21 de outubro de 2022

ESG é arrastado para as guerras culturais! Vai sair vivo dessa?

A Aberje preparou com exclusividade este especial sobre narrativas e contra-narrativas na agenda ESG, e como as empresas podem navegar nesse ambiente
###(Ilustração: Paula Calleja)

“Em 2022, a esquerda caviar (…) colocou em movimento uma estratégia para impor sua agenda ambiental e social radical nas empresas de capital aberto. (…) Tal mudança é inteiramente fabricada por um punhado de financistas poderosos de Wall Street que promovem metas ambientais, sociais e de governança (ESG) de esquerda e ignoram os interesses das empresas e seus funcionários”.

“ESG é uma estratégia perniciosa, porque permite à esquerda realizar o que nunca poderia alcançar nas urnas ou através da competição no mercado livre. O ESG capacita uma cabala não eleita de burocratas, reguladores e investidores ativistas para classificar as empresas com base em sua adesão aos valores de esquerda. Assim como as pontuações de crédito social emitidas pelo Partido Comunista Chinês, uma pontuação ESG baixa pode ser devastadora, tornando praticamente impossível para uma empresa levantar capital – e esse é exatamente o ponto”

Os trechos acima foram extraídos e traduzidos de um editorial do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, publicado em maio de 2022 na página de opinião do jornal, The Wall Street Journal. Críticas tão estridentes ao ESG, chegando pela direita e pela boca de um político estabelecido, chamaram a atenção de observadores econômicos em meados de 2022, ao menos no mundo anglófono. O texto assinado por Pence é considerado, inclusive, base para o lançamento de sua candidatura à presidência daquele país.

Mike Pence (Créditos: Sean Rayford/Getty Images)

A estridência da crítica do ex-vice-presidente soa dois tons acima do objetivo. ESG, como se sabe, é o acrônimo que se usa para descrever critérios que buscam avaliar o impacto dos investimentos em objetivos ambientais (Environment), sociais (Social) e de governança/transparência (Governance). Data, com esse nome de ESG, de 2004, quando foi criado em resposta a uma provocação do então presidente da ONU, Kofi Annan. Um sinônimo ou próximo de “Sustentabilidade” e “Responsabilidade Corporativa”, ESG se impôs como o termo mais utilizado nos últimos anos. Mas até recentemente não costumava provocar polêmicas tão apaixonadas.

No artigo, “As exigências loucas do movimento anti-ESG”, publicado em The New Republic no fim de agosto, a jornalista Kate Aronoff mostra que as críticas de Pence já foram incorporadas ao partido Republicano, ou ao menos a uma ala importante dela, a da direita mais extrema. No Texas do governador Greg Abbott, o tesoureiro anunciou uma lista de dez instituições financeiras e 300 fundos que, de acordo com sua avaliação, promovem “boicote a empresas de energias” (fósseis, acrescenta Aronoff) e serão, portanto, obrigados a desinvestir de projetos e empresas oficiais do estado, de acordo com uma nova lei estadual anti-ESG, Senate Bill 13. Ela obriga empresas de financiamento a afirmar que não vão boicotar empresas de energia, seja qual for a fonte, petróleo, carvão ou gás.

Desde que a lei texana começou a ser discutida, outras propostas anti-ESG foram apresentadas em 15 estados dos Estados Unidos e venceram já em quatro. Aronoff confirma que candidatos republicanos estão incorporando o anti-ESG nas campanhas, um bicho-papão parecido com o que foi “critical race theory” (ou CRT) antes, outro conceito compreendido por poucos, mas usado como sinônimo do mal. O argumento do partido republicano, explica a jornalista, é que qualquer diminuição de investimento em petróleo, carvão ou gás é uma forma de discriminação.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, outro político tido como presidenciável do partido republicano, gravou um vídeo com mensagens anti-ESG semelhantes às de Pence, mas com um fundo musical mais aterrorizante. Segundo Aronoff, na dinâmica político-econômica dos EUA, “A batalha em torno do ESG se dá entre tipos de capital com tendências políticas diferentes; as empresas de combustíveis fósseis tendem à direita e financiam campanhas anti-ESG num esforço para manter investimentos no seu setor. Bancos e dirigentes de fundos de investimentos, por outro lado, tendem a votar no partido Democrata e enxergam sua responsabilidade fiduciária em termos de mais longo prazo e com preocupação em proteger os ativos dos riscos consideráveis da mudança do clima”.

