17 de setembro de 2019

Desafios da comunicação pública e o cotidiano dos profissionais foram temas de curso Aberje e ABCPública

Por Eduardo Maretti

Andrew Greenless, Eduardo Pugnali, Fábio dos Santos e Ibiapaba Netto

O primeiro módulo do Programa Avançado de Comunicação Pública, “Novos olhares, novas práticas”, que aconteceu em agosto, resultado da parceria entre Aberje e ABCPública (Associação Brasileira de Comunicação Pública), debateu e tentou responder algumas questões sobre os desafios da comunicação pública e o cotidiano dos profissionais.

Em sua abertura, o curso contou com palestras de Fábio dos Santos, ex-secretário de Comunicação da Prefeitura de São Paulo, e Eduardo Pugnali, secretário executivo da Secretaria Especial de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo. A mediação foi do diretor-presidente da Aberje e professor da USP, Paulo Nassar, Jorge Duarte, diretor da ABCPública, e Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR.

Fábio dos Santos destacou um aspecto particularmente impactante no cotidiano dos profissionais que trabalham no setor público: a Lei nº 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação. “O principal eixo em que a gente deve orientar a comunicação de governo, hoje, é a questão da transparência. Querendo ou não, as instituições são cada vez mais transparentes. Com essa lei, quase não existe mais informação produzida dentro do governo que, de alguma forma e em algum momento, não vá se tornar pública. Você tem que trabalhar considerando que aquela informação vai chegar ao público.”

Por outro lado, com as mídias sociais, as informações são sempre potencialmente públicas: estão sempre na iminência de chegar ao conhecimento da sociedade. “Se você faz uma reunião com meia dúzia de funcionários, considere que alguém está gravando, ou porque vai fazer uma ata daquilo, ou porque vai querer se manifestar nas redes sociais”, observa Santos.

O ex-secretário de Comunicação da Prefeitura paulistana aponta ainda outro aspecto relevante: os órgãos de controle. Atualmente, qualquer instituição pública séria tem uma controladoria. Além disso, o Ministério Público e o Tribunal de Contas “estão sempre em cima, ou seja, a pressão pela transparência vem de todos os lados”.

Como trabalhar a comunicação pública nesse contexto? Do ponto de vista dos profissionais de comunicação do setor público, defende Eduardo Pugnali, é essencial encarar o cidadão como um “cliente do Estado”, que espera serviços de qualidade. “A comunicação de governo tem que buscar esse olhar de prestação de serviço, que vem da comunicação no setor privado. Quando entendemos que o cidadão é um consumidor do Estado, principalmente no caso da geração mais nova, compreendemos a ideia do Estado não como um simples provedor. As pessoas querem um bom metrô, ser bem atendidas no posto de saúde, terem uma escola de qualidade e assim por diante.”

Para Santos, há um outro parâmetro indispensável: “se você é governo democraticamente eleito, quanto mais transparente você for, consequentemente mais atento, republicano e democrático você vai ser. Quanto mais transparência, é também mais fácil gerenciar crises, porque no processo de construção da transparência você consegue também construir credibilidade.”

De acordo com Pugnali, com a influência das redes sociais, o trabalho de uma equipe de comunicação exige velocidade. Por exemplo, no trato de uma determinada ação de governo que envolve a entrega de novo equipamento ou novos serviços em cidades do interior do estado. O cinegrafista faz as imagens de drone, de um evento às 11h30 da manhã. Muitas vezes em menos de meia hora um trecho do vídeo deve estar disponível. “Com isso, já disparamos para as emissoras de TV, elas podem fazer o download e colocar no ar.” Hoje, disse, a métrica é instantânea. “Não é mais o relatório, que, como a gente brincava, valia quanto pesava. Isso não vale mais nada.”

Por fim, Fábio dos Santos interveio para introduzir, segundo disse, uma polêmica em relação às redes sociais. “Elas são muito importantes, claro, mas talvez menos do que a gente acha que de fato são.” A maioria das pessoas não consome nas redes informação política, sobre governo ou econômica, observou. Elas estão “curtindo” a foto do filho, do pet, da família. Evidentemente, em algum momento, o cidadão vai ser impactado por alguma coisa relacionada às ações de governo.

Isso acontece, em sua opinião, justamente quando alguma coisa dá errado e repercute nas redes sociais, mas também, e principalmente, na imprensa tradicional. “A mídia tradicional não é a única, mas tem que ser respeitada em seu papel de grande influenciadora. O que se vê muito nas redes sociais são debates de grupos de interesse, muitas vezes guerra de robôs ou militantes virtuais, embora haja, claro, o impacto do movimento que surge nas redes.”

O próximo módulo do Programa Avançado de Comunicação Pública – módulo 2: Estratégia e Planejamento em Comunicação – acontece no próximo sábado, 21 de setembro, com os Instrutores: Cláudia Lemos e Bob Vieira da Costa.

Confira a programação completa: Programa Avançado de Comunicação Pública

*Parte 1 de 4. Confira a cobertura completa:
Parte 1: Desafios da comunicação pública e o cotidiano dos profissionais foram temas de curso Aberje e ABCPública
Parte 2: Para Janine Ribeiro, uma propaganda governamental pode ser um exemplo de como “empoderar” ou não os cidadãos
Parte 3: Curso Aberje e ABCPública debate censura e patrimonialismo na gênese da comunicação pública no Brasil
Parte 4: Para Andrew Greenlees, é preciso diferenciar dados da realidade do que é efeito de robôs ou fake news

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