30 de outubro de 2023

Paulo Nassar participa do Sinapse CI de outubro, encontro que debateu influência das histórias para a cultura organizacional

O Sinapse CI – projeto especial do Sinapse Conteúdos de Comunicação em Rede em parceria com a P3K Comunicação, fornecedores associados à Aberje – promoveu em 20 de outubro de 2023 em ambiente online, a discussão “Cultura são Histórias”. Estiveram presentes 46 profissionais de sete diferentes estados para ouvir a professora da Escola Aberje e mentora Marlene Marchiori; Paulo Nassar, Diretor-Presidente da Aberje e Professor Titular da ECA/USP; e Elizeo Karkoski, Diretor Executivo da P3K Comunicação. A mediação foi feita por Rodrigo Cogo, Diretor do Sinapse. A proposta foi discutir a relevância das histórias na cultura organizacional das empresas, a ponto de poder moldá-la, estimulá-la ou até mesmo boicotá-la.

“A participação das pessoas, a sua realidade e as suas vivências, é o que forma a cultura de uma organização. A presença ativa de todos, a troca de experiências, em jornadas mais participativas, forma o que é uma empresa – que inevitavelmente estará em constante transformação, assim como as suas pessoas.” Dessa maneira, Marlene Marchiori, mentora em Comunicação, Cultura e Estratégia, iniciou a sua participação, com a importância das pessoas na construção da cultura.Marlene vê duas formas de se enxergar a cultura nas empresas: cultura variável – o que a organização possui – e cultura metafórica – o que a organização quer ser. Com isso, desejava demonstrar que a empresa deve pensar além da missão, visão e valores, pois é a história e a memória das pessoas que formam e dão sentido à cultura organizacional. Segundo a mentora, a história oral traz o ser humano em sua constituição e, por meio dos relacionamentos formados, a cultura organizacional ocorre de forma processual, e não mecânica. Com isso, ao enxergar as pessoas nesse movimento orgânico, há uma mudança de postura nas organizações, que passam a construir as narrativas considerando todos aqueles envolvidos na empresa.

Afinal, são as pessoas que constroem a realidade da organização, criam as histórias e, consequentemente, a cultura. Portanto, para Marchiori, a presença do sujeito no processo, com a participação nas experiências, é fundamental para o fortalecimento de uma cultura organizacional eficaz.

Alinhado à essa premissa, de fato, as empresas estão deixando de ter uma postura controladora para uma postura participativa, ao ver a sociedade se posicionando cada vez mais como co-criadora das narrativas organizacionais. Segundo Marlene, precisamos ver a cultura como movimento que se constitui e se reconstitui a partir das pessoas. Assim, é fundamental vivenciá-la. É a partir destes movimentos que conseguimos observar a mudança, a sua evolução. Portanto, cultura não é algo enraizado, que não se modifica ao longo do tempo.

A cultura se forma a partir das pessoas, requer a presença delas. A história oral traz para a gente o ser humano. Os nossos discursos genuínos são luzes para a própria construção da cultura. É preciso ampliar o olhar sobre a cultura, pois são as nossas histórias que dão a condição autoral” finaliza Marchiori.

Paulo Nassar começou por referências de livros, artigos e cases, lembrando por exemplo da frase do filósofo francês, Paul Ricoeur: “A narrativa é um artefato da linguagem que organiza a nossa presença no tempo e no espaço”.

Explicando que essa frase também se aplica ao universo da comunicação nas organizações: um “artefato” traz na origem da palavra o “autoral, artesão, artista e arte”, que demonstra que toda narrativa possui um sujeito que a cria; e o “nossa presença”, pode ser aplicado ao indivíduo, a um território, ou a uma empresa. Ele então comentou sobre a capacidade que a narrativa também possui para desorganizar a nossa presença no tempo, no espaço e nas memórias das pessoas – através de, por exemplo, desinformação. Afinal, a entropia e a desorganização da informação podem ser avassaladoras em um processo de comunicação.

Reforçando que a narrativa é um patrimônio humano – pois sem ela, não teríamos vínculo nenhum – e a importância de resgatá-la, Nassar descreveu alguns tipos de narrativas organizacionais: narrativas abrangentes (aquelas que costumam vir das pessoas que criaram a empresa); narrativas do cotidiano (ligadas ao dia a dia e ao operacional); e micronarrativas (individuais e vindas da experiência de cada colaborador); demonstrando o quanto são centrais na realidade da Comunicação Interna.

