03 de junho de 2021

Comunicação e desenvolvimento sustentável foi tema de webinar da DAPP/FGV

 Evento contou com palestra de Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje

 Evento contou com palestra de Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje

O tema “Comunicação e desenvolvimento sustentável: a imagem da política ambiental e das mudanças climáticas nas mídias sociais”, realizado no dia 2 de junho, trouxe reflexões acerca da opinião pública sobre questões políticas – que tem sido altamente influenciada pelas mídias sociais hoje em dia –, durante o webinar promovido pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A instituição, uma das líderes no Brasil e na América Latina, tem parceria com a Aberje no blog Democracia & Comunicação sobre democracia digital, redes sociais e desinformação.

O evento contou com a participação do governador do Pará, Helder Barbalho – como integrante do Fórum de Governadores da Amazônia Legal –, do secretário-geral da Fundação Federal Alemã para o Meio Ambiente – DBU, Alex Bonde,  também diretor do Centro para a Comunicação Ambiental; o diretor-presidente da Aberje e professor titular da ECA-USP, Paulo Nassar; o diretor da FGV-DAPP e da Escola de Comunicação da FGV, Marco Ruediger; a diretora de Fundraising do Greenpeace Brasil, Vivian Fasca, e com o jornalista da Repórter Brasil, Marcel Gomes.

Desinformação na questão ambiental

Em sua fala, o governador do Pará, Helder Barbalho ressaltou a necessidade do fortalecimento da comunicação no sentido de assegurar que se retrate a verdade a respeito do tema. “Diariamente trabalhamos com os fatos buscando corrigir a destruição que as fake news acabam trazendo, pois isso não é diferente quando a pauta é a questão ambiental. Trabalhamos com a necessidade de toda a sociedade ter, de forma racional, a consciência da importância da floresta e na contramão disso ter que discutir seja sob o aspecto institucional, seja por outros meios de comunicação, ações que fragilizam esse movimento da sociedade que deve ser na construção de desenvolvimento sustentável”, disse.

Barbalho destacou que a comunicação é fundamental para que haja uma mudança cultural na sociedade. “Na década de 1970, fomos estimulados a ocupar o lugar da floresta, agora precisamos mudar o conceito desta ocupação para que possam  compreender que é possível viver na Amazônia, é possível atuar nas atividades do agronegócio, por exemplo, preservando o meio ambiente. Não podemos apenas corrigir os efeitos, mas também discutir as causas”, enfatizou. 

O governador ainda ressaltou que não se combate o desmatamento sem comando-controle e fiscalização, mas não se faz apenas com isso, sendo fundamental ir além como, por exemplo, por meio do Plano Amazônia Agora, concebido pelo Governo do Pará com diversas instituições e ongs parceiras. “Não queremos somente fazer a repressão, queremos discutir a regularização, facilitar o acesso ao crédito, estimular a bioeconomia e as atividades rurais que são sustentáveis e que possam fazer a recomposição das áreas degradadas”, acentuou.

“Queremos provocar, nos debates em âmbito nacional e global, que a maior perspectiva de eficácia dessa estratégia é que a floresta em pé seja vista sob o ângulo da necessidade para o equilíbrio climático e da vida, mas temos que ir mais adiante, fazer com que a floresta em pé se transforme numa commodity e passe a ser uma ativo econômico de uma propriedade para que os serviços ambientais sejam efetivamente precificados, entendo que será a ‘virada de chave’ para que possamos preservar seja a Amazônia, seja o que temos de estoque ou excedente de reserva legal, cerca de 23 milhões de hectares”, relatou.

Na visão do secretário-geral Alexander Bonde da Fundação Federal Alemã para o Meio Ambiente (DBU) que apoia pequenas e médias empresas para que possam estar mais atuantes na proteção ambiental , a opinião pública na Alemanha desempenha um papel importante na política, seja exigindo ações ou bloqueando medidas do governo. “Na Alemanha, apoiamos os movimentos sociais feitos pelos jovens, criamos a rede Scientist for Future, temos grupos de estudantes e conseguimos apoio da indústria e da economia de forma bem intensa nas redes sociais aproveitando as plataformas. Ainda precisamos fazer mais, mas no que diz respeito à opinião pública, a situação é extremamente positiva”, contou.

