23 de dezembro de 2020

Capítulo Aberje Santa Catarina aborda o tema VUCA x BANI

3ª edição do Encontro SC discutiu o papel da Comunicação além da resposta e prevenção de crise

3ª edição do Encontro SC discutiu o papel da Comunicação além da resposta e prevenção de crise

Há 50 anos, o termo VUCA vem refletindo as dinâmicas no âmbito corporativo em todo o mundo. A pandemia do novo coronavírus parece ter dado um fim a esse ciclo trazendo consigo o mundo BANI. No lugar de volátil (Volatile), incerto (Uncertain), complexo (Complex) e ambíguo (Ambiguous), o mundo agora é frágil (Brittle), ansioso (Anxious), Não-linear (Non-linear) e incompreensível (Incomprehensible). 

Por meio deste diálogo, o Capítulo Aberje Santa Catarina realizou, no dia 16 de dezembro, o 3° Encontro Aberje na região, com o tema central Crises na Crise e o VUCA x BANI 2020: o papel da comunicação além da resposta e prevenção. O diretor do Capítulo Aberje Santa Catarina, Leonardo Mosimann Estrella, gestor de Comunicação da SCGÁS recebeu o jornalista João José Forni, consultor em comunicação com foco em gestão de crises para debater o assunto.

Tudo agora é BANI

Surgida para explicar o cenário pós-Guerra Fria ainda serve, a expressão VUCA ainda consegue explicar o mundo contemporâneo? E o que a pandemia da covid-19, tem a ver com a vinda do mundo BANI? Durante o encontro, Léo Estrella esclareceu como está sendo a transição VUCA x BANI a partir de um contexto histórico e provocou os participantes sobre qual o papel que o profissional de comunicação deve ocupar neste processo. 

Em sua análise, o executivo utilizou os Ciclos de Kondratieff – flutuações características do desenvolvimento da economia capitalista que duram cerca de 50 anos (veja quadro abaixo) para mostrar o centralismo da economia global. “Mais do que compreender o que quer dizer a denominação ‘BANI’ é importante sabermos como nos comportar diante disso”.

Segundo Estrella, algumas questões do VUCA já estão sendo colocadas em xeque como a existência da assertividade nos diálogos entre marcas e usuários nas mídias sociais; do controle no que é fornecido por uma base de dados bem administrada e de uma simplificação por meio dos algoritmos de Inteligência Artificial. “Na Guerra Fria existia uma outra esfera que explicava no nascimento desse mundo VUCA e que agora está sendo deslocado”, disse, acrescentando que o gestor de comunicação deve estar atento à intoxicação pela liberdade. “Esse espaço de independência gera medo, aflição e ansiedade e talvez possa explicar um pouco esse mundo BANI que está chegando”.

Como se colocar diante disso? Pesquisa da Deloitte The Crisis of Confidences (2016) feita com as 300 maiores corporações do mundo, sob o ponto de vista de resultado operacional, aponta que 76% dos pesquisados enxergavam as empresas preparadas para as crises, mas apenas 49% afirmaram ter aptidão ou processos adequados para lidar com ela; revelando então que há uma forte indicação de que a consciência de crise, a preparação e a resiliência precisam ser tópicos mais proeminentes nas salas de reuniões.

Estudo feito por Estrella, em 2017, sobre 30 empresas do setor de energia nacional, trouxe algumas conclusões bem parecidas com a pesquisa feita pela Deloitte: empresas com foco em engenharia e estrutura tendem a deixar a marca e imagem em um segundo plano; a gestão de crise não é prioridade e não está na agenda dos executivos das grandes corporações; estruturas que são dedicadas à gestão de crises não estão adequadas para dar a melhor resposta; os comitês de crise são informais e há ausência de manuais, treinamentos e simulados periódicos.

Apresentação de Léo Estrella

 O executivo ressalta que o atual cenário, somado às características do mundo BANI, de período econômico depressivo, já sinaliza um alerta e o grande questionamento é quanto ao papel do profissional de Comunicação enquanto  ferramenta que existe para se comunicar, se relacionar, desenvolver mercado, provocar consumo, posicionar produtos. “Hoje, as organizações tendem a entregar a gestão de crises para as áreas de comunicação, mas penso que a Comunicação não consegue dar conta disso sozinha. A pandemia está aí para explicar, ao mesmo tempo em que conseguimos dinamizar esse processo, provocar a cultura para poder responder; teremos que fazer algumas escolhas nesse processo e enfrentaremos crises cada vez mais complexas. Muitas crises se desdobraram da pandemia, surgiram através dela ou foram potencializadas em razão desse contexto, que é o mundo BANI”.

A Comunicação é estratégia ou faz parte do negócio?

Sob o ponto de vista cultural e funcional, como a comunicação deve entrar nesse processo? Como ferramenta, como atividade juntamente com outras áreas ou como parte estratégica desse processo? Onde deve se posicionar em relação ao negócio e de que forma esse sistema pode ser alimentado? A Comunicação consegue dar conta de todo esse processo? São várias as questões.

Para o professor João José Forni, a Comunicação é a grande âncora de tudo. “O momento é ímpar para a Comunicação. Não tem como tocar no assunto da pandemia sem uma boa comunicação, o grande elemento para equalizarmos essa crise da melhor forma possível. Ao mesmo tempo, trazemos as empresas para este cenário, como elas estão se comportando? Passado esse cenário, talvez tenhamos um quadro das empresas que se saíram bem, porque administraram bem a crise”, refletiu. “As que não se saíram bem são aquelas que não conseguiram conquistar a confiança dos stakeholders, que vai do acionista ao empregado, do empregado ao fornecedor. A grande sacada que temos é mantermos a confiança nos stakeholders. Como as empresas estão encarando este novo cenário BANI?”, indagou.

João José Forni

Forni salienta que as crises ocorrem uma atrás da outra ou uma em meio a outra: crise da pandemia, dos refugiados, dos deslocamentos urbanos, crise climática… “Não se consegue fazer uma boa administração de crise, se as organizações não tiverem compliance, auditoria e uma boa governança corporativa, a Comunicação sozinha não vai resolver o problema das empresas ao enfrentarem crises”.

Outro ponto levantado pelo especialista em Gestão de Crises, é a Comunicação de Crise que não é a mesma coisa que gerenciamento de Crise. “A comunicação de crise é um pilar importante do gerenciamento de crise. Mas nós da Comunicação, não somos responsáveis pelo gerenciamento de crise da empresa”, ressaltou Forni. “A reputação da organização está na mesa da diretoria a cada decisão que ela toma, todos os dias. E quem cuida dessa reputação é o pessoal da Comunicação. Temos que estar ligados às decisões da diretoria, para estarmos preparados, senão somos tomados de surpresa”, complementou.

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