Crise política domina a abertura do seminário Dialogar para Liderar
O seminário Dialogar para Liderar, promovido pela Aberje e o jornal Correio Braziliense, começou na manhã de quarta-feira, dia 24, em Brasília, discutindo a necessidade de superar a crise do Brasil por meio de uma agenda de consenso a ser construída pela discussão entre o governo e a oposição. “Nós, profissionais da Comunicação, precisamos nos envolver mais nesse contexto”, disse Álvaro Teixeira da Costa, diretor-presidente do Correio Braziliense, na fala de boas-vindas aos participantes.
“Dialogar neste momento é uma proposta desafiadora”, afirmou o ministro Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, no discurso de abertura. “Certamente o Brasil vive a sua pior crise na história recente, desde a redemocratização. Além da crise econômica, vivemos uma crise política que impede a retomada econômica, que possui origem nos episódios de turbulência da economia mundial de 2008.” O ministro chamou a atenção para o fato de que os problemas políticos brasileiros vêm à tona devido “a uma operação de investigação de corrupção” que, de certa forma, demonstra o fortalecimento das instituições da nação. “No entanto, vivemos um clima de intolerância política que se espalha para outras áreas, e se criam intolerância de religião, de gênero. É como um monstro que ameaça sair da lagoa e pôr em xeque todas as instituições”. Daí, de acordo com Silva, a necessidade do diálogo entre forças contrárias. “É o momento de o país encontrar ideias hegemônicas que movam reformas para suportar a crise econômica. Não é uma questão de governo, mas de chegarmos a uma agenda conjunta.”
(Ministro Edinho Silva. Crédito: Breno Fortes/CB – @breno_fortes)
Seguiu-se a primeira mesa, com o tema Diálogo como virtude – uma genealogia. Ela se iniciou com a conferência do professor Adriano Machado Ribeiro, da FFLCH-USP. Ele propôs um “sobrevoo sobre Atenas” para levantar as origens do discurso democrático e a contestação que o filósofo Platão faz à democracia ateniense. “O discurso democrático em Atenas visava a persuadir todos os participantes a partir de um argumento único”, disse Ribeiro. “Platão era contrário a essa ideia de democracia, a mesma democracia que havia condenado e executado o seu mestre Sócrates. Por isso, Platão propôs como solução para os impasses a prática do diálogo, que envolvia abertura para os argumentos alheios, ausência de paixão e busca de uma razão maior”. Segundo Ribeiro, se Platão estivesse vivo, odiaria as redes sociais. “Ele condenava que qualquer um emitisse opiniões, levado por paixões pessoais. Dialogar para ele era ouvir o outro e superar a opinião em nome de um argumento maior”. A lição de Platão, segundo o professor, é que o debate deve prescindir as paixões. “Só assim a sociedade pode conversar no sentido de balizar responsabilidades e nortear ações efetivas.”
(Adriano Machado Ribeiro, Daniel Mangabeira, Caio Túlio Costa, Virgínia Galvez e Eugênio Bucci. Créditos: Breno Fortes/CB – @breno_fortes)
Terminada a palestra, Caio Túlio Costa provocou os debatedores para se imaginarem propondo à presidente Dilma Rousseff uma forma de ela dialogar com a oposição e a sociedade, algo que, segundo ele, ainda não aconteceu. Para Eugênio Bucci, o governo sofre de uma falta de coordenação na área de Comunicação. “Isso começa pela presidente”, afirmou. “Sou contra o impeachment de Dilma. Mas ela precisa estabelecer um diálogo urgente com a oposição. Quando ela assumiu o segundo mandato, prometeu chamar os opositores ao diálogo, mas não citou o nome de Aécio Neves.” De acordo com ele, os governos e os partidos usam o dinheiro público para “martelar na cabeça da população” slogans que visam a impor ideias, em vez de discuti-las. “Dilma precisa dialogar com a oposição”, disse. “Quem detém o poder tem a obrigação de fazer isso.”
Daniel Mangabeira respondeu à provocação de Costa, sugerindo a Dilma que ela implemente uma estratégia de comunicação fundada no conteúdo e na racionalidade. “Só assim conseguiremos um diálogo aberto.”
Para Virgínia Galvez, a participação do internauta nas redes sociais se transformou em um canal de manifestação e atuação concreta nos projetos do Senado. “Hoje, todo cidadão pode se manifestar”, disse. “Seria ótimo que a Dilma atravessasse (de Uber) a Praça dos Três Poderes e estabelecesse uma conversa com o Congresso Nacional.”
O seminário segue com a programação durante a tarde. A mesa 2 discutirá sobre Comunicação e os Desafios do Presente e a mesa 3 tem como tema Brasil e Democracia – Novos Paradigmas para o diálogo e a liderança.
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