O objetivo de leis como Senate Bill 13 no Texas, e cópias dela em outros estados, segundo Aronoff, é impedir que fundos gigantescos de investimentos como a BlackRock utilizem seus ativos significativos para garantir uma agenda política verde e woke (descolado, termo hoje usado quase sempre de forma pejorativa pela direita estadunidense). É por esse motivo, escreve a jornalista, que os oficiais do Texas acusam a BlackRock de “boicotar empresas de energia” embora o fundo tenha investido em empresas de energia texanas US $108 bilhões. Ou seja, parece haver um aspecto performático nas iniciativas dos políticos texanos.

Elon Musk entra na briga

No mesmo momento do manifesto de Pence, ainda em maio de 2022, o empresário Elon Musk colocou lenha na fogueira ao ver sua empresa de automóveis elétricos excluída do índice de líderes em ESG da S&P. Em resposta, Musk tuitou para seus 108 milhões de seguidores que a S&P havia “perdido sua integridade” e que fazia do ESG um esquema desonesto (scam) capaz de ser “utilizado como arma por qualquer guerreiro fake de justiça social”.

Elon Musk (Créditos: Dan Taylor/http://www.heisenbergmedia.com)

A crítica de Musk, como quase tudo que o empresário faz, repercutiu. É provável que tenha gerado alguns milhares de pesquisas em sites de busca sobre o que vem a ser ESG, diga-se. Musk se irritou com a exclusão da Tesla da lista da S&P de empresas líderes em ESG, enquanto a Exxon, maior empresa de petróleo do mundo, e uma grande emissora de gases de efeito estufa, continuou na lista. A Tesla revolucionou a eletrificação de automóveis, uma batalha chave na busca por alternativas ao petróleo, medida urgente na busca por sustentabilidade climática. Exxon, enquanto isso, dá poucos sinais de querer trocar o petróleo por outros produtos mais limpos, não com a velocidade pedida pelos cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), ao menos. A Tesla foi retirada da lista S&P por questões de governança e cultura de fábrica, de acordo com a revista The Economist. “Elon Musk, o chefão da Tesla, não foi o único a considerar tal decisão absurda”, escreve a revista.

De acordo com o repórter de clima, Tim McDonnell, no Quartz, “Musk está certo, ESG precisa ser melhor definido – mas não porque a sigla ‘só mede se seu negócio segue uma agenda esquerdista’, para usar as palavras do empresário celebridade”. “Boa sorte”, alfineta o repórter, com ironia, “na busca por um esquerdista fã da Exxon”. Não é este o problema de ESG, conclui McDonnell.

O ESG está em crise? 

O brasileiro Fabio Alperowitch se dedica a investimentos social e ambientalmente responsáveis há 30 anos, antes mesmo de existir o acrônimo ESG. A prática de investimento responsável, embora minoritária, é antiga, diz o empresário. Fabio, que também é professor na Escola Aberje de Comunicação, nos lembra, inclusive, da existência no século 19 de fundos que se preocupavam em evitar investimentos no comércio de escravos. “É pouco, mas existia”, frisa.

Fábio Alperowitch, sócio da FAMA Investimentos

O ESG parece novo no mercado financeiro brasileiro porque foi visto como ideológico e, portanto, interditado durante muito tempo, conta, mas não o é de todo novo, faz questão de lembrar. O acrônimo é de 2004, lembra, mas as práticas são anteriores.

Em 1993, aos vinte anos de idade, ainda aluno da FGV, Fabio coletou US$10 mil com funcionários da multinacional onde fazia estágio e fundou com um colega a FAMA Investimentos. Desde o início, segundo Fabio, havia preocupação em fazer investimentos éticos. Hoje, a FAMA responde pela gestão de alguns bilhões de reais, 80% dos quais com origem fora do Brasil, e Fabio se tornou um dos principais defensores do papel de ESG no Brasil.

Quando, em junho de 2022, após as manifestações de Pence e Musk, entre outros, a revista inglesa The Economist publicou um relatório especial com críticas diversas ao ESG, Fabio leu o material com atenção, tal como quase todo mundo que se interessa pela sustentabilidade empresarial. As críticas elaboradas pela revista são mais detalhadas e técnicas do que o anti-comunismo performático de Pence e DeSantis e outros na extrema-direita (como Ernesto Araujo, para dar um exemplo brasileiro). E embora reconheça “pontos pertinentes” na abordagem da revista, a Fabio não lhe pareceu tão relevante para a situação do ESG no Brasil.