Para Nassar, toda narrativa é um discurso, pois possui intenção, e é criada a partir das experiências das pessoas, que são correlacionadas às suas memórias. Afinal, se não temos experiências de vida, como vamos falar em memórias? Portanto, devemos contar com as histórias do cotidiano, as micronarrativas e os depoimentos dos sujeitos. Porém, para termos uma narrativa efetiva, também precisamos entender a existência do déficit de atenção constante dos nossos públicos, que diariamente são expostos à informação em excesso, dividindo a atenção o tempo inteiro. Por isso, Paulo Nassar considera os que trabalham com comunicação verdadeiros ‘cientistas da narrativa’.

Portanto, o papel do profissional de Comunicação Interna é, de fato, criar experiências que gerem memórias, trazendo a fixação das mensagens e o sentimento de pertencimento. Complementando, ele defende que os rituais nas organizações, criados num tempo e espaço singulares, e separados da “loucura em que a gente vive”, são os que melhor transmitem e reforçam a cultura – nos ajudam a criar vínculos, celebrar e aprender em conjunto.

Finalizando a sua participação, Nassar trouxe uma reflexão através da etimologia da palavra ‘cultura’, explicando que a sua origem vem da agricultura e do cultivo das plantações. E, nas organizações, é necessário o mesmo cuidado: cultivar narrativas e adaptá-las à cultura adequadamente, como por exemplo em casos de fusões e reestruturações de empresas.

A cultura de uma organização desempenha um papel fundamental na determinação de sua identidade, imagem, confiança e sucesso. Mas o que é cultura organizacional? É muito mais do que apenas uma lista de valores escritos em um papel ou expressos em formas audiovisuais ou digitais. É uma trama narrativa rica e complexa que abrange uma série de elementos interconectados, incluindo mitos, rituais, narrativas de origens, narrativas de sonhos e desejos, inovações e até mesmo os fracassos da empresa. É um tecido vivo que se manifesta no cotidiano das pessoas da organização, projetando o passado, o presente e o futuro”, encerra Paulo.

O terceiro convidado do bate-papo, Elizeo Karkoski, Diretor Executivo da P3K Comunicação, contribuiu com o encontro contando um relato real: a história da criação da agência e a sua jornada de 15 anos, celebrados no mês de outubro.

Com o desejo de apoiar organizações no desenvolvimento de bons ambientes de trabalho – com bons relacionamentos – e na transmissão de cultura, no acolhimento às suas pessoas e compartilhamento dos valores e princípios, bem como muitos outros pontos importantes desta jornada do colaborador, nasceu a P3K Comunicação.

Através de confissões de vulnerabilidade e de relatos de transformação, Elizeo demonstrou na prática a importância de escutar as histórias das pessoas, acolhendo-as, e sustentando a sua jornada dentro da empresa, se preocupando em proporcionar uma atração constante dos talentos, valorizando-os e dando-lhes oportunidades. Afinal, em sua experiência, percebeu que a cultura organizacional vem justamente das pessoas que trabalham nas empresas. “A empresa foi crescendo com sua cultura inerente e em 2018 passou por um processo de transformação, no qual definimos valores, diretrizes e ritos. Mas a peça central de tudo realmente foram as nossas pessoas. Não podemos impor que o propósito da P3K seja o propósito das pessoas, mas a cultura demonstra o propósito na prática. Percebemos isso quando as pessoas começaram a criar os próprios ritos – como chamar a nossa sede de “P3Kasa”, carinhosamente. A passagem pela P3K faz parte das histórias das pessoas e ficamos alegres em ver que a nossa narrativa é transmitida até mesmo em processos seletivos e entrevistas, já que todos que trabalham aqui se identificam genuinamente com o nosso jeito de ser”, compartilhou.

Além disso, Elizeo também reforçou a importância do walk the talk e de uma comunicação bottom up, pois todos, inclusive a liderança, precisam estar cientes e demonstrar a cultura e os valores no dia a dia. “Acredito que tratar a Comunicação Interna estrategicamente é primordial para o sucesso do negócio e para a perpetuidade da organização que, para alcançar resultados efetivos, precisa investir em sua cultura organizacional, de modo que todos possam vivenciar as crenças, os ritos e o próprio jeito de ser da companhia. Isso é algo que levo para os clientes e, claro, para a P3K”, complementou.

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