Comunicação Não Violenta: da moda à necessidade

Publicado originalmente no Linkedin, em fevereiro de 2020.
– Esta tal de Comunicação Não Violenta está na moda.
– Ainda bem, pois eu creio que nós estamos precisando dela mais do que nunca, disse eu, enquanto pensava nos cenários social e corporativo contemporâneos.
O diálogo acima aconteceu há alguns meses, durante um almoço com uma querida amiga. Mesmo não sendo uma especialista no tema, passei a defender a CNV em situações como esta, após ela ter sido fundamental para superar uma fase bem difícil da minha vida profissional anos atrás.
Durante uma conversa com um colega de trabalho recebi um retorno de que eu “era uma pessoa agressiva”. O bate-papo terminou da pior maneira, aos gritos. Eu, sem saber o porquê daquela observação, e ele com a certeza de que eu era mesmo agressiva.
Embora eu tivesse total consciência de que o meio e as circunstâncias influenciam as ações e as percepções, o modo como aquela observação veio me deixou totalmente abatida, especialmente por eu sempre ter me orgulhado de ser alguém pacífica e de cultivar valores que promovem relações saudáveis.
Nos dias seguintes vieram a insegurança, a observação quase patológica do meu comportamento com os colegas e o comportamento mais sofrível em uma situação como esta: passei a ter dúvidas sobre a minha própria identidade e capacidade.
Demorei meses para reagir, cheguei ao limite da autocobrança para perceber a necessidade de um olhar mais profundo sobre mim mesma, porque mesmo entendendo o contexto corporativo e até machista que havia nas entrelinhas do comentário (mulheres, façam uma análise redobrada quando forem chamadas de agressivas), o fato era que eu tinha de fazer algo com aquela crítica negativa e acabei decidindo pelo óbvio, tirar o melhor dela.
Foi então que eu me lembrei da CNV e passei a buscar mais referências sobre o tema. A quase maioria dos conteúdos me levava ao livro “Comunicação Não-Violenta” do psicólogo Marshall Rosenberg, o desenvolvedor do método.
Marshall começa o seu livro apresentando os quatro pilares da CNV – Observação, Sentimento, Necessidade e Pedido. Basicamente, o autor explica por meio de teorias e de suas experiências em campo o processo de escuta, entendimento e interesse legítimo pelo sentimento e necessidades, próprias e dos outros, antes de qualquer pedido. Obviamente recomendo a leitura do livro para melhor aprofundamento.
Após ler Marshall passei a exercitar a técnica, em casa, com amigos, no trabalho e posso afirmar o quanto é difícil mudar comportamentos tão enraizados e até celebrados em nossa cultura. A escuta e a empatia, por exemplo, deveriam ser o básico em todos os relacionamentos, no entanto, é mais simples reagir à situação.
Todo este processo de autoaprendizado me mostrou um caminho diferente para o “você é agressiva”. Passei a imaginar os sentimentos e as necessidades do colega naquele momento e me afastei do aspecto pessoal, com toda a certeza a conversa também teria sido bem diferente se a pessoa envolvida no diálogo tivesse feito o mesmo comigo.
Por essa e por outras, passei a ser uma defensora da CNV e me encho de esperança ao ver o tema “na moda”, especialmente no ambiente corporativo em que muitas vezes as relações tóxicas são propulsoras de distúrbios psicológicos e outras doenças, que além dos prejuízos às empresas, têm causado muito sofrimento humano que poderia ser evitado.
Não por acaso, vem aumentando o número de empresas que oferecem programas para acompanhar o estado psicológico dos colaboradores.
A capa da Exame de fevereiro de 2020 (edição 1203) fala sobre o crescimento da síndrome de Burnout, um tipo de esgotamento mental e físico causado pelo estresse no trabalho. É hora de virar este jogo.
Os relacionamentos são sempre a base para as transformações. É por meio deles que cenários corporativos mais leves e saudáveis serão construídos e a Comunicação Não Violenta terá um papel fundamental para atingirmos esse objetivo.
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