24 de agosto de 2015

“O grandioso vem de grão”: as pequenas atitudes que podem mudar o mundo

por Carlos Padeiro

Em evento de comemoração dos 150 anos da BASF, painel co-organizado com a Aberje reflete sobre pequenas atitudes que podem mudar o mundo

Uma multinacional referência em Química completa 150 anos de existência e viaja o mundo para celebrar essa conquista. Quem ouve essa frase pode imaginar que o objetivo das comemorações é enaltecer os resultados obtidos durante esse um século e meio de vida e ampliar seus negócios.

No caso da BASF, apenas uma parte das informações acima é verdadeira. Sim, a companhia alemã, cujo slogan é “nós transformarmos a química”, foi fundada em 1865 e tem motivos para festejar mundo afora os seus 150 anos. Entretanto, ela não usa essa longevidade e excelência para impor um modelo pronto. A BASF quer ouvir a sociedade para, a partir da troca de conhecimentos, construir um mundo melhor. Deseja se aliar a pessoas e empresas dos mais variados setores para encontrar soluções sustentáveis.

Foi esse o tom do encontro “Comunicar para transformar – pequenas atitudes que mudam o mundo”, realizado em parceria com a Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), na manhã do dia 21 de agosto, no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), em São Paulo.

Um dos convidados para a mesa temática, o Diretor-Presidente da Aberje Paulo Nassar citou que a palavra “grandioso” vem da raiz “grão”. É da junção de pequenos gestos e iniciativas que se constrói uma grande transformação.

Vice-presidente Global de Relações Institucionais da BASF, Elisabeth Schick abriu o evento falando sobre os desafios de convencer o corpo diretivo da multinacional sobre a importância de um projeto que desenvolvesse soluções futuras para grandes problemas que a sociedade enfrenta, tais como desperdício de alimento, energia inteligente e vida urbana.

A BASF elaborou assim o Creator Space, um espaço para colaboração, onde qualquer um pode dividir e debater ideias inovadoras para minimizar problemas econômicos, sociais e de meio ambiente.

“Um executivo da BASF pode dizer: ‘por que uma ONG vai se associar a nós? Somos uma indústria química’. Do outro lado, as pessoas vão pensar: ‘não compro nada na BASF, não há razão para eu me conectar com ela’. Mas os membros da equipe de Comunicação perceberam o potencial que há no Creator Space. Estamos engajados em projetos corporativos voluntários”, comentou Schick.

“Precisamos buscar formas de pensar com outras pessoas o que não pensaríamos sozinhos. Companhias globais criam o seu próprio mundo, ficam dentro de bolhas e não enxergam o que acontece fora dela. A BASF investiu nessa conexão, e a área de Comunicação tem sido útil para a diretoria medir isso em termos de feedback, e espero que esse feedback seja extraordinário. Após os eventos, os convidados disseram que valeu a pena doar seu tempo para nos ouvir e para trocarmos conhecimento. Vale a pena fazer coisas que são relevantes para nosso público”, concluiu.

Na sequência, teve início a mesa de debates, sob o comando de Matthew Shirts, editor-chefe da Editora Abril e da National Geographic. O primeiro a falar foi Helio Mattar, Diretor Presidente do Instituto Akatu. Ele enalteceu o diálogo, a comunicação de duas vias – o ouvir e o falar. “Uma empresa de 150 anos tão bem-sucedida tem a humildade de propor o Creater Space, pois admite que não sabe tudo e precisa ouvir para criar um mundo sustentável. Ela aceita o mundo da diversidade, um mundo que de fato existe, e não um mundo de poucos dirigindo muitos”.

Professor Livre Docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Paulo Nassar tratou da necessidade de se criar canais para que as pessoas circulem suas narrativas, diante de uma sociedade tão complexa como a nossa. “O ser humano qualifica ou desqualifica seu semelhante pela narrativa. A morte social ocorre quando enquadramos as pessoas em expressões como ‘chão de fábrica’. O comunicador deve se preocupar com o detalhe, com a letra, com a palavra, com a expressão e com a imagem que usa. Devemos proporcionar algum tipo de diálogo, como uma simples caixinha de sugestões, para criar fluxos humanos.”

Jornalista e criador do site Catraca Livre, Gilberto Dimenstein destacou os espaços de convivência e a relação entre as pessoas nas cidades e criticou o hábito da imprensa brasileira de priorizar fatores negativos e não divulgar iniciativas positivas no dia a dia. “A química da vida está nos verbos. Quando há verbo, há vida. As guerras começam quando não há verbo. Quanto melhores as cidades, mais você terá a abundância do verbo e da diversidade. Isso não é só BASF, não é só jornalismo, é transformar o grão em grandioso.”

Cofundador do Educ-ação e Movimento Entusiasmo, André Gravatá contou histórias simples do cotidiano para mostrar o quanto um pequeno fato ou reflexão pode ser construtivo. “A vida urbana tem um ritmo tão acelerado que a gente não percebe a miudeza, não deixa nossa sensibilidade aflorar. Temos de resgatar a intimidade com as coisas, com a realidade, para entendê-las e fazer um sonho se desenvolver. São os grãos que dialogam com o grandioso”.

Após a fala dos debatedores, o público se manifestou com comentários e perguntas. Essa troca de ideias no encerramento permite que Elisabeth Schick volte para a Alemanha com uma certeza: o feedback foi extraordinário.

  • COMPARTILHAR:

COMENTÁRIOS:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *