08 de dezembro de 2022

Inclusão de pessoas com deficiência no mercado é tema de evento da Arcos Dorados, apoiado por Aberje e Estadão

Especialistas e portadores de deficiência falaram sobre empregabilidade e inclusão no mercado de trabalho

Para celebrar o Dia da Pessoa com Deficiência, no dia 5 de dezembro, o Fórum Inclusão em Foco promoveu uma conversa sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Liderado pela Arcos Dorados, empresa responsável pela operação do McDonald’s no Brasil e em 19 países da América Latina e Caribe, em parceria com a Aberje e Estadão, o evento – realizado no Teatro Renaissance em São Paulo –, recebeu especialistas, empresas e influenciadores que contribuem para superar os desafios do preconceito e ampliar as oportunidades para a potência das pessoas com deficiência. 

Na ocasião, o presidente da Divisão Brasil da Arcos Dorados, Rogério Barreira, ressaltou a importância de se falar sobre o tema Inclusão. “Não basta trazermos pessoas, não é suficiente. O importante é como a gente inclui essas pessoas dentro do negócio, para que elas sintam que fazem a diferença”, salientou.

Mediado pelo jornalista do Estadão, Luiz Alexandre Ventura, o primeiro painel, intitulado Desbravadores da Inclusão, trouxe a realidade das pessoas com deficiência no Brasil. Como a sociedade observa a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, quais são os avanços e as barreiras atuais?

Vinícius Rodrigues, Djalma Scartezini e Luiz Alexandre Ventura

O psicólogo e comunicador Djalma Scartezini, sócio e COO da Egalitê Inclusão & Diversidade, lembra que o começo do avanço empresarial se deu a partir de 1991 com a Lei de Cotas. “Temos meio milhão de pessoas com deficiência contratadas no Brasil e mais meio milhão para poder avançar. Há 20 anos estamos discutindo a atração dessas pessoas no mercado de trabalho, mas e depois?”, indagou. “Para mim, incluir é entrar em relação com as pessoas, não é só fazer uma inserção, incluir é, de fato, ouvir a história de cada um e fazer vínculos com as pessoas”, salientou.

Em sua visão, há uma grande falta de informação de um lado e o medo de se relacionar com um deficiente do outro. “Perguntar se a pessoas precisa de ajuda é bom e aceitar se ela não quiser ajuda também. A resistência no mercado de trabalho é se a pessoa com deficiência vai performar bem, é importante acreditar que por trás da deficiência existem potencialidades, competências técnicas e comportamentais”, argumentou Scartezini. “A deficiência comunica, talvez, uma inabilidade física, não cognitiva”, completou.

Atleta paralímpico, recordista mundial e ex-funcionário do McDonald’s, Vinícius Bellator Rodrigues, entende que mesmo com deficiência, cada um tem sua habilidade. “Cada tipo de deficiência que vejo nas pessoas me mostra que cada um tem a sua habilidade. Aprendi a valorizar as coisas simples e o fato de eu ter virado atleta me fez gostar de desafios; eu trabalho com metas altas”, contou. “O esporte me proporcionou conhecer vários lugares do mundo. Com uma perna eu cheguei em lugares que eu não imaginei que chegaria com as duas”, complementou. 

Por um mercado mais inclusivo

Na sequência, durante o painel Atuação das empresas por um mercado de trabalho mais inclusivo, o diretor de Gente, Diversidade e Inclusão da Arcos Dorados, Fábio Sant’Anna, destacou que inserir uma pessoa dentro de uma cultura verdadeiramente inclusiva faz a diferença. “Somos uma país de mais de 200 milhões de habitantes e quase um quarto da população brasileira têm algum tipo de deficiência, ou seja, mais de 45 milhões de pessoas. Mas, infelizmente, vivemos um paradoxo de uma sociedade que gera empregabilidade para cerca de 1% dessa população. Esse é um retrato que precisamos mudar”, frisou.

“Há mais de 30 anos, muito antes da Lei de Cotas ser promulgada, a gente já tinha, como Arcos Dorados, essa consciência. Mas esse é um processo que a gente não faz sozinho. Nossa experiência, ao longo do tempo, foi fazendo parcerias, atuando com aliados, para tornar melhor, não só a nossa capacidade de inserção dessas pessoas, como também aprender boas práticas tornando essa experiência de inclusão cada vez melhor”, disse Sant’Anna.

