01 de março de 2021

King’s Brazil Institute e Aberje fecham parceria para webinars sobre desafios globais

Em entrevista ao Portal Aberje, Vinícius Mariano de Carvalho, diretor do King’s Brazil Institute e curador dos webinars, fala sobre a parceria entre as duas instituições, a relação Brasil-Reino Unido, ciência e pauta ESG
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Em entrevista ao Portal Aberje, Vinícius Mariano de Carvalho, diretor do King’s Brazil Institute e curador dos webinars, fala sobre a parceria entre as duas instituições, a relação Brasil-Reino Unido, ciência e pauta ESG

Vinicius Mariano de Carvalho

Aberje e King’s Brazil Institute firmaram uma parceria em 2021 para uma série de debates em formato inovador, o Blended Webinars. A proposta é discutir a relação Brasil e Reino Unido no contexto dos grandes desafios globais, como a pandemia da Covid-19 e a pauta ESG. A parceria alia a atuação da Aberje, na sua missão de fortalecer o papel da comunicação e dos comunicadores, à expertise de uma das mais renomadas instituições do mundo, o King’s College London.

A curadoria é do professor Vinícius Mariano de Carvalho, atual diretor do King’s Brazil Institute e também membro do Conselho Consultivo da Aberje. O modelo dos encontros propõe que o debate ocorra em dois tempos: em um primeiro momento, os palestrantes expõem suas ideias em vídeos gravados, de forma que os inscritos tenham flexibilidade de horário para assistir ao conteúdo e enviem perguntas. Num segundo momento, haverá uma mesa-redonda ao vivo com os convidados, que debaterão os pontos levantados.

A primeira série de debates, intitulada “Brasil e Reino Unido: Diálogos e Narrativas”, terá três temas: Relações Brasil-Reino Unido pós-Brexit; Vacinas para Covid-19: ações e narrativas; ESG: um novo horizonte para finanças e negócios.

Para o primeiro encontro já estão confirmadas a participação do novo embaixador do Reino Unido no Brasil, a vossa excelência Peter Wilson, e da presidente da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil, Ana Paula Vitelli

Vinícius Mariano de Carvalho, a blended thinker 

A diretoria do King’s Brazil Institute é o posto mais recente de Vinícius Mariano de Carvalho, depois de ter sido professor na Dinamarca, de uma trajetória pouco ortodoxa. Além de ser doutor em literatura românica e mestre em ciências da religião, Carvalho é músico, tem formação técnica de eletricista, foi seminarista e tenente temporário do Exército: “Nunca me preocupei muito em construir uma carreira coerente. Na verdade, nunca me preocupei em construir uma carreira propriamente dita.”

Essa não carreira é o trajeto de formação de um educador verdadeiramente à altura das promessas de interdisciplinaridade, tão fáceis de serem verbalizadas mas tão complicadas de serem postas em prática. “Cada uma dessas formações, práticas e estudos, me ensinaram a pensar de forma múltipla, literalmente interdisciplinar”, disse. 

Um pensamento múltiplo e interdisciplinar é precisamente o que encontramos nas respostas abaixo. Seja comentando a dimensão ética e o papel educacional da comunicação e dos comunicadores, estejam eles em empresas ou no governo, ou vislumbrando as implicações epistemológicas e ontológicas das campanhas antivacinação. Seja apontando para o que ele chama de “mudanças sintagmáticas” – assim como para a coragem de enfrentar os riscos aí envolvidos – necessárias para o enfrentamento das mudanças climáticas por parte dos líderes empresariais, as vicissitudes de um processo tão complexo e como o Brexit. É impossível saber de antemão onde seu raciocínio nos levará, mas a jornada é sempre recompensadora.

Leia, abaixo, entrevista completa com Vinícius Mariano de Carvalho feita por Leonardo Paes Müller, economista doutor em filosofia e pesquisador na Aberje:

Você pode nos dar um panorama da história do King’s College London e do King’s Brazil Institute?

