Fundação Gol de Letra mostra poder da comunicação na mobilização social
Com foco na educação integral de crianças e jovens por meio de esporte, cultura e formação profissional, a Fundação Gol de Letra é um exemplo de organização sem fins lucrativos que atua em prol de comunidades socialmente vulneráveis. Para mostrar como a comunicação tem papel relevante na transformação social, a Aberje promoveu, no dia 25 de outubro, um evento online com a participação de Raí Oliveira, ex-jogador e atual presidente do Conselho Curador da instituição e seu irmão Sóstenes Oliveira, diretor-geral da fundação, que passou a integrar a rede associativa da Aberje este mês. O encontro teve como tema “Tecnologia social nas plataformas de esporte, cultura e educação” e faz parte das atividades do LiderCom – grupo de líderes da Comunicação Corporativa da associação.
Ao abrir o encontro, o diretor-executivo da Aberje, Hamilton dos Santos, destacou que o terceiro setor tem sido muito desafiado em relação à questão da comunicação e do engajamento. “É um setor que existe em função da transformação – seja social, econômica ou cultural. É a comunicação para a ação. Nós, da comunicação corporativa, temos muito o que aprender do ponto de vista das ações, estratégias e táticas que funcionam”, disse.
“Em um momento em que o jovem e as suas famílias se sentem desamparados, é importante criarmos e valorizarmos espaços de acolhimento e solidariedade no contexto do esporte, da educação e das artes. A Fundação Gol de Letras é isto, acolhimento, formação e solidariedade. Seja bem-vinda à Aberje”, saudou Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje.
Comunicação que transforma
Tudo começou há 25 anos, de um sonho dos tetracampeões mundiais de futebol Raí e Leonardo de contribuir para que crianças e jovens de comunidades carentes do Brasil pudessem ter mais oportunidades e perspectivas de vida.
Ao contar como foi o início de tudo, Raí Oliveira lembrou com carinho da família, especialmente do pai, Raimundo, um autodidata que sempre incentivou os filhos a refletirem com uma visão crítica da sociedade. “Essa provocação fazia parte do nosso cotidiano e conforme fui crescendo na carreira, passei a entender o poder de comunicação do esporte e como isso pode ser aproveitado para transformar a nossa sociedade”, disse.
Essa percepção ficou mais evidente quando foi viver na França com sua família, ao ser transferido para o Paris Saint Germain. A experiência de viver em um país onde as pessoas tinham as mesmas oportunidades reavivou um desejo que ele já tinha, o de proporcionar aos jovens brasileiros o que pôde proporcionar às suas filhas. “Percebi que poderia canalizar esse poder de mobilização e de comunicação do esporte para a causa que eu queria defender”, comentou.
Retornando ao Brasil, sentiu que era a hora de colocar sua ideia em prática. No início, contaram com a ajuda de várias instituições – como a Fundação Abrinq e a primeira sede foi montada na Vila Albertina, zona Norte de São Paulo, onde se encontra até hoje. “Eu não entendia nada de projeto social. Penso que a liderança que eu desenvolvi no esporte me ajudou a reunir diferentes competências por um objetivo comum e assim pude montar um time para implementar o nosso projeto”, revelou Raí. “O primeiro projeto social envolveu 100 crianças de 7 a 14 anos. Hoje, temos jovens de até 25 anos e passamos a ser modelo de referência para outras instituições”, completou.
Hoje, além da sede instalada na capital paulista, a fundação conta com outra unidade na comunidade do Caju, na cidade do Rio de Janeiro; ambas funcionam com o empenho de colaboradores e voluntários. Fora do eixo Rio-São Paulo, a metodologia Gol de Letra também é disseminada em várias regiões do país, em locais adaptados para receberem os jovens. Essa metodologia é baseada no conceito de Educação Integral, que considera a formação e o desenvolvimento humano em sua totalidade. “Nós atuamos na formação de profissionais e educadores locais e assim conseguimos impactar milhares de famílias ao redor do Brasil”, salientou.
Ao longo da trajetória, a Gol de Letra – reconhecida em 2001 pela UNESCO como instituição modelo – já atendeu mais de 25 mil crianças e jovens e atualmente cerca de cinco mil deles passam pelas oficinas da instituição todos os anos. Para o atleta, um dos diferenciais que levou a fundação a ser o que é a mobilização da família, da comunidade, das instituições locais, dos parceiros institucionais e outros atores sociais. “Isso é fundamental para ganhar legitimidade, estar aberto para a participação coletiva. Essa consistência é a grande força da Gol de Letra”, enfatizou.
Modelo de gestão
“Nós podemos fazer melhor?”. A indagação de Sóstenes Oliveira, diretor-geral da fundação, rege o modelo de gestão da Fundação Gol de Letra. Ele contou que há dez anos, uma avaliação de impacto das atividades, realizada por profissionais de fora da instituição, mostrou que o caminho estava certo. Agora, depois de 25 anos, uma nova análise será feita.
“É muito importante para nós sabermos se realmente estamos trabalhando naquilo que faz a diferença na vida dessas pessoas. Nossos programas são amplos e envolvem famílias, mães da comunidade que atuam junto com a gente, envolvem monitores que são jovens que participam dos projetos auxiliando os educadores. Só uma avaliação externa consegue nos indicar que continuamos no caminho certo”, destacou.
Ao falar sobre governança, Sóstenes fez questão de falar sobre as comunidades atendidas pela fundação. “São comunidades com alto grau de dificuldade e de vulnerabilidade em todos os sentidos: moral, ético e no próprio desenvolvimento cognitivo. São famílias que estão à margem da sociedade”, disse. “Não queríamos competir com a rede pública de ensino, mas fazer um trabalho de reforço, através de uma educação complementar àquilo que a escola faz. Trabalhamos nas escolas e com as escolas. Hoje atuamos em nove escolas em São Paulo e seis no Rio”, complementou.
A Gol de Letra conta com uma equipe multidisciplinar de profissionais desde o seu início. “Temos uma equipe formada por celetistas, pois sabemos que não dá para trabalhar apenas com voluntários. Desde o primeiro projeto atuamos com pedagogos, educadores, assistentes sociais, psicólogos, profissionais de gestão, entre outros. Nós criamos toda essa base de gestão desde o começo e isso é muito interessante, pois fomos criando e fortalecendo a nossa metodologia ao longo do tempo”, explicou Sóstenes. “Nosso conselho é formado por 12 pessoas, que nos ajudam com novas ideias para os próximos anos. Nosso sucesso é baseado na ética e na transparência em tudo o que fazemos, mas para que a gente possa continuar tendo êxito nós dependemos de parcerias que abracem a nossa causa”, finalizou.
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