21 de junho de 2010

Paulo Nassar fala sobre mestiçagem e comunicação na Universidade Sorbonne

A Universidade Sorbonne receberá, nos dias 22 e 23 de junho, a conferência anual “Journées Du Ceaq 2010”, organizada pelo Centre d’Études sur l’Actuel et le Quotidien (CEAQ), centro de estudos fundado pelos professores da instituição, Michel Maffesoli e Balandier, que terá a participação do diretor geral da Aberje e professor da ECA-USP, Paulo Nassar, que inicia a mesa redonda “Brésil Postmoderne”, comandada pelo anfitrião Maffesoli, com a palestra “Imaginaire identitaire”, que  discute a miscigenação brasileira, exemplo aos europeus.

Nassar analisa a importância do debate, defendendo que “neste momento, o mundo tem um grande interesse sobre o Brasil e essa mesa redonda privilegia a identidade brasileira. Dentro desse contexto, minha contribuição é refletir sobre a construção da identidade mestiça brasileira, que é um tema de grande interesse aos europeus, que ainda não conseguiram integrar a terceira geração de imigrantes. Nesse aspecto, eles têm muito a aprender com o Brasil”.

A conferência tem como tema a sociedade pós-moderna e acontece em Paris, com entrada gratuita. A programação está disponível no site do evento.


Serviço

Data: 22 e 23 de junho
Local: Salle du Conseil, 12 rue de l’Ecole de Médecine – Paris
Informações: http://www.ceaq-sorbonne.org/node.php?id=33&siteversion=3

Sobre o tema

Publicado em novembro de 2004, na revista Meio e Mensagem especial sobre Comunicação Corporativa, o artigo “Viva a mestiçagem”, escrito por Paulo Nassar, apresenta os conceitos e ideias do professor quanto ao tema. Leia abaixo:

“Viva a mestiçagem”, copyright Meio & Mensagem – especial Comunicação Corporativa,  8/11/04

“‘Comunicação Corporativa é tão importante que não pode ficar nas mãos só de comunicadores’. Para que a expressão não pareça demasiadamente depreciativa para os comunicadores tradicionais – entre eles, os relações-públicas, jornalistas, publicitários, designers -, lembre-se do tempo em que tudo o que não fosse publicidade e promoção era assunto menor nas empresas. Era o tempo de incomunicação corporativa – que pode ser sintetizado por um filmete produzido pela ditadura de Vargas, que apresenta os operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) como um exército de bonequinhos de lata, sem cara, sem expressão, puro chão de fábrica.

Com as transformações do ambiente da produção brasileira, baseada até então em commodities agrícolas e ampliada, pelas políticas desenvolvimentistas, para uma economia assentada também em bens de consumo, entre eles eletrodomésticos e carros, a comunicação corporativa começa a mudar nos anos 1950 e 1960. São nessas duas décadas que se firmam na cabeça dos fregueses brasileiros marcas, por exemplo, como Brastemp, Gessy, lâmpadas GE, Leite Ninho, Gillette, Kolynos, Maizena, Palmolive e outras. No âmbito acadêmico são criadas escolas como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Nesse contexto, de mudança na matriz produtiva brasileira, e da ênfase na comunicação de marketing surge, em 1967, a Aberje, inicialmente movida pelo objetivo humanista e de relações humanas de melhorar a comunicação voltada para o operariado, por meio de revistas e jornais melhor produzidos editorial e graficamente.

Dentre os primeiros sonhos dos aberjeanos: transformar por meio de publicações o operário braçal, objeto de uma comunicação taylorista, baseada no ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’, em operário-leitor, que pudesse compreender e valorizar mensagens além dos memorando administrativos. A ampliação da visão de processo de comunicação empresarial baseado apenas em veículos de comunicação se dá, depois de 20 anos, em 1985, com o fim da ditadura militar e a instauração da Nova República, que destampa a panela de pressão social e tem como protagonistas uma série de públicos, que não estavam nas preocupações dos empresários. O marco desse momento foi o lançamento do Plano de Comunicação da Rhodia brasileira, um documento que pregava a implantação de uma política de comunicação, alinhada à jovem democracia brasileira, e que integrava na empresa ações de imprensa, relações públicas e de comunicação de marketing. No ambiente da Nova República, seguindo o exemplo da Rhodia, a comunicação corporativa de importantes empresas ganhou um forte perfil jornalístico e teve entre as suas ferramentas de comunicação coisas como o media training, com o objetivo de treinar a alta direção para o relacionamento adequado com a imprensa.

A partir dos anos 1990, o viés jornalístico da comunicação corporativa começou a ser substituído por um enfoque de relações públicas, em função das necessidades induzidas pela democracia, pelos movimentos de reestruturação produtiva e internacionalização da economia, como a ampliação dos públicos organizacionais fundamentais, entre eles, os acionistas, imprensa, consumidores, empregados e suas famílias, sindicatos, autoridades, fornecedores, distribuidores, comunidades e organizações não-governamentais.

Além de novos públicos, as empresas e seus gestores começam a manejar outras demandas, além das ligadas ao marketing, por conta de temas em que a comunicação e os relacionamentos são fundamentais para o sucesso e reputação das empresas, como as fusões e aquisições, inovações de recursos humanos e de produtos e serviços, as mudanças nos modelos de administração, as certificações de qualidade e as responsabilidades corporativas, entre elas, as comercial, ambiental, social e histórica, no cardápio corporativo.

Questões que extrapolam, pela abrangência e impacto, as competências dos comunicadores tradicionais. E carecem, para serem bem resolvidas, de profissionais e equipes intelectualmente mestiças, com conhecimento e experiências além da comunicação, em campos como as ciências sociais, administração, psicologia, antropologia, história, direito, arquitetura, entre outros. É essa mestiçagem profissional que garante o bom futuro da comunicação corporativa. Paulo Nassar – É professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e presidente-executivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Autor de Tudo é Comunicação (Lazuli Editora).”

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