Vinícius Mariano – O King’s College London foi fundado em 1829 e é a segunda mais antiga instituição de ensino superior de Londres. O College foi precursor em muitas áreas do saber. Aqui iniciou a Enfermagem moderna, com Florence Nightingale. A descoberta da hélice dupla do DNA é também resultado de pesquisas de Maurice Wilkins e Rosalind Franklin, conduzidas no KCL. Também foi um dos pontos de referência na descoberta e estudos sobre o DNA. Peter Higgs, o físico que descreveu a partícula que leva seu nome, Bóson de Higgs, fez todos seus estudos no King’s. Além desses nomes, outros tantos prêmios Nobel tiveram sua formação ou vida profissional no KCL, como Desmond Tutu e Mario Vargas Llosa. Nestes quase 200 anos, o College consolidou uma agenda de pesquisa e ensino que fizeram uma das mais importantes instituições de ensino superior no mundo atualmente e referência para muitos acadêmicos. 

O King’s Brazil Institute é relativamente jovem nessa história bicentenária. Foi fundado em 2010, junto a outros chamados Global Institutes, como Índia, China, Rússia, América do Norte, Oriente Médio e African Leadership Centre. A ideia da criação dos institutos foi o de consolidar no KCL a expertise nestas áreas do mundo e fazer com que esses institutos facilitassem o diálogo e o intercâmbio acadêmico entre o Reino Unido e os países em questão. 

Nestes 10 anos de existência, o Brazil Institute já teve um programa de mestrado, recentemente agregado ao Mestrado em Global Affairs, compartilhado por todos os institutos de área. O KBI tem também um programa de doutorado em Brazilian Studies e um Joint PhD Programme com o departamento de relações internacionais da Universidade de São Paulo. Além desse portfólio de ensino, o instituto agrega pesquisas diversas em torno do Brasil e em parceria com instituições brasileiras e contribui no diálogo acadêmico entre Inglaterra e Brasil. 

Sua trajetória é bastante eclética. Você é doutor em literaturas românicas pela Universidade de Passau, na Alemanha, mestre em Ciência da Religião e Licenciado em Letras pela UFJF, mas também tem trabalhos nas áreas de ética, defesa nacional e segurança, além de ser músico. Para completar, antes do King’s College, você foi professor na Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória acadêmica e profissional pouco ortodoxa.

VM – E você não mencionou que sou eletricista formado pelo Senai, técnico em Contabilidade e também fui seminarista católico e, depois do meu doutorado, fui tenente temporário do Exército! (risos). Pois, nunca me preocupei muito em construir uma carreira coerente. Na verdade, nunca me preocupei em construir uma carreira propriamente dita. Sempre me preocupei em fazer coisas que me interessavam, em aprender algo novo. Cada uma dessas formações, práticas e estudos, me ensinaram a pensar de forma múltipla, literalmente interdisciplinar. Para mim, esse percurso de vida até agora foi também um exercício existencial que me ensina muito sobre alteridade, a entender que fenômenos devem ser vistos de maneira diversa e que não existe uma disciplina mais importante do que outra. Além de tudo, continuo tendo esse anseio por novas experiências de aprendizado.

Devo dizer ainda, sobre minha trajetória, que tive a sorte de encontrar professores, instrutores e mentores que eram entusiasmados e motivados. A eles, meus pais e irmãs, orientadores no seminário, professores que tive em toda minha vida, mestres de música, aos meus orientadores de doutorado, sou muito grato por toda a paciência e dedicação que tiveram para comigo, ensinando-me a aprender apaixonadamente. Essa lição é a mais importante e a que unifica minha trajetória até aqui, essa paixão por ensinar a aprender. Tento fazer o mesmo por meus alunos, que são também meus mestres. E talvez assim eu melhor me defina profissionalmente, um educador.

Não foi à toa, portanto, que você recebeu o Prêmio de Educador do Ano da 45ª edição do Prêmio Aberje, em 2019. Na sua opinião, qual o papel de think tanks como a Aberje, em especial, em um país como o Brasil?

VM – Esse prêmio me emocionou bastante. O recebi com um misto de orgulho e responsabilidade. Um prêmio como esse reflete uma trajetória e projeta para o futuro. Aqui a responsabilidade de continuar sendo merecedor de tê-lo recebido, de continuar sendo digno do prêmio educador do ano 2019. O prêmio fica aqui na minha mesa, lembrando-me dessa responsabilidade e do que significa ser educador.

