14 de abril de 2022

Entre bombas e palavras (parte II)

No meu texto anterior – Entre Bombas e Palavras (parte I) – tive a intenção de provocar uma reflexão sobre o entendimento, as circunstâncias de uma definição de “guerra”. Historicamente tivemos duas grandes guerras mundiais. A primeira ocorreu de meados de 1914 até o final de 1918, e suas características foram muito semelhantes aos enfrentamentos corporais da idade média. A segunda guerra mundial travada entre 1939 e 1945, foi o maior e mais catastrófico conflito da história humana, mas com grandes avanços tecnológicos. Acabou devido ao uso de uma arma devastadora até então desconhecida. A bomba atômica. O tempo passou e conhecemos outros tipos de guerras, como a fria, a comercial, a do joystick e tantas outras, onde as bombas de destruição eram de outras naturezas.

Quando tudo parecia apenas parte da história e do passado, nos encontramos atualmente em uma dobra do tempo. Vivemos uma guerra com ações da primeira e ameaças da segunda. Mas neste intervalo de tempo, a tecnologia na área da comunicação foi a que mais evoluiu em relação a qualquer outra. E é aí que concluo meu raciocínio. Sim, estamos em uma terceira guerra mundial. Um conflito onde as principais armas são as palavras e as imagens. Onde as bombas não destroem apenas quando caem no solo, mas quando as palavras entram em nossas mentes. Elas exterminam as ideias, ferem as almas e dilaceram as esperanças. Nós profissionais da comunicação somos os novos combatentes.

Vivenciamos tudo online e em tempo real. Trazemos para dentro de nossas casas as dores dos campos de batalha. Diferente das armas atômicas e nucleares, que não podem ser usadas por questões obvias, as batalhas verbalizadas envolvem até os pacifistas. Mas existe uma saída. As disputas pelo poder deveriam evoluir e se restringir apenas no universo virtual. Eis uma nobre utilização para o metaverso. Poupar vidas humanas. Reduzir ou eliminar os impactos destrutivos no mundo material. Ajudar na preservação do planeta reescalando a matriz energética na logística de bits e bytes e não entre tanques e bombardeiros.

As criptomoedas e os NFTs já são uma realidade. As sanções econômicas poderiam ocorrer sem ninguém passar fome, ficar doente por falta de medicamentos, ou sentir frio e calor por ausência de ar-condicionado. Já se comercializa terrenos no metaverso. Centenas de milhares de pessoas assistem a shows e a eventos esportivos. Por que não levarmos para esse ambiente digital essas disputas absurdas de poder e controle? Ou por que não transformamos os soldados inimigos em criaturas ficcionais? Uniformes transvestidos de sistemas operacionais já temos: de um lado o exército do “Android”, do outro do “iOS”. Os conflitos poderiam ser infinitos, assim como o desenvolvimento e incremento de cada avatar, ou holografia.

Se olharmos a fundo, a comunicação sempre foi uma parceira na guerra e uma arma para a paz. Quando analisamos, vemos que a fotografia, o cinema, o megafone, a telefonia, o telégrafo e a televisão logo foram associados aos conflitos bélicos. Sempre foram recursos íntimos no campo militar. Em alguns casos, instrumentos de comunicação são inventados primeiramente com fins militares e só depois são explorados comercialmente pelos civis. Mesmo no caso do cinema, que surgiu inicialmente como arte civil, no começo do século passado, como um divertimento sem maiores pretensões, passou a instrumento de propaganda ideológica.

Lembremo-nos que a internet foi fruto da engenharia militar. Nascida nos Estados Unidos em 1969, seu nome original era ARPA (Advanced Research Projects Agency), nada mais do que um produto da guerra fria, para articular centros de defesa em caso do ataque inimigo. Hoje a web encontra-se a caminho da terceira fase, com possibilidades ainda não imaginadas corretamente. Na fase presente, as redes sociais polarizaram as sociedades livres e ameaçam as democracias. Chegou o momento de usarmos toda essa infraestrutura a favor da humanidade, e não para ajudar a acabar com ela.

Desta forma, todos aqueles que de alguma forma compõe esse exército de papel ou caneta, mouse ou teclado, deveriam de alguma forma contribuir para encontrarmos a paz. Soldados comunicadores que se alistem e juntem se aos engenheiros digitais para transferir o teatro da guerra para a promessa do metaverso. Todos temos a ganhar. Que a inteligência artificial vença a humana pelo menos neste campo. Torço para que todos os mercenários do mundo percam seus empregos por notória obsolescência. Quem sabe desta forma, o efeito colateral do desenvolvimento tecnológico, não produza um bem maior que aquele pelo qual foi projetado inicialmente.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Marcelo Molnar

Marcelo Molnar é formado em Química Industrial, com pós graduação em Marketing e Publicidade. Experiência de 18 anos no mercado da Tecnologia da Informação, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Criador do processo ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de sua relação emocional com seus consumidores. Coautor do livro "O segredo de Ebbinghaus". Atualmente é Sócio Diretor da Boxnet.

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