02 de abril de 2020

Trabalho remoto obrigatório: os 5 principais desafios para engajar

Publicado originalmente no LinkedIn, 24 de março de 2020.

A crise do COVID-19 tem obrigado todas as empresas a se reinventarem. Do modelo de negócio ao modelo de trabalho, tudo está sendo repensado. E é nesse momento que barreiras culturais se rompem, fazendo com que bruscamente haja uma transformação cultural na empresa e dogmas não só caem por terra, como são substituídos por novas práticas que se tornam imprescindíveis.

O trabalho remoto é uma dessas práticas, que, de renegada e vista como pouco efetiva por muitos, acabou se tornando a única solução para que grande parte das equipes, principalmente administrativas, continuem na ativa. Algumas empresas vão adotar essa prática pela primeira vez, e nelas o choque será gigantesco, e outras já tinham isso como prática pontual, o que pode facilitar parcialmente, mas é bem diferente do trabalho exclusivamente remoto.

Pensando nisso, a partir da experiência em entender o que engaja e o que desengaja mais de 60 mil pessoas ao longo dos últimos anos, trago uma lista de 5 fatores cruciais que devem ser trabalhados pelas empresas para suavizar essa revolução cultural catalisada pelo home office permanente:

Rever ritos e símbolos

O distanciamento físico acaba fazendo com que a empresa perca dois dos principais artefatos que compõem sua cultura: símbolos e ritos. O fato de não colocar mais o uniforme, ou de entrar no prédio imponente, ou de ver as cores da empresa a todo momento pode acabar fazendo com que eu perca a sensação de pertencimento. Além disso, ritos formais ou informais, de convenções a happy hours, também fazem falta nesse momento. Por isso, procure pensar em alternativas: enviar um símbolo simples (que seja um mouse pad, um calendário, um porta-retratos com foto da equipe) à casa do colaborador pode ser um caminho, assim como adaptar ritos para o digital, como um horário pré-determinado para trocar ideias informais ou até um happy hour virtual.

Estrutura e ergonomia

Para alguns essa ficha pode não cair de primeira, mas a estrutura é um dos grandes pontos de preocupação do home office. Ter um espaço reservado, com uma cadeira confortável, internet estável e materiais de escritório em casa não é a realidade de todos, e pode impactar muito na produtividade e na saúde, ocasionando até afastamentos e podendo impactar no nosso sistema de saúde sobrecarregado. Isso é responsabilidade não só da equipe de Infraestrutura mas também de Diversidade, afinal é importante que pensemos nos colaboradores de menor renda e que tem menos estrutura em casa. Do subsídio de parte da internet ao oferecimento de periféricos (mouse, teclado, impressora), suporte para os pés, passando por melhores práticas de rotina (como o disseminado “tirar o pijama”) e até uma ginástica laboral a distância, uma série de ações podem ser necessárias para manter o básico para se trabalhar.

Comunicação

Já um grande desafio do dia a dia habitual, as dificuldades na comunicação podem ser potencializadas nesse momento. Muitos têm dificuldade em se fazer claro por texto, enquanto outros acabam lembrando de passar alguma informação essencial apenas quando veem a pessoa. Por isso, é importante nesse momento organizar sua comunicação interna, sem esquecer que canais para a comunicação informal também são importantes. Criar uma rotina rápida de comunicação (as famosas ‘dailys’), buscar ferramentas mais rápidas (que vão além do e-mail) e oferecer treinamentos para comunicação à distância (principalmente para líderes, para falarem sobre temas delicados) são algumas das soluções possíveis.

Estilo de gestão

Aquele gestor controlador, que gosta de ver o trabalho sendo feito, perde seu espaço nesse novo cenário. Os gestores devem cada vez mais trabalhar em um modelo baseado na clareza de tarefas e confiança. O número de horas trabalhadas (ou o famoso “parecer-trabalhar”) cai por terra em um cenário onde uma série de distrações estão ali aos montes. Portanto, duas palavras são cruciais nesse momento: propósito e metas. É preciso ser claro no que se deseja que o empregado faça e para quando aquilo precisa estar pronto. Assim, as metas saem de um plano mais amplo – para muitos anual –, para um plano de dia a dia. E o propósito é o que faz com que o empregado faça algo mesmo sem que ele tenha sido demandado. Se ele entende e acredita no propósito do seu trabalho, a probabilidade de que ele entregue além da demanda é muito maior.

Relacionamento e ambiente de trabalho

Para muitos pode parecer secundário, mas a amizade entre colegas é um grande fator de engajamento, sendo o principal gatilho de engajamento para grande parte dos colaboradores. Algumas pesquisas mostram que é sete vezes mais provável que você seja engajado no trabalho se tiver um melhor amigo/a no trabalho. Um ambiente de trabalho descontraído é difícil de replicar a distância, mas fomentar momentos de trocas informais virtuais, utilizar memes, gifs e até jogos corporativos podem ajudar. Promova conversas também sobre as pessoas, sobre como estão, como é sua vida, ou seja, aproveite também para conhecer ainda mais seus colaboradores como pessoa.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Jean Soldatelli

Co-fundador da Santo Caos, a primeira consultoria de engajamento do Brasil, é formado em Comunicação Social pela USP, e tem conhecimento em áreas comportamentais, como Ciência da Felicidade e análise de dados. Diagnosticou o engajamento de mais de 60 mil trabalhadores de diversos setores e desenvolveu ações de engajamento para mais de 500 mil colaboradores de seus clientes. Além de ser consultor de engajamento de grandes empresas como RD, Eldorado Celulose, Sabesp e Grupo Águia Branca, é responsável por estudos sobre diversidade, voluntariado corporativo, terceirização e migué.

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