Capa da revista The Economist: “ESG, três letras que não irão salvar o planeta”

“Acho que existe um home bias ali naquela visão, é como se todos os problemas fossem ambientais e de climate change, porque os [outros] problemas de países ricos não são tão acentuados assim e, portanto, falar de climate change passa a ser o principal problema. Eles não vivem em um país racista como o nosso, não vivem em um país desigual como o nosso, não vivem no segundo país que mais mata em acidentes de trabalho, não é [tão] homofóbico ou transfóbico o país deles, não tem corrupção endêmica, a gente tem uma série de questões aqui, e não só no Brasil. A visão deles me parece muito globalizada, sem a mesma empatia para os países que têm outros tipos de problemas”.

Carlo Linkevieius Pereira, CEO da Rede Brasil do Pacto Global, braço da ONU voltado às empresas e organizações privadas, chegou a conclusões semelhantes às de Fabio, da FAMA. Resume a abordagem de ESG da revista inglesa em uma frase: “Esqueçam o S e o G e foca no E”. De acordo com o executivo, mesmo se a revista estivesse olhando somente para a realidade no Reino Unido “não concordaria muito, mas OK. Agora querer colocar isso como uma pauta mundial não dá”.

Carlo Linkevieius Pereira, CEO da Rede Brasil

“É verdade que os grandes males que o mundo vai viver são decorrentes da mudança do clima. Mas não dá para a gente focar exclusivamente nisso”, continua Carlo. “A gente tem um grande problema, muito grande, que é a mudança do clima, mas a gente já é bastante ruim em várias coisas. Então não dá para só mitigar ou mesmo se adaptar a problemas gerados por conta da mudança do clima, sendo que enfrentamos sérios problemas de pobreza e desigualdade. Nisso as empresas têm que atuar, que é o lado macro. Mas a gente poderia falar do problema de saneamento básico, que é ridículo, a gente poderia falar do problema de educação, de várias questões. A mudança do clima vai agravar tudo que temos de ruim, mas isso não quer dizer que não devo atacar os problemas de base”.

Carlo diz achar importante fazer uma distinção entre ESG, que define como critérios do mundo financeiro para avaliar riscos de sustentabilidade, por um lado, e a prática da sustentabilidade em si dentro das empresas, por outro. Sempre faz sentido refinar e questionar critérios financeiros, segundo o executivo, mas não dá para as empresas arrefecerem diante dos muitos desafios do mundo atual. Ou seja, o ESG pode entrar em crise, nesta definição, mas a sustentabilidade dentro das empresas, não. As novas gerações não deixam, afirma Carlo. “Tenta dizer para a Greta Thunberg ou a Amanda Costa que vamos arrefecer…”, pondera, citando duas jovens ativistas, uma sueca e a outra brasileira, da Zona Norte de São Paulo.

Como medir ESG?

Uma das críticas principais ao ESG apresentada pela The Economist é a alegada dificuldade em medir avanços sociais por parte de empresas. Debaixo do título, “É o meio ambiente, seu idiota” (it’s the environment, stupid), a revista argumenta que “com frequência o ESG não é nem uma boa ferramenta de medição e tampouco uma boa ferramenta de administração de riscos”. Parte do problema, argumenta a publicação inglesa, é que ESG é “infectado por julgamentos morais e estes tendem a mudar com o tempo”. Argumenta ainda que a informação que gera “tem pouca relevância para as atividades principais de uma empresa. É impreciso demais para funcionar bem como imposto interno sobre externalidades negativas. Criou-se uma confusão para as empresas”. E, continua a revista, “torna difícil para os investidores calcularem o que significa para as cotações e o valor dos investimentos”.

Denise Hills, diretora Global de Sustentabilidade da gigante brasileira Natura &Co, contesta a visão de ESG como algo confuso e contraditório. É justamente na sustentabilidade que a Natura busca inspiração e clareza de propósito. Denise apresenta com entusiasmo contagiante a cultura de ESG na empresa de cosméticos e bem-estar, fundada no Brasil há cinco décadas, e hoje presente em mais de 100 países. Metas de igualdade de gênero e de diversidade foram estabelecidas, medidas e já cumpridas, conta. Mulheres ocupam já 50% dos cargos de liderança, com paridade de salários (até 2023) e no conselho. Cada vez que a empresa entra em um país realiza um censo dentro e fora da empresa para estabelecer metas – de diversidade, de raça, e de pessoas com deficiências (físicas ou mentais) – que podem variar de acordo com a cultura local. Em alguns lugares as metas de inclusão medem religiões, explica Denise, e em outros, como o Brasil, por exemplo, os marcadores são raciais. A identificação é quase sempre autodeclaratória, de acordo com a executiva. Há ainda compromissos de garantir um living wage, ou remuneração digna, com todos os colaboradores. O estabelecimento do valor varia também de país em país e envolve um cálculo complexo que leva em conta desde a qualidade dos serviços públicos até o custo de vida local. Para tanto conta com ferramentas de avaliação de cadeias de valor elaboradas por organizações empresariais como o “Sistema B” e o “Pacto Global da ONU”, entre outras.