Guilherme Magalhães, Marília Tocalino, Fábio Sant’Anna e Luiz Alexandre Ventura

Para a coordenadora da iniciativa Bayer “Educação para #vidamelhor”, especialista em D&I, Marília Tocalino, o primeiro passo é ter ciência de que diversidade, equidade e inclusão não é um tema de uma área específica nem apenas da alta liderança. “Precisa ser um pilar estratégico de negócio. Assim como temos todos os outros pilares que suportam a sustentabilidade do nosso negócio, esse é um tema-chave para que a gente consiga se manter como uma empresa sustentável”, destacou. “Todos os processos devem ser permeados por essas questões. Não podemos tratar apenas de atração, temos que olhar para a retenção e para o desenvolvimento de carreira dessas pessoas”.

“A diversidade é um fato. O que vai nos levar à frente é escolher incluir, pois incluir é uma ação e a gente precisa agir para incluir”, complementou Marília, ressaltando a importância de uma cultura inclusiva que envolva e permeie todos os nossos negócios de uma organização. “Este é um trabalho contínuo e de várias frentes diferentes. Na base da pirâmide, temos a etapa de conscientização e educação e, à medida em que vamos evoluindo, vai havendo comprometimento, atração e prática. Isso precisa vir tanto da base quanto da liderança, que precisa estar comprometida a fazer a mudança, senão não acontece”, analisou Marília.

Na ocasião, o gerente de Comunicação Corporativa da Meta para América Latina, Guilherme Magalhães, contou sua experiência como líder de um projeto contínuo de inclusão e acessibilidade dentro da empresa a qual representa. “Um ponto importante quando a gente pensa em liderança, é a relevância que os grupos de afinidades têm ganhado cada vez mais. Eu faço parte da liderança do grupo de afinidades de pessoas com deficiência, e acho que esta é uma função em que é possível influenciar diretamente a alta liderança da empresa, contribuindo com ideias e soluções que vão afetar os negócios”, destacou. “Olhar para essa questão da liderança sob o ponto de vista do papel que esses grupos de afinidades têm cada vez mais dentro das empresas é bastante importante”.

O executivo deixou claro que quando se fala de acessibilidade não se deve pensar só em pessoas com algum tipo de deficiência. “Tudo o que implementamos e tem a ver com acessibilidade acaba beneficiando a todos. As rampas que a gente vê beneficiam não só cadeirantes, mas também outras pessoas; como o shampoo com a tampa para cima e o condicionador com a tampa para baixo, isso foi feito para ajudar pessoas com deficiência visual que não conseguiam distinguir um do outro, uma solução que também beneficia todo mundo”, exemplificou.

É preciso acolher e capacitar

O painel Não basta contratar, é preciso acolher e capacitar, contou com a participação de Julie Goldchmit, de 25 anos e que somente aos 15 foi diagnosticada com o transtorno do espectro autista, trabalha como analista de marketing em uma multinacional e lançou o livro “Imperfeitos”. Além dela, participaram o gerente de Gente, Diversidade e Inclusão da Arcos Dorados, Leandro Corrêa, e o executivo de Negócios do Instituto Jô Clemente, Flávio Gonzalez.

Na oportunidade, Leandro Corrêa contou que, na Arcos Dorados, procura-se conhecer os talentos a partir de seus objetivos individuais de carreira e do seu nível de prontidão para assumir os desafios. “Além disso, há um forte investimento em treinamento para gerar ainda mais oportunidades para as pessoas com deficiência e para impactar na experiência delas. Para garantir essa experiência, nós contamos com um time multidisciplinar”, comentou.

Flávio Gonzalez, Leandro Corrêa, Julie Goldchmit e Luiz Alexandre Ventura

“No momento da seleção, que talvez seja um dos mais excludentes, nós nos concentramos em identificar os valores importantes e necessários para a nossa cultura, como respeito, trabalho em equipe, a valorização das diferenças e também o incentivo à inclusão”, destacou Corrêa. “Nós acreditamos que as habilidades podem ser treinadas e com isso contribuímos para que essas pessoas saiam da invisibilidade profissional, se sintam acolhidas no mercado de trabalho e possam se desenvolver com a gente”.