Segundo Bonde, a missão da fundação é promover novos atores na sociedade e na indústria que apostem em inovação tecnológica. “15% do PIB alemão vem da tecnologia ambiental. Este é um mercado em franca expansão; o prognóstico é de que até 2030 ocorra uma taxa de crescimento anual de 7%, um potencial econômico nada desprezível. Isso fornece uma outra visão: é realmente a situação em que todos ganham, ainda mais quando temos o apoio dos cidadãos”, completou.

Tema central na agenda das organizações

Em sua fala, o professor Paulo Nassar frisou que o tema tem papel central nas organizações empresariais de todos os portes têm em contribuir no sentido de conscientização de disseminação da mensagem de criação de valor em cima da pauta de sustentabilidade ambiental e falou sobre o desafio de se ter legitimidade perante a sociedade e da importância das diretrizes ESG nas organizações.

“A novidade deste tema que está com uma nova embalagem, é o mercado financeiro que entra fortemente nisso e, ao se expandir, traz algo que muito nos preocupa que é a atuação do que a gente chama de indústria das relações não públicas que movimenta cerca de 78 bi dólares por ano cujo grande produtor é a massificação da manipulação de informações”, colocou Nassar.

Em sua visão, ao romper qualquer vértice desse tripé, as organizações vão ter ameaçado e enfraquecido o que se chama de licença social para operar. “Dentro desse contexto temos um embate entre uma comunicação – que procura trabalhar a verdade e onde a estratégica é a de promover diálogos –, e as redes sociais, uma antropologia do smartphone, onde existem novos rituais de consumo, de produção e de circulação de informação que, na maioria das vezes, não segue protocolos e não pertence a uma arcabouço institucional”, disse o professor titular da ECA/USP, destacando que nesse sentido, a Aberje lançou, no mês de maio, a Aliança Empresarial contra as Fake News, iniciativa que partiu do LiderCom, grupo de líderes de comunicação corporativa associados à Aberje.

“Hoje, no debate público nas redes sociais, temos uma ampla aliança de atores da sociedade civil que cooperam estreitamente, inclusive, junto à Ciência e defendem a proteção do MA. Um dos focos desse movimento é atuar na política energética e ambiental que tem o apoio da maioria da população. Política ambiental e econômica devem andar juntas, uma reforça e apoia a outra, uma não funciona sem a outra”, complementou. 

Na ocasião, Vivian Fasca, do Greenpeace discorreu sobre como a opinião pública brasileira recebe a temática Comunicação e Sustentabilidade. “Através de pesquisas queremos entender o quanto o campo ambientalista como um todo já conseguiu evoluir para criar essas conexão com a opinião pública brasileira tão diversa e desigual e num momento de polarização política, que faz com que a agenda ambiental e climática seja tão contaminada. E o que temos observado é que conseguimos evoluir alguns passos na questão de sua importância”, colocou. 

Pesquisa de 2020 feita pela instituição juntamente com o DataFolha mostrou que quase 90% da população brasileira considera muito importante a preservação da Amazônia, peça-chave crítica na luta para o enfrentamento da emergência climática; vemos também que os brasileiros preferem o desenvolvimento econômico com a floresta de pé. “O debate ambiental é também o debate econômico. É possível e viável o desenvolvimento sustentável inclusive em um país como o Brasil, um percurso onde não precisemos buscar o mesmo formato seguido até agora, destruindo a Mata Atlântica para ocupar o espaço do território, temos uma nova fronteira na Amazônia que pode ser preservada sem esse modelo de destruição, com preservação e desenvolvimento humano”, enfatizou. 

Quanto ao papel das mídias sociais nesse contexto, Vivian salientou que não dá para falar sobre qualquer assunto sem passar por elas onde o grande jogo político e onde a centralidade da comunicação passou a acontecer com o advento da internet. “A transformação digital opera um papel determinante e cria espaços de influência na busca de uma política ambiental positiva. O grande desafio do campo ambientalistas e da Comunicação pró-agenda ambiental e climática é simplificar a informação e amplificar o conhecimento, a informação e a conscientização da importância da preservação ambiental”, frisou.

“O brasileiro deve entender o peso que a sua decisão política, não necessariamente partidária, mas de políticas públicas em relação à política ambiental, dificilmente isso vai entrar no nosso repertório para a escolha de representantes que possam prover essa política em prol da preservação ambiental. A comunicação é fundamental para que a sociedade civil exerça seu importante papel de cidadão”, completou.

Assista à live na íntegra aqui

 

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