Denise Hills, diretora Global de Sustentabilidade da Natura &Co

Tantas medições, critérios e metas não parecem incomodar a Natura, que adquiriu a concorrente Avon e vai incorporando-a dentro do grupo Natura &Co, através da mesma cultura sustentável da empresa brasileira, conhecida mundialmente por suas práticas de ESG. Enquanto a revista The Economist contrapõe ao ESG a “clareza” da contabilidade financeira, “que busca excluir julgamentos morais e políticas”, a Natura encontra na diversidade social e ambiental de cada lugar onde opera muito da inspiração para sua atuação. Segundo Denise, o próprio objetivo da Natura passou a ser “transformar desafios socioambientais em oportunidades de negócios”. Como exemplo, oferece a Natura Biome, nova marca de produtos de beleza e cuidados pessoais como sabonetes e xampus em barras, sem plástico, com fórmulas naturais e veganas, produzido em sistema agroflorestal pioneiro que busca replantar e recuperar áreas degradadas por desmatamento.

A medição dos resultados é incorporada ao P&L integrado da empresa, que soma planejamento e resultados financeiros com o “S” de social e o “E” de ambiental, e é apresentado não pela área de sustentabilidade, mas pelo CFO e pelo CEO da empresa. Trata-se de uma ferramenta avançada de gestão capaz de mitigar impactos negativos da atuação da empresa e aumentar sua contribuição positiva em toda a cadeia produtiva, segundo Denise. E só é considerada inovação dentro da empresa, diz a executiva, produtos e práticas capazes de gerar impactos sociais e ambientais positivos.

A Natura busca ser uma empresa “regenerativa”, capaz de contribuir para a melhoria da sociedade, conta a diretora de sustentabilidade. Considera tal objetivo a razão de ser de uma empresa longeva. Medir condições e resultados, junto com impactos positivos e negativos, é fundamental não só para a transparência, mas também como fonte de informação e inspiração. Longe de ser um fardo, é a principal fonte da atuação empresarial da Natura &Co.

Outro gigante brasileiro, o banco Itaú, também encontra inspiração na diversidade de seus funcionários e colaboradores. Conta Maria Julia Azambuja, superintendente de Diversidade e Atração e Seleção da empresa: “Diversidade é um tema que olhamos com cuidado há anos aqui no Itaú. Em 2017, demos um passo além e adotamos as diretrizes estabelecidas na Carta de Compromisso com a Diversidade que compartilhamos com o mercado. Assumimos, desde então, um compromisso público com colaboradores, clientes, fornecedores, parceiros e sociedade. No ano passado, definimos objetivos de diversidade nas frentes de gênero e raça, de acordo com os desafios de equidade e inclusão, respectivamente. Nosso quadro já possui um percentual alto de mulheres até cargos de média gestão. Por esse motivo, definimos que, até 2025, buscaremos ter de 35% a 40% de mulheres na liderança (que inclui cargos de nível executivo, diretoria, superintendência e gerência). Partimos do cenário de 32,9% em 2019, 32,6% em 2020 e 33,0% em 2021. Na frente de raça, buscamos ter, até 2025, de 27% a 30% de representatividade negra na organização, com evolução em todos os níveis de cargo, incluindo a liderança. Considerando estagiários e aprendizes, nosso quadro de negros total foi de 22,8% em 2019, 23,5% em 2020 e 25,6% em 2021”.

