Capítulo Aberje Ceará fecha o ano com debate sobre o tema de 2020: Comunicação Não-Violenta
![](https://www.aberje.com.br/wp-content/uploads/fly-images/52079/Participantes-470x300.png)
2ª edição do Encontro Ceará viabiliza troca de experiência e de vivência sobre CNV entre associados
O Capítulo Aberje Ceará realizou, no dia 10 de dezembro, o 2° Encontro Aberje na região, para abordar o tema Comunicação Não-Violenta. Na ocasião, a diretora do Capítulo Aberje Ceará Emanuela França, gerente de Comunicação da CSP – Companhia Siderúrgica do Pecém, recebeu Fernanda Moreno, coordenadora do curso de MBA em Gestão de Pessoas do Centro Universitário Farias Brito; Aline Castro, diretora de Comunicação do TRT-SP e VP do Fórum Nacional de Comunicação e Justiça; e Pamela Seligmann, psicóloga e pedagoga, também instrutora de CNV na Escola Aberje. Mediou o evento Mauro Costa, sócio-fundador e diretor de Comunicação Institucional da AD2M Engenharia de Comunicação.
Ao agradecer a presença de todos, Emanuela França salientou a Comunicação Não-Violenta (CNV) como prática cada vez mais necessária. “A pandemia tem nos exigido mais empatia, mais respeito, mais inclusão e mais escuta e dentro das organizações essa adaptação do híbrido virtual/presencial tem sido um exercício, um desafio para as lideranças e para os times, mantendo a comunicação saudável, humanizada e gerando resultados”.
Reflexões sobre a CNV
A proposta essencial da Comunicação Não-Violenta (CNV) é focar a comunicação na investigação das necessidades humanas universais. Marshall Rosenberg, criador dessa abordagem, diz que “podemos treinar para enxergar a expressão de necessidades a partir do que os outros falam, não importa como se exprimam” e que “não podemos nos responsabilizar pelas necessidades alheias, mas pela maneira que nos comunicamos”.
A coach Fernanda Moreno considera a CNV uma filosofia de vida: “é uma fonte inesgotável, quem cai nessa água não quer mais sair, quer se banhar sempre”, disse. Na ocasião, Fernanda compartilhou sua própria experiência com a Comunicação Não-Violenta por meio de várias reflexões. “Não está no nosso controle mudar ninguém, mas aprendi que o que eu posso fazer pelos outros é me tornar uma pessoa melhor”, iniciou.
![](https://www.aberje.com.br/wp-content/uploads/2020/12/Fernanda-Moreno.png)
Ela frisou que, em Comunicação, muita coisa pode ser mal interpretada. “Na forma alienante de se comunicar não há espaço para uma conexão honesta porque há crítica e julgamento. A CNV vem enfatizar a forma como as pessoas se comunicam e expressam suas necessidades. A ‘minha’ necessidade não é mais importante que a do outro”, ponderou. Uma inquietação muito veemente de Marshall era refletir sobre o que mantém alguém conectado ou afastado de sua natureza compassiva. “Todos temos a bondade, a compaixão e a empatia dentro de nós. Podemos reaprender a escutar, no sentido de nos conectarmos com o outro. O que está vivo em você? Reflita sobre isso, se observe internamente e perceba as suas necessidades”, provocou.
“Vivemos em uma realidade de conformismo ou de autoritarismo. Ou ‘eu’ faço o que as pessoas querem ou ‘eu’ faço o que todo mundo faz, porque é mais cômodo, mais confortável e esquecemos que temos a nossa essência, a nossa singularidade. A gente corre o risco de não ser visto, de estar vivo mas não existir, de ter saúde mas estar doente mentalmente”, analisou. “A vida, na sua simplicidade, nos chama à realização de sentidos e isso é algo muito grandioso mas, muitas vezes, não percebemos o que há nas entrelinhas do que é dito e também do que não”, refletiu a especialista em logoterapia – tratamento terapêutico com foco no sentido da vida criado pelo psiquiatra Viktor Frankl.
A metáfora da girafa e do chacal
A girafa é o mamífero terrestre que tem o maior coração e do alto do seu pescoço, consegue ver mais longe, enxerga outras possibilidades, consegue ir além. Por isso a girafa representa, na CNV, uma forma de comunicação que amplia o olhar diante das situações. Já o chacal, animal predador e agressivo, simboliza uma comunicação com pouca ou nenhuma conexão com o outro, através de um olhar raso sobre as coisas, cheio de críticas e julgamentos.
![](https://www.aberje.com.br/wp-content/uploads/2020/12/Marshall-Rosenberg.png)
“Podemos aprender tanto com a girafa quanto com o chacal. Ao nos aprofundarmos na CNV percebemos que não temos inimigos e paramos de entender as situações como afronta ou embate; passamos a perceber a necessidade do outro”, salientou a coach Fernanda Moreno.
Tecnicamente, a CNV apresenta quatro passos para uma comunicação conectada: a observação, o sentimento, a necessidade e o pedido. “Observar um fato sem julgamentos é o primeiro passo. Muitas vezes vemos apenas um recorte de algo que é muito maior do que o que estamos vendo naquele momento específico”.
A CNV também ensina a parar para refletir sobre o que realmente se quer. “Ao se conectar com esse sentimento do que se quer com honestidade é possível perceber quais são as nossas necessidades. É preciso se conectar a elas para fazer pedidos a mim mesma ou a alguém. Mas antes se pergunte o que você pode fazer por você hoje. A CNV nos traz essa autorresponsabilidade: cuidar de si mesmo antes de cuidar do outro”, complementou.
