17 de novembro de 2021

Web Summit Lisboa (dia 3): “Comunidade” continua a ser a palavra do dia

Victor Pereira, da área de Relações Institucionais e Internacionais da Aberje, em parceria com a associada Brivia, participa do Web Summit 2021 Lisboa
Última edição do Web Summit, em 2021

Victor Pereira, da área de Relações Institucionais e Internacionais da Aberje, em parceria com a associada Brivia, participa do Web Summit 2021 Lisboa, principal evento de tecnologia e inovação do mundo, e traz insights da conferência para os profissionais de comunicação.

Os sentidos atribuídos à palavra “comunidade” remetem à pertencimento, trocas efetivas, interesses específicos e ambientes seguros. Em quase todos os cantos do WebSummit era possível ouvir alguma consideração em relação a criação, cultivo e desenvolvimento de comunidades. São ideias até mesmo muito bem fundamentadas no campo da comunicação, mas que ganharam outro sentido com o desenvolvimento tecnológico. Contudo, a ideia pura de uma troca honesta entre pessoas de qualquer lugar do mundo deu espaço a uma preocupação anterior, relativa a dados, moderação e propostas de soluções para uma web mais segura.

A COO do Reddit, Jen Wong, em um painel intitulado “Comunidades online e seu papel em um mundo pós-pandêmico”, trouxe um pouco de sua visão sobre o poder dessas coletividades. Para ela, o fomento de comunidades pode ter duas funções: detectar tendências e encontrar sinais de um caminho entre tantos ruídos. Para uma empresa que abriga mais de 50 milhões de pessoas diariamente em seus fóruns, a tarefa parece ser ainda mais difícil. No entanto, o Reddit ainda aposta na receita de moderação pelos próprios usuários, compartilhando a responsabilidade com quem também tem o interesse de manter a plataforma. “Toda comunidade tem um humano moderador, pois eles possuem a habilidade para avaliar o conteúdo”, afirmou Wong. Para ela, o próximo arco de desenvolvimento da internet se dará justamente no fortalecimento de comunidades locais.

Quase como um contraponto ao metaverso, o próximo passo do avanço tecnológico apontado por Wong parece mais atrativo. Ao invés de um novo universo, onde abandonaríamos a realidade física de nossos ambientes, o fortalecimento do “local” soa mais próximo ao desafio de encontrar soluções para problemas reais, como a preservação do meio ambiente, consumo mais consciente e trocas mais equilibradas.

Para o fundador da internet, algo deu errado com sua criação

Foi em tom de desculpas que o fundador da internet, Sir Tim Berners-Lee, se referiu à sua criação, a world wide web.  Mais especificamente, ele falou sobre o caminho que o uso de dados tomou na internet. A falta de uma identidade digital na criação da web, que hoje é preocupação geral, foi o que faltou, na opinião de Berners-Lee. Ao lado de seu sócio John Bruce, Bernes-Lee falou sobre a proposta de sua empresa, Inrupt, para a criação do Solid.

O projeto prevê uma descentralização da web, que muda a forma como os dados são compartilhados e os protegem em “cápsulas”, utilizando tecnologias como blockchain. O controle dos dados passa diretamente ao usuário, que decide com quem quer compartilhar ou não.  No entanto, essa não é a única opção que vem sendo desenvolvida. Várias empresas, como a gigante Microsoft, tentam emplacar sua versão de uma identidade digital descentralizada, ou DDI (Decentralized Digital Identity), na sigla em inglês. O assunto fará parte da pauta de muitos países em relação à segurança e controle de privacidade, e é preciso estar atento sobre os desdobramentos. Para a comunicação, o desafio será em pensar novas maneiras de, por exemplo, desenvolver estratégias digitais para um público mais preocupado com os rastros que deixados na internet.

Made in Brazil

Você conhece a marca de calçados Veja? Bem, talvez você conheça por Vert, como foi rebatizada em sua chegada no Brasil. Ou talvez não tenha sido realmente uma chegada, já que os calçados são produzidos aqui mesmo, em solo brasileiro, há bastante tempo. O fato é que desconhecer a marca não é nenhum demérito, uma vez que seus criadores fazem bem pouco esforço de divulgação e marketing. Em um painel dedicado a discutir marcas cultuadas e o que elas fazem de diferente, um dos fundadores da Veja, Sebastien Kopp, falou sobre como mantem sua marca sustentável e como lida com o crescimento lento.

Preocupado com questões como os salários dos fornecedores de algodão orgânico e quais produtos químicos estão sendo utilizados em seus produtos, Kopp explicou que uma cadeia realmente sustentável cresce devagar. Se em um dia tentar aumentar sua demanda por algodão, os produtores não poderão acompanhar e seria preciso comprar de outros fornecedores, o que ele não deseja.

Mas apesar de não fazer propaganda de seus produtos e vender em escala reduzida, a marca é desejada por muitos. Kopp diz que odeia receber newsletters e é taxativo quanto a o que considera uma boa comunicação. “Não falamos de futuro, isso é greenwashing, falamos do que está na mesa”, afirmou em referência à importância que dá para a forma como seu negócio é conduzido.

Na contramão do que pode ser ouvido em outros palcos, Kopp contou como não gosta de utilizar influenciadores ou celebridades para promover seus tênis. “Me ligam pedindo tênis, mas eu prefiro dar para quem precisa”, contou. De qualquer maneira, os produtos podem ser vistos nos pés de quem influencia – e pode pagar os altos preços.

O caminho adotado pela Veja, no entanto, vai de encontro com muito do que é falado quando se discute sustentabilidade. Um planeta mais sustentável passa pelo consumo mais lento e pela valorização da cadeia de produção. Mais uma vez ficou provado que ser ético é cada vez mais fashion.

 

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Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Victor Pereira

Victor Henrique Pereira é responsável pela área de Relações Institucionais na Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Formado em Relações Públicas, é mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA USP), e MBA em Gestão da Comunicação (Aberje-ESEG). É membro do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN-ECA-USP).

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