E isso, parece-me também o papel de think tanks como a Aberje, o de manter-se constantemente, através de sua missão comunicacional, também sendo uma educadora. Por exemplo, como entender que já em 2021, há ainda pessoas – escolarizados, alfabetizados, muitas vezes com ensino superior – que acreditam que a terra é plana, que as vacinas não são eficientes e na verdade nocivas ao ser humano? Isso para citar apenas dois exemplos aberrantes. A Aberje, como todos os educadores, temos a missão de comunicar saberes, pensamento crítico e curiosidade.

E a comunicação? Como você enxerga o papel atual da comunicação nas organizações no mercado? E no governo?

VM – Parece-me que a comunicação é um desses vetores fundamentais da educação como um todo. Não vislumbro comunicação apenas como um instrumento para transmissão de discursos, planos e ideias, tanto no ambiente privado do mercado quanto em governos. Comunicação é definitivamente instrumento de estratégia e não (apenas) de propaganda. Daí sua imensa responsabilidade ética, porque transmite valores sobre os quais instituições, privadas e públicas, se constroem. Neste sentido, comunicação compartilha com educação a tarefa de ser crítica, de elaborar perguntas e procurar respostas que conduzam a uma transformação ética do mundo.

O King’s Brazil Institute e a Aberje fecharam uma parceria para um evento digital com um formato inédito, os Blended Webinars. De onde surgiu a ideia da parceria e do formato?

VM – Vimos nos últimos anos, a Aberje e o King’s Brazil Institute, desenvolvendo uma série de colaborações ad hoc. Eu mesmo estive algumas vezes na Aberje, dando palestras e participando de atividades diversas. Em 2020 fui convidado a fazer parte do Conselho Consultivo da Aberje e notamos que havia a possibilidade de estreitarmos a colaboração entre as duas instituições. Daí a ideia desta série de eventos, a partir de conversas com o Hamilton [dos Santos] e com o Paulo [Nassar, diretores da Aberje]. Pensamos que seria um bom momento para discutirmos a relação: a nossa – Aberje e Brazil Institute – e a relação Brasil / Reino Unido, tendo em conta os desafios presentes e tendo em vista o futuro. Como estamos com uma certa overdose de eventos online ao vivo, elaboramos um modelo no qual os participantes do webinar disponibilizariam suas ideias em vídeos e estes ficariam disponíveis por um tempo, para que os interessados pudessem assistir de acordo com suas disponibilidades e conveniências. Ao mesmo tempo, poderiam enviar questões e comentários pelo site e finalmente teríamos uma sessão online ao vivo com os participantes, levando-lhes as questões e comentários dos ouvintes. Todo este material constituirá um bom repertório à disposição do público, em temas contemporâneos de interesse para as relações Brasil e Reino Unido.

O primeiro evento, intitulado “Brasil e Reino Unido: Diálogos e Narrativas” está dividido em três partes, cada uma com um tema bastante atual: as relações Brasil-Reino Unido pós-Brexit, a campanha de vacinação da Covid-19 e as consequências reputacionais da política ambiental brasileira atual. Comecemos pelo Brexit. A saída oficial do Reino Unido da União Europeia ocorreu no dia 01 de janeiro de 2021, com um acordo assinado aos 45 do segundo tempo. Já é possível traçar um cenário de como será o futuro do Reino Unido no plano internacional?

VM – Há uma citação de Mark Twain, de seu livro “Following the Equator: A Journey Around the World”, publicado em 1897, que diz: “Truth is stranger than fiction, because Fiction is obliged to stick to possibilities; Truth isn’t” (“A verdade é mais estranha que a ficção, pois a Ficção é obrigada a seguir as possibilidades; a Verdade não”, tradução livre). Na verdade, este tropo já estava no canto 14 do Don Juan, de Lord Byron, onde o dissoluto diz: 

“Tis strange – but true; for truth is always strange;
Stranger than fiction; if it could be told,
How much would novels gain by the exchange!
How differently the world would men behold!”