A CNV no universo corporativo
O modelo estruturado por Marshall, baseado em quatro passos – observação, sentimento, necessidade e pedido – não tem o objetivo de tornar as relações mecânicas. Pelo contrário, esses elementos abrem caminho a uma conexão com mais verdade nos processos de comunicação, em que há respeito pelas necessidades alheias e pelas próprias, contribuindo para relações mais harmoniosas, inclusive no ambiente de trabalho.
Ao abordar a Comunicação Não-Violenta no universo corporativo, Aline Castro acredita ser um processo que não ocorre da noite para o dia. “Para mim, a maior expressão de uma comunicação violenta é aquela que está no ‘piloto-automático’. Vivemos num mundo autocentrado e egóico, num ritmo de vida acelerado e inconsciente e essa abordagem vem nos convidar a ganharmos mais consciência dos processos comunicativos em todas as esferas. Muito mais do que uma técnica que remete à mecânica, a CNV é um misto de linguagem com pensamento e pode dar um novo significado para nossas relações em múltiplos níveis”, disse.
![](https://www.aberje.com.br/wp-content/uploads/2020/12/Aline-Castro.png)
Em sua análise, a CNV pode estar em tudo nas organizações mas, principalmente no que se refere à gestão de pessoas e às políticas de comunicação. “Ela pode transformar nosso jeito de liderar. A pandemia tornou as coisas mais difíceis com as pessoas trabalhando à distância e, ao identificar com mais clareza o que eu estava sentindo e o que eu estava precisando – por meio do conhecimento na CNV -, eu consegui fazer pedidos mais claros”, contou.
“Incorporamos a escuta no nosso processo comunicativo, para atender às necessidades organizacionais e ao mesmo tempo, colocar nossos públicos no centro desse processo, com menos modismo de redes sociais e mais essência em nossas manifestações. Uma comunicação feita com real humanidade, carregada de sentido e consciência dá vitalidade e energia à organização. Se unirmos isso a lideranças mais perceptivas e conscientes”, complementou.
Uma maneira de estar no mundo
Segundo Marshall, o cerne da Comunicação Não-Violenta é que toda violência é a expressão trágica ou dramática de uma necessidade que não está sendo atendida. “Nós passamos por momentos em que nossa expressão é violenta quando deixamos de atender a nossa própria necessidade”, esclareceu a psicóloga Pamela Seligmann, instrutora da Escola Aberje, que estuda a CNV há 13 anos.
A CNV é a nossa oportunidade diária de contribuirmos a partir do nosso local de trabalho, da nossa família, das nossas relações para não aumentarmos ainda mais o grau de violência que existe no mundo. “Não somos violentos, estamos violentos. Por que o entretenimento das famílias à noite na TV é um filme de assassinato? Por que o videogame mais vendido no mundo é o Fortnight, um jogo cuja finalidade é correr atrás de alguém com uma arma para exterminá-la?”, questionou a especialista. “Porque está no nosso lazer atentar contra o nosso semelhante. É a banalização do mal”, respondeu.
![](https://www.aberje.com.br/wp-content/uploads/2020/12/Pamella-Seligmann.png)
Pamela segue sua análise dizendo que ‘construímos uma sociedade que, além de perseguir a violência como lazer, anula e vê de forma pejorativa as emoções negativas, aquelas nada agradáveis de sentir – como raiva, medo e tristeza. “São elas que justamente nos protegem e nos alertam que nossas necessidades não estão sendo atendidas. Nós criamos uma sociedade egoísta em que só há lugar para o prazer e a alegria”, avaliou.
Ao trazer a questão da consciência, a especialista frisou que não é possível desvincular a CNV da psicologia, já que se trata de um caminho de autoconsciência. “Eu preciso estar atento às minhas necessidades. As necessidades universais humanas são comuns a todas as pessoas. Normalmente as pessoas brigam porque querem empurrar as suas estratégias para o outro, achando que a sua é a melhor”, explicou.
Mais do que uma metodologia, a CNV é uma abordagem, uma maneira de se colocar no mundo e de olhar para as relações, que tem a ver com ‘poder’, mas o ‘poder com’ e não o ‘poder sobre’. “Todos os dias buscamos atender as nossas necessidades e não a dos outros. Não é difícil falar girafa, difícil é desconstruir as estruturas de chacal, ou seja, permanecer em algo que não funciona mais. CNV é prática e no começo sai uma girafa com orelha de lobo, com rabo de guaxinim, uns ‘Frankensteins’, tudo menos girafa. É preciso praticar, praticar e praticar”, recomendou.
COMENTÁRIOS:
Destaques
- Escola Aberje leva comunicadores para Amazônia em expedição imersiva
- Encontro de líderes debate responsabilidade do setor empresarial e papel da comunicação na COP30
- Aberje realiza reunião presencial com Comitês de Estudos Temáticos em São Paulo
- A comunicação é forte em mercados em que as associações são fortes
- Aberje participa do painel de entidades no 19º Congresso da Abraji
ARTIGOS E COLUNAS
Marcos Santos Maratona da vidaMônica Brissac Thought Leadership: marca pessoal x reputação corporativaLetícia Tavares Liderança comunicadora: um tema sempre atualHamilton dos Santos Comunicação é estratégica na economia contemporâneaCarlos Parente Um salto ornamental para mergulhar no pires