11 de março de 2020

Algoritmo da Vida: solução tecnológica no combate à depressão

Luciana Coen (Foto: Evandro Moraes)

Projeto será apresentado no Aberje Trends 2020

Jornalista de formação, Luciana Coen tem mais de 20 anos de carreira em comunicação integrada, mídias sociais, relações públicas e sustentabilidade. Atualmente, Luciana é Diretora de Comunicação Integrada e Responsabilidade Social Corporativa da SAP Brasil, multinacional especializada em software para empresas. É membro do Conselho da Aberje e dos Comitês de Comunicação da AHK e de Sustentabilidade Amcham-SP. 

A executiva é uma das responsáveis pelo projeto “Algoritmo da Vida”, que busca identificar e oferecer ajuda à pessoas com depressão e tendências suicidas, no ambiente digital. “Na prática é um robô que varre todos os tweets postados no Twitter no Brasil. Essa tecnologia está baseada em uma metodologia, criada pela Universidade de Harvard e batizada de ‘gramática da depressão’,  que separa os tweets que indicam algum grau de vulnerabilidade emocional”, explica a diretora. 

Uma das palestrantes no Aberje Trends 2020, Luciana irá abordar o case do Algoritmo da Vida no evento. Em entrevista exclusiva ao portal Aberje, a jornalista fala sobre o projeto e sobre sua participação no evento.

O Aberje Trends 5ª edição tem patrocínios da Basf, Coca-Cola, CPFL, GM, Itaú, Latam Airlines, LexisNexis, McDonald’s, SAP, Workplace from Facebook; apoio da Volkswagem; e media partner do Estadão.

Confira, na íntegra, a entrevista abaixo:

Luciana Coen, diretora de Comunicação Integrada e Responsabilidade Social Corporativa da SAP Brasil (Foto: Evandro Moraes)

Como e quando a sua trajetória profissional passou a se relacionar com esse tema da Inteligência Artificial (IA), ciência dos dados e algoritmos?

De uma certa forma, sempre me relacionei com a tecnologia, pois passei alguns anos atuando em redação de veículos especializados em TI e sempre foi um tema pelo qual tive forte interesse. No momento em que ingressei na SAP o  conhecimento e o interesse aumentaram, principalmente no que se refere ao potencial transformador de novas tecnologias, como inteligência artificial, realidade virtual/aumentada, big data, entre outros. E desde o ano passado, finalmente tive a oportunidade de trabalhar diretamente em um projeto de AI e algoritmo de dados. Desde o momento em que conheci o protótipo do Algoritmo da Vida, criado pela Agência África e pela empresa de tecnologia BIZSYS eu me apaixonei pelo projeto e criei um movimento positivo na SAP para abraçá-lo. Esse engajamento é resultado do potencial que vejo na tecnologia associada ao tema da saúde mental, que faz parte do meu propósito de vida. Juntar essas duas coisas trouxe um sentimento de realização e estou muito feliz por fazer parte dessa iniciativa. 

Após quase um ano do lançamento do Algoritmo da Vida, qual o balanço que você faz do projeto? É possível mensurar o impacto até agora?

Quando o projeto foi concebido e nos primeiros cinco meses ele funcionou como um protótipo e provou a sua efetividade. Esses resultados fizeram com que a SAP e a AWS decidissem apoiar e continuar investindo. Com a entrada da SAP e da AWS o algoritmo foi profissionalizado. Deixou de ser um protótipo, foi hospedado na AWS que, além da capacidade para que ele rodasse com todo o potencial da nuvem, também tem um time de profissionais (que inclui arquitetos e