Perdoe-me essa digressão literária, mas me parece interessante tê-la em mente quanto tratamos de falar e fazer cenários. Talvez, estes sejam muito mais próximos de uma possível realidade na ficção que na realidade. Em janeiro de 2020 não nos seria possível traçar um cenário de como seria o ano à nossa frente. 

Isso não quer dizer, contudo, que não me dedique ao exercício e estudo de cenários, prática necessária e comum em estudos de defesa, com rigor metodológico e princípios epistêmicos. Aqui nesta entrevista, não é possível desenvolver algo de profundo na direção da resposta à sua pergunta. No entanto é preciso lembrar que o Reino Unido tem uma tradição de comércio internacional sólida e uma capacidade diplomática exemplar. Mesmo com a realidade do Brexit e da pandemia – que talvez nos soassem como algo absurdamente ficcional há 20 anos – estes fatores que apontei acima da tradição de comércio e capacidade diplomática sinalizam para que, a despeito das dificuldades dos processos de negociação já em curso, o Reino Unido continuará desempenhando um papel relevante no contexto internacional no futuro. 

E as relações Reino Unido-Brasil serão afetadas pelo Brexit? Como? 

VM – É claro que um processo como o Brexit afeta e seguirá afetando relações do Reino Unido não apenas com o Brasil, mas com o mundo com o um todo. Uma série de negociações e acordos se fazem necessários agora nesta nova realidade para o Reino Unido. Mudanças como esta não são simples e exigem empenho diplomático ímpar, tanto para relações bilaterais quanto multilaterais, tanto para o trato político quanto econômico. O fato, porém, de ambos os países entenderem essa nova realidade do Reino Unido não como uma ruptura entre as relações bilaterais, ou como distanciamento de plataformas multilaterais, mas vislumbrarem como uma possibilidade de incremento nessas relações é um sinal muito positivo. Na mesma proporção dos desafios, serão também as oportunidades. E estas, se bem aproveitadas, podem permitir uma maior aproximação entre os dois países em vários setores.

A partir de um enorme esforço que envolveu universidades, empresas, governo e outras entidades, diversas vacinas para a Covid-19 foram desenvolvidas em tempo recorde. Ao mesmo tempo, as campanhas de vacinação têm se defrontado com campanhas de desinformação, fake news, xenofobia e negacionismo numa escala que, se não é inédita, ao menos não era vista há muitas décadas, talvez séculos. O que essa situação nos diz sobre os tempos atuais?

VM – A resposta a essa questão é muito complexa e envolve muitos aspectos históricos, ontológicos e epistemológicos. Tentarei sumarizar o que estou pensando sobre isso. E quando digo, o que estou pensando, estou dizendo que não tenho conclusões, mas perguntas e reflexões.

Nos últimos 50 anos, podemos dizer que o salto no número de alfabetizados no Brasil é notório. Também é marcante a diferença no número daqueles com acesso ao ensino superior se comparamos com 40 anos atrás. Muitas políticas e mecanismos de expansão do ensino superior modificaram o quadro educacional brasileiro, e consequentemente o quadro social, se consideramos que o ensino superior provoca mudanças também na própria condição social dos indivíduos. Deveríamos celebrar isso como uma vitória. Uma grande vitória. 

Mas como entender que haja ainda aqueles – escolarizados, alfabetizados, muitas vezes com ensino superior – que acreditam que a terra é plana, que as vacinas não são eficientes e na verdade nocivas ao ser humano. Parece haver um desesperado contrassenso no que logramos construir com a educação e no que a sociedade está se tornando – mesmo ‘bem-educada’. O que deveria ser uma quase óbvia vitória se manifesta como uma derrota. A pergunta é clara. O que há de errado? Ou, perguntando-me como educador, onde erramos? 

O desenvolvimento da ciência e do saber sempre se fez como ato histórico, como ato cultural. O ser humano, frente aos desafios da sobrevivência no mundo, forçou, em gerações e eras, o pensamento e o conhecimento para além dos limites de então. A história da humanidade é uma história de revoluções do saber, de questionamentos sobre o desconhecido e construções por sobre o vívido e sistematizado por gerações anteriores. Seja na ciência, seja na filosofia e até mesmo na teologia.

