13 de abril de 2021

Conselho Consultivo discute o papel das lideranças empresariais na defesa da democracia

Em reunião do Conselho Consultivo da Aberje, realizada no dia 31 de março, o diretor-presidente da Aberje Paulo Nassar, apresentou e saudou os novos conselheiros consultivos.
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ESG e redes são pontos centrais, segundo conselheiros 

Em reunião do Conselho Consultivo da Aberje, realizada no dia 31 de março, o diretor-presidente da Aberje Paulo Nassar, apresentou e saudou os novos conselheiros consultivos: Rosana Aguiar, executiva de Comunicação, Brand e Cultura Organizacional; Marcelo Behar, VP de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Natura, e Yacoff Sarkovas, fundador e consultor sênior da Sarkovas Propósitos. Na ocasião, houve um debate sobre “O papel das lideranças empresariais na defesa da democracia”, com a participação de Sarkovas e do sociólogo Marco Aurélio Ruediger, diretor da DAPP – Diretoria de Análise e Políticas Públicas da FGV, entidade que mantém o blog Democracia & Comunicação no portal Aberje.

Atuando há décadas na confluência entre interesse público e empresarial, Sarkovas falou sobre responsabilidade empresarial pela democracia. A fim de contribuir com o debate, o executivo fez questão de ler um artigo de sua autoria, ainda não finalizado, sobre o tema. O texto traz considerações sobre a reação de líderes empresariais diante de alguns fatos relevantes ocorridos antes, durante e depois das últimas eleições dos Estado Unidos, como o ataque de manifestantes ao capitólio americano no início de 2020 fazendo uma correlação entre eles e a democracia.

Na ocasião, Sarkovas afirma enxergar a defesa da democracia como um eixo transversal ao conceito ESG. “Acho delicada essa participação. Tem que ser feita com muita propriedade e cuidado, pois não se pode confundir com proselitismo ideológico ou engajamento partidário”, afirmou. Por outro lado, o executivo acredita que há um enorme espaço para a defesa do estado democrático de direito por parte das organizações. “Vamos ver, felizmente, isso entrando cada vez mais na agenda empresarial por pressão da sociedade civil e, principalmente, em um país como o Brasil, com uma democracia que está na primeira infância. Se os Estados Unidos, país de referência da democracia ocidental estão, neste momento, com sua democracia sob ataque, quem dirá o Brasil com seu histórico?”, lançou.

Redes são importantes na construção das sociedades democráticas

Ao trazer algumas reflexões sobre o papel das lideranças na preservação da democracia, o sociólogo Marco Aurélio Ruediger citou o historiador Niall Ferguson, que em seu livro “The Square and the Tower” resgata os motivos pelos quais, historicamente, as redes foram importantes na construção das sociedades e do mundo. “O autor faz uma observação longitudinal, desde a Idade Média, passando por movimentos da Renascença até hoje, em que sistemas mais hierárquicos são substituídos por sistemas em rede”.

A partir de um determinado ponto observado no livro citado – sobre a importância das redes para o mundo contemporâneo -, o professor Ruediger atentou para uma perspectiva bastante interessante da época atual. “Hoje vivemos uma situação em que a confluência da criação da internet com a ‘contra-cultura’, e com o uso crescente de plataformas e o intercâmbio de comunicação, que transcendeu à academia e passou para o dia a dia do cidadão, trouxe uma potencialização da sociedade civil”. 

Ele explica que cerca de 30 anos atrás, a perspectiva que se tinha das redes sociais era extremamente positiva, porém utópica, em que a sociedade poderia fazer circular informações, diminuindo a simetria entre decision makers e o cidadão comum e, por outro lado, através da conjugação dessas redes, poderia se provocar ou defender pautas de interesse da sociedade.

Um caminho que além de auspicioso, traz, em sua opinião, um potencial distópico em função de estruturas inconformadas com os avanços democráticos, em busca de um passado idealizado que estaria longe da realidade, mas profundamente vinculadas à ideia de trazer o cidadão para uma estrutura de ordem em que esse mundo assustador e dinâmico da globalização e da rede passasse a proporcionar uma certa reorganização. “E essa reorganização cala muito fundo numa parcela bastante significativa da nossa sociedade”, acentuou.

Profissional de Comunicação deve estar mais preparado

Ao analisar a pesquisa “O que esperar da comunicação organizacional do Brasil”, conduzida pela Aberje, um dado em especial chamou a atenção do sociólogo. “Estamos caminhando para uma sociedade que exige cada vez mais que o profissional, principalmente o de comunicação, entenda essa nova circunstância, essa compressão de tempo e circulação da informação pelas redes. Isso significa que é preciso investir numa formação diferenciada do profissional de comunicação”, argumentou Ruediger. 

Outro ponto destacado pelo professor é que as empresas têm espaço para pautas novas e modernas como por exemplo economia verde e cidades inteligentes, no sentido de discursos que sejam também ativos em termos de uma política ampla e generosa com a sociedade em torno de valores. “Uma sociedade em rede significa que todos estão envolvidos e saber traduzir em narrativas o seu posicionamento me parece absolutamente central para preservarmos o que a gente conquistou, que é a democracia. Hoje, a democracia do Brasil está em risco e o profissional de comunicação é importante para alavancagem da sua empresa, da sua marca, mas associado a valores importantes para que tenhamos uma sociedade moderna e contemporânea”, concluiu.

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