Maria Julia Azambuja, superintendente de Diversidade e Atração e Seleção do Itaú Unibanco

Indagado se é desafiador atrair e medir a diversidade dentro do banco, Maria Julia pondera: “O maior desafio, talvez, seja o de quebrar estereótipos, como o de que uma instituição financeira é predominantemente ocupada por profissionais do sexo masculino e recrutar profissionais diversos que estejam dispostos a fazer parte do movimento de transformação do Itaú.  Nossos esforços na área de RH estão voltados a romper esse paradigma e trazer profissionais diversos para o banco, de todos os gêneros, raças, contextos sociais e que estejam dispostos a fazer parte desta mudança”.

O ESG vive um Boom?

Sonia Consiglio, conselheira de empresas, SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU

Pioneira na área de sustentabilidade corporativa, a consultora, palestrante e professora Sonia Consiglio, não enxerga crise de ESG, mas sim o contrário disso, um “boom”, que ela define como um momento de grande visibilidade. Perguntada sobre os questionamentos recentes do conceito, Sonia responde sem titubear: movimentos como estes de críticas e contestação só buscam alvos que estão em evidência. Segundo ela, “o ESG chegou onde tinha que chegar, na discussão estratégica dos conselhos, nas lideranças, e veio pela mão do investidor e pela dor da pandemia”. Sonia costuma afirmar nas suas palestras que “se a gente tiver a direção definida, se é lá que a gente vai, para o mundo do desenvolvimento sustentável, dos ODS, da agenda 2030, da descarbonização da economia, então legal, se a gente mantém a premissa de que a direção é para lá, então OK. Em alguns momentos, a gente vai ter que dar dois passos para trás e três para frente, colocar em standby, esperar, acho que este é parte do processo. O que eu acho que seria preocupante é a gente questionar o objetivo. Se a gente, ou o mundo, chegar à conclusão de que ODS é uma bobagem, que descarbonização não faz sentido, ficar a favor do desmatamento, aí a gente tem um problema na minha visão”.

Natália de Campos Tamura, doutora em Ciências da Comunicação pela USP

Outra especialista em ESG e comunicação, Natália de Campos Tamura, professora e coordenadora de cursos de sustentabilidade na Escola Aberje, faz questão de dizer que ainda falta muita educação para as empresas brasileiras incorporarem a sustentabilidade para valer nas suas culturas e rotinas. “Usam a palavra da moda, fazem o autoelogio, mas não é sempre que sabem avaliar se fazem mais ou menos do que as concorrentes e daquele básico que o mercado já exige”, segundo ela. As empresas que não trazem a sustentabilidade de berço, frisa a consultora, precisam se adaptar a ela. Ainda estamos num ponto “incipiente, muito no comecinho, o que nos difere de uma pauta mundial. Na Europa, por exemplo, só se fala de meio ambiente, eles falam muito de mudança climática, muito de emissão, e a gente aqui tem um potencial enorme, uma quantidade enorme de riqueza ambiental, mas pouco se apropria dela”, afirma.

O caminho a trilhar     

“Pode ser que ESG não salve o mundo, mas não falar em ESG nos priva de saídas novas para os nossos desafios,” diz Natália Campos Tamura. Esta visão combina bem com as outras vozes brasileiras apresentadas nesta reportagem. Mas a julgar pelos acontecimentos nos Estados Unidos, o ESG ainda vai ter que dialogar com o lobby e o mercado de combustíveis fósseis e os políticos empenhados em representar os interesses deles. Tomara que consiga vencer esta batalha e encontrar as saídas novas propagadas por Natália. Afinal, é o futuro do clima que está em jogo.

Matthew Shirts

Matthew Shirts é jornalista norte-americano radicado no Brasil, formado em Ciências Sociais pela Universidade de Berkeley e em História pela Universidade de Stanford. Dedica-se à cobertura das mudanças climáticas e atualmente se dedica a produzir textos e documentários voltados para sustentabilidade e clima para o World Observatory of Human Affairs e a plataforma virtual Fervuranoclima, que ajudou a criar.

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COMENTÁRIOS:

2 comentários em “ESG é arrastado para as guerras culturais! Vai sair vivo dessa?”

  1. Bom artigo! Com insights e referências diversas e que se contrapõem nas esferas políticas, econômicas e de visão demundo e de mercado. O debate multi facetado enriquece o olhar sobre ESG e nos permite escolher caminhos sem bos fixar numa única opinião. Ppdrmos chamar de Flex ESG ou ESG hibrido? Mais atento às realidades percebidas por uma pluralidade de públicos de interesses.

  2. Um grande desafio para um planeta que consome mais de 100 milhões de barris de petróleo por dia…
    Impossível fazer uma transição brusca sem causar grandes danos econômicos e sociais.

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