23 de março de 2022

Entre bombas e palavras (parte I)

Quando finalmente nos deparamos com a claridade, e pensamos encontrar a luz no fim do túnel, descobrimos que era apenas a explosão de uma bomba. A pandemia ainda não acabou. Mas a guerra já começou. Realmente trabalhar com monitoramento de informações, análises e criação de cenários, não permite momentos de monotonia. No mundo atual, uma “operação militar especial”, conforme a versão russa, não destrói apenas prédios, pontes e estradas. Extermina com a possibilidade de sabermos a verdade. O volume de informações contraditórias é tão grande, que realmente não parece que estamos falando dos mesmos fatos.

Dizem que a verdade tem três versões. A de um lado, a do outro e a realidade. Determinar essa realidade, talvez só com os computadores quânticos, que ainda serão construídos. Hoje cada um tem a liberdade para acreditar e defender o que for mais conveniente para suas próprias convicções. Enquanto muitos morrem, milhões sofrem, bilhões serão impactados. Essa já é uma guerra mundial. Terceira? Pode ser… no futuro a história dirá. Esse conflito não é só de mísseis, tiros e tanques. É principalmente de palavras. E em todos os idiomas.

Acompanhando estudos e declarações de centenas de porta-vozes dos mais importantes e renomados Think Tanks do mundo, ponderamos que esse conflito começou há muitos anos. Podemos embaralhar as peças da forma que for, mas o encaixe perfeito nos leva a uma única conclusão: tudo nasce na necessidade da substituição da matriz energética do planeta. O gasoduto Nord Stream 2, que permite levar gás natural da Rússia até a Alemanha, atravessando o Mar Báltico, concluído em setembro do ano passado, não entrou em operação. E tem grande possibilidade de nunca entrar. O Nord Strem 2 é apenas uma peça deste quebra-cabeças.

Os combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural) são as principais fontes de energia utilizadas no mundo desde meados do século XVIII, com a o advento da Revolução Industrial. Na verdade, o uso do carvão como combustível é anterior à história registrada. Dispensável descrever a preocupação sobre a crise climática e o aquecimento global que vivemos atualmente e teremos que enfrentar nas próximas décadas. Fato notório, que as principais atividades humanas que causam o aquecimento global e, consequentemente as mudanças no meio ambiente, tem origem na queima desse tipo de combustível.

A 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), realizada entre 1 e 12 de novembro de 2021 na cidade de Glasgow, na Escócia, colecionou fracassos. Apesar de alguns valorizarem os pequenos avanços, o compromisso foi criticado por ambientalistas, porque um dos principais pontos das negociações, o abandono total do uso do carvão, foi descartado. China e Índia votaram contra. Vladimir Putin, antevendo seus movimentos, nem participou. Fato é que ninguém quer pagar a conta. Enquanto isso o planeta padece.

Paradoxal tudo acontecer em um momento de grande evolução tecnológica que vem transformando a maneira como encaramos o mundo, e acompanhamos a transição de um ambiente materialista para algo digital e intangível. As possibilidades existem, mas o apego à situação atual cria resistências e o medo da perda do poder consolidado. Quando estudamos nos livros os horrores do passado, é inacreditável assistir a mesma história nas telas dos celulares. Continuamos humanos nas nossas qualidades e fraquezas.

Tudo está conectado. As disputas tecnológicas do 5G entre a China e os EUA, que altera o padrão tecnológico de espionagem. O desenvolvimento da fusão nuclear em substituição a fissão para a inédita produção energética. O negacionismo dos teimosos em relação à crise climática que vivemos, apesar do crescimento dos eventos extremos que ocorrem em todo o planeta. As instabilidades instaladas nas democracias e o crescimento dos líderes autoritários. A ineficiência dos capitalistas liberais no equilíbrio social. A resistência no aceite sincero da diversidade racial, cultural, religiosa, de gênero e afins. Impossível se limitar apenas as visões e versões geopolíticas.

Muito se fala sobre a viabilidade e a necessidade da criação de um metaverso. Pensamos nesse ambiente para games, ações de marketing, reuniões corporativas, eventos esportivos, comemorações e interações entre amigos, economia descentralizada, comercialização de ativos fungíveis e não fungíveis, entre tantas outras possibilidades. Será que não poderíamos pensar em um metaverso para construirmos cenários de guerra, ou para “operações militares especiais” como alguns preferem? Com certeza, em confrontos de avatares, não sofreríamos tanto. Abordaremos isso no próximo texto.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Marcelo Molnar

Marcelo Molnar é formado em Química Industrial, com pós graduação em Marketing e Publicidade. Experiência de 18 anos no mercado da Tecnologia da Informação, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Criador do processo ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de sua relação emocional com seus consumidores. Coautor do livro "O segredo de Ebbinghaus". Atualmente é Sócio Diretor da Boxnet.

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