“Em tempos de disseminação de desinformação, o papel do comunicador responsável e transparente nunca foi tão importante”
Recebi o convite da Aberje para falar sobre os desafios de atuar em agendas ASG, especialmente em um momento em que são cada vez mais frequentes e intensos os eventos climáticos que vêm afetando a população. Em pauta, quais os aprendizados de longo prazo em termos de mitigação e prevenção de riscos? Junto disso, temos o Brasil com agendas mundiais em que a atenção se volta pra cá, como G20 e COP 30, por exemplo, com esses temas em atenção. E foi nesse contexto todo que, em setembro, tive nova oportunidade de representar a assessoria de comunicação do Banco em ações de comunicação em New York que reverberaram tanto as pautas institucionais da empresa em torno de boas práticas ASG, como na realização de negócios em reuniões com investidores e organismos multilaterais para formar parcerias e captar recursos com finalidade de preservação ambiental, especialmente no que se refere ao bioma Amazônia.
Por isso, para amplificar esse convite da Aberje para falar sobre esses desafios, resolvi convidar alguns profissionais que por lá também estiveram e trabalharam em torno das pautas ASG. Hoje, inicio com um bate-papo que tive com Karla Prado, gerente sênior de comunicação do Pacto Global da ONU – Rede Brasil. E, nos próximos dias, trarei, aqui neste espaço disponibilizado pela Aberje, novas conversas com Patrícia Marins, top voice em Comunicação de Crise, sócia-fundadora da Oficina Consultoria e autora do livro “Muito Além do Media Training”, editado pela Aberje; e também com Caio Guatelli, fotojornalista em NY e colunista na Folha de S. Paulo, que atuou na cobertura de pautas durante a Climate Week e durante a Assembleia da ONU, mais uma vez, por lá; por fim, eu mesmo trarei um relato pessoal, a partir deste convite, para falar sobre comunicação corporativa.
Bom… sendo assim, neste primeiro momento, trago essa conversa com a Karla. Ela fala sobre o desafio de comunicar sobre sustentabilidade em um ambiente desafiador de comunicação sobre o tema. Pelo segundo ano seguido, Karla Prado esteve à frente da operação de comunicação do Pacto Global na Sede da ONU, em Nova Iorque. Em setembro, foi realizado o maior evento brasileiro de sustentabilidade corporativa no mundo, o SDGs in Brazil 2024, no Delegates Dining Room, dentro da sede da ONU, em Nova York, por ocasião da Assembleia Geral das Nações Unidas, para debater o avanço das organizações empresariais e não-empresariais no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS, SDGs em inglês). Entre os destaques desta edição estão a divulgação do segundo ano do Relatório Ambição 2030, que traz os indicadores da estratégia formada por dez grandes Movimentos, criados para acelerar as metas propostas pela Agenda 2030 da ONU; e a discussão sobre a agenda ‘anti-woke’, que se opõe a uma ampla gama de questões sociais e ambientais, incluindo direitos LGBTQIA+, igualdade de gênero e étnico-racial, mudança climática, entre outros temas. Todos os detalhes disponíveis em https://www.pactoglobal.org.br. Em entrevista, ela fala também sobre como esta atuação fora do país traz dificuldades operacionais – e sobre como conseguiu superá-las – além de pontuar dicas para profissionais de comunicação que desejam atuar em formatos semelhantes. Confira os principais destaques:
Quando surgiu a oportunidade de realizar um trabalho de comunicação na Sede da ONU, em NY, qual foi o maior desafio e como buscou superar?