Para que se sintam realmente acolhidas no mercado de trabalho, pessoas com algum tipo de deficiência podem se beneficiar da Metodologia do Emprego Apoiado, recebendo apoio técnico no próprio local de trabalho e o suporte necessário para sua efetiva inclusão e permanência no emprego. 

O Instituto Jô Clemente conta um programa de grande efetividade na inclusão profissional de pessoas com deficiência intelectual. Flávio Gonzalez salientou que o emprego apoiado nasceu a partir de duas premissas: (1) toda pessoa pode trabalhar desde que se ofereça apoio e (2) a inversão da lógica: ao invés de qualificar para incluir, é incluir para qualificar.

“Historicamente, as pessoas ficavam dez anos em qualificação para quem sabe um dia conseguir um emprego. Em 2013, nós encerramos esse modelo e passamos a adotar o emprego apoiado como metodologia. Basicamente é a ideia de que é preciso fazer um trabalho pós-colocação, pois existem muitas pessoas excluídas não só do trabalho, mas no trabalho”, frisou Gonzalez.

Influenciar para incluir

O último painel do evento intitulado Influência para Inclusão contou com a participação da atriz e digital influencer, Paola Antonini; da expert em beleza e estilo, criadora de conteúdos, Lorrayne Carolyne; do criador de conteúdo, ator e tradutor de libras, Gabriel Isaac; e do criador de conteúdo do canal Virei Adulto, Matteus Baptistella. Na oportunidade, eles contaram como foram suas trajetórias no ambiente digital.

Lorrayne Carolyne; Mariana Augusto, gerente de Comunicação da Arcos Dorados; Paola Antonini; Matteus Baptistella e Gabriel Isaac

Exemplo de superação para milhões de seguidores em suas redes sociais, Paola Antonini conquistou o carinho do público com sua história de vida – ela sofreu um acidente há oito anos e perdeu uma das pernas – e possui parcerias de sucessos com grandes marcas no mercado publicitário. “Minha vida mudou de uma hora pra outra. Além da mudança física, aconteceu uma mudança interna muito grande e quis mostrar pra todo mundo que estava tudo bem, foi aí que comecei a postar algumas fotos e vídeos”, contou.

A criadora de conteúdos PCD Lorrayne Carolyne inspira milhares de seguidores em suas redes sociais mostrando que sua condição física é apenas uma característica não-limitadora. Ela fala sobre comportamento, racialidade e empoderamento feminino. “Eu nasci com deficiência, tenho 120 fraturas pelo corpo, mas isso nunca me impediu de ser quem eu sou. Comecei na internet muito sem querer, postando algumas fotos e as pessoas começaram a pedir dicas sobre o meu cabelo e eu entrei nessa onda incentivando outras meninas a se amarem da forma que são”, disse.

Ao utilizar as redes sociais para desmistificar como é a vida de uma pessoa com nanismo, o criador de conteúdo Matteus Baptistella leva humor e leveza aos seus seguidores através de seus conteúdos focados em gastronomia, humor, comportamento e diversidade. “Sou formado em Economia, e aos 17 anos fui morar sozinho. É comum as pessoas te julgarem pela aparência e as redes sociais me ajudam a conscientizar pessoas com deficiência que elas podem ser quem elas quiserem”, disse.

Assim como Baptistella, o ator, criador de conteúdo e tradutor de libras, Gabriel Isaac, se utiliza das redes sociais para falar sobre diversidade, entretenimento e comportamento, por meio de libras. No dia a dia, ele mostra como é ser uma pessoa com deficiência auditiva em uma sociedade ainda preconceituosa. “Comecei a postar conteúdos para disseminar o que significa a comunidade surda. Se estou em algum lugar e chego para conversar com alguém, a pessoa já entra em pânico e foge de mim. Mas é só a minha linguagem, a gente só tem línguas diferentes. Quero ser um modelo para as crianças e as redes sociais me ajudam a disseminar tudo isso”.

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