demanda esforço conjunto entre sociedade, empresas, cidades e estados. “A política brasileira, com a NDC, precisa ser implementada por toda a sociedade. A comunicação entra nessa agenda também pela perspectiva da reputação”, afirmou.
“Hoje precisamos acelerar a implementação da NDC. Isso exige ação, mudança de paradigmas e o envolvimento efetivo das organizações”, pontuou Toreta, explicando que as conferências climáticas têm evoluído desde a Eco 92, deixando de ser apenas eventos diplomáticos e ganhando relevância como espaço de negociação e pressão por compromissos.
A cobrança por transparência é outro fator que impulsiona o engajamento empresarial. “As empresas já são cobradas por isso. Há um movimento para relaxar compromissos ambientais, que começou nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, e é justamente por isso que o setor corporativo deve se posicionar com firmeza”, acrescentou.
“Sustentabilidade é um movimento que já começou e não pode ser interrompido. É um negócio e precisa ser encarado como tal. A COP acontece muito além dos dias do evento, e o interesse das empresas mostra que o tema é uma prioridade”, enfatizou Grazielle Parenti. Ela afirmou que a agenda climática não deve ser tratada apenas como uma demanda reputacional e que a sustentabilidade deve ser tratada como pilar estratégico para os negócios.
A executiva destacou ainda o papel do agronegócio na transição climática e no posicionamento do Brasil diante da comunidade internacional. “Temas como transição energética e agricultura são fundamentais para o país e podem ser uma oportunidade para o Brasil se posicionar”, explicou.
“As leis que interessam já estão aprovadas. Agora é hora de discutir como implementar, adaptar e financiar essas medidas”, afirmou Isabela Morbach. Ela reforçou que o país precisa aproveitar a visibilidade da COP30 para apresentar suas fortalezas. “Neste ano, estamos fazendo nosso dever de casa. Já sabemos quais são nossos diferenciais, como os biocombustíveis”, concluiu.
“Precisamos pensar na preservação como oportunidade econômica”, concordou Fábio Toreta. Ele mencionou que o governo federal já lançou iniciativas voltadas ao financiamento de projetos de preservação ambiental e recuperação de áreas degradadas. “É importante lembrar que esse financiamento é investimento, não doação”, ressaltou.
Destaques
- Liderança comunicadora ainda enfrenta desafios na comunicação interna
- Diretor-executivo da Aberje analisa impasse entre o senador J.D. Vance e o Papa Leão XIV em artigo n’O Globo
- COP30 exige nova cultura comunicacional, defendem executivos da Aberje em artigo no Anuário da Comunicação Corporativa
- Turmas de Jornalismo da UEL recebem diretor de capítulo Aberje Brasília para Roda de Conversa
- Em artigo no Valor Investe, Sonia Consiglio analisa papel da comunicação na COP30 e destaca pesquisa da Aberje
ARTIGOS E COLUNAS
Paulo Nassar COP30: Comunicação como herança, consciência e potência políticaCarlos Parente A comunicação que transcendePablo Assolini Nem conteúdo demais, nem de menos: qual o ponto de equilíbrio entre visibilidade e relevância?Rizzo Miranda ESG, COP30 e D&I: os antídotos para sua reputação em tempos de incertezasLeila Gasparindo Construir uma Marca Empregadora é missão conjunta de Comunicação, Marketing e RH