O maior desafio é falar com o grande público no Brasil, democratizando a sustentabilidade, furando a bolha, comunicando de forma acessível, tornando o assunto palatável e mostrando que faz parte do dia a dia das pessoas. Isso tudo por meio de visibilidade das discussões, conversas e ações em torno dos temas de um evento fora do país, em Nova York, fechado para público de representantes C-Level, de altas lideranças dos setores público e privado, representantes de organizações, formadores de opinião globais e líderes internacionais do Pacto Global da ONU. Busquei superar por meio de construção de narrativas prévias voltadas para veículos específicos, para engajar a imprensa e as pessoas em geral, dando visibilidade às pautas mais urgentes do Brasil ligadas ao meio ambiente, governança, diversidade e inclusão social. É todo um trabalho de equipe e em colaboração, que envolve duas pessoas do meu time de Comunicação, nosso time de atendimento na Inpress – nossa agência que realiza um trabalho probono -, e os especialistas com conhecimento técnico e acadêmico do time de Impacto do Pacto Global. Organização e preparação são a chave para chegar a um evento desses com tudo pronto, para ter as informações necessárias a mão e o trabalho fluir.
Quais dificuldades que imaginou que encontraria e que de fato encontrou? Como superou?
Este foi o segundo ano em que estive ‘in loco’ no SDGs e a maior dificuldade é dar conta de atendimento à imprensa, com atendimento estratégico, relacionamento com stakeholders e parceiros e conseguir atender a todas as demandas que surgem, além de estar disponível 100% para nosso CEO e porta-voz, time executivo, patrocinadores, apoiadores e tirar todas as dúvidas da imprensa. A equipe no Brasil, formada pela Inpress e meu time de Comunicação, dá todo o suporte. Mas este ano também contei com a ajuda de um frila em Nova York, um jornalista consultor de Comunicação, para me ajudar na cobertura de todas as personalidades, coleta de depoimentos, checagem e aprovação de notas, reforçando a interface com a equipe do Brasil.
O que considera um dia de trabalho produtivo em um evento como esse?
Um dia de trabalho produtivo é quando você consegue realizar tudo o que estava no seu planejamento estratégico e um pouco mais. Entender que você é útil, requisitado pelos colegas de imprensa para dar informações e elucidar vários temas, ajudando as/os jornalistas a construírem suas pautas, abordando várias temáticas. Este ano, tivemos 31 jornalistas credenciados, de 14 veículos tier 1, sendo 5 equipes de TV. Um desafio imenso, do tamanho do SDGs in Brazil, mas que ganha tração pelo meu tempo de profissão, relacionamentos construídos ao longo da carreira e, é claro, muito trabalho em equipe, trocas e colaboração.
Qual dica daria para quem está começando ou deseja realizar um trabalho de destaque como este?
Eu diria para acreditar em seu sonho e que tudo vai dar certo no final. Eu brinco com a minha equipe que é preciso “agarrar o touro pelos cornos”. Se o problema existe, não adianta você fingir que ele não está ali, ele não vai sumir. Enfrente, se prepare para resolvê-lo, resolva. Preparação também é fundamental, antecipe o que for possível, faça as apurações necessárias antes do evento, deixe prontos todos os releases, faça reuniões prévias com todos os parceiros para alinhamentos, construa material de prevenção de crise. Enfim, se organize. Na hora do jogo é só partir para o gol.
Qual o papel do comunicador na promoção das agendas do Pacto Global da ONU?
O comunicador tem um papel fundamental não só nas agendas do Pacto Global, mas em toda a agenda de sustentabilidade, na verdade em qualquer agenda. O comunicador hoje faz parte do G do ESG e atua diretamente em parceria com a Governança. É preciso pensar estrategicamente, encontrar a melhor forma de comunicar, sair da burocracia e comunicar de forma bem didática, para que a comunicação seja realmente eficaz. Em tempos de disseminação de desinformação, o papel do comunicador responsável e transparente nunca foi tão importante.
Nos próximos dias, trarei aqui as conversas com demais profissionais e relatos pessoais sobre essa atuação destacada nas agendas em NY durante os eventos ASG em ações de comunicação paralelas às agendas da Assembleia Geral da ONU, em NY. Confira aqui no Portal Aberje.
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