O que vivemos agora é, porém, uma negação do texto. Ou melhor dizendo, da forma textual de aprendermos e apreendermos a relação do humano com o que se chama realidade. Se não nos debruçarmos ao ato diacrônico da leitura, ato este organizador da experiência com a realidade, o que teremos de conhecimento é apenas o instantâneo, o que é capturado pela imagem, impressão. 

Nossa tarefa de educadores, de comunicadores, é mais urgente que nunca. Essa tarefa é a de reclamar à condição humana sua historicidade, sua capacidade de produzir e decodificar textos – não apenas imagens! O homem de Neandertal também produzia imagens. O salto epistemológico mais significativo da humanidade, do Homo sapiens, foi a capacidade de transformar o experimentado em escrita, em sintaxe, em texto, em história, em cultura. Se, como humanos, nos derrotamos pela imagem, as ditas “fake news” se tornam reais, a tal “pós-verdade” se consolida como verdade. E nos, pouco a pouco, abrimos mão daquilo a que chamamos humanidade.

Nos últimos anos, estamos vendo o mercado financeiro, ou mais especificamente, alguns investidores institucionais pressionando a alta administração das empresas de capital aberto para que levem em conta questões ambientais, sociais e de governança. Trata-se da pauta ESG, que faz parte do tema do ano de 2021 da Aberje, a Comunicação e o Capital ético. Como você enxerga esse processo?

VM – Recentemente em um artigo para o Financial Times, Bill Gates escreveu o que ele chamou de ‘My green manifesto’. O texto é uma reflexão de como o co-fundador da Microsoft se tornou um grande advogado para a causa ambiental e uma proposta de quatro ideias para ajudar ao mundo dos negócios definitivamente incorporar essa causa. Gates diz: ‘Avoiding a climate disaster requires a different way of doing business, the courage to take on risks that many CEO’s are not use to taking – and that investors are not use to rewarding’. (“Evitar um desastre climático requer um modo diferente de fazer negócios, a coragem de assumir riscos que muitos CEOs não estão acostumados a assumir – e que muitos investidores não estão acostumados de recompensar”, tradução livre. FT 20 de fevereiro de 2021. Life & Arts, p. 1-2) Essa frase me parece sintetizar muito bem o desafio que a pauta ESG traz hoje para o mundo financeiro e dos negócios. O desafio da coragem para incorporar certas mudanças que são revolucionariamente profundas para um setor que necessita da estabilidade e previsibilidade. É o que venho chamando de mudança sintagmática e não simplesmente paradigmática. Este mundo financeiro e dos negócios passou por algumas mudanças paradigmáticas no último século, porém, sempre seguindo uma mesma sintaxe, um mesmo modelo de governança e uma mesma perspectiva frente aos recursos naturais. 

Essa mudança sintagmática reclama uma nova gramática, na qual a agenda ESG não será apenas um objeto, mas sujeito nas tomadas de decisão na maneira de se fazer negócios. As questões que a agenda ESG reclama não são apenas modismo para programas de MBAs, ou para campanhas de comunicação empresarial. São questões existenciais para as próprias companhias, porque o são para o modelo de mundo em que vivemos e para nós enquanto humanidade. O que digo com isso é que não basta construirmos alguns slogans e elegermos alguns casos exemplares para dizer que há um compromisso com a agenda ESG. Se não houver agora a coragem para correr riscos e transformar as sintaxes de produção, lucro e desenvolvimento, aprofundaremos as fissuras sociais e ambientais em que mergulhamos a um ponto, não muito distante, em que estas fissuras se tornarão fraturas e esse edifício econômico-social em que estamos ruirá completamente. Instituições como a Aberje e o King’s Brazil Institute temos uma grande responsabilidade na promoção e compreensão disso que chamei de mudança sintagmática.

Para finalizar, o que você espera do ano de 2021 para o Reino Unido e para o Brasil?

VM – Espero que logremos, nos dois países, incrementar nosso diálogo, internamente e externamente. Espero que consigamos entender os desafios presentes em nosso mundo – desafios estes que são ameaças existenciais à humanidade – e que logremos dialogalmente compreender que sem colaboração, sem cooperação, sem inclusão, não encontraremos respostas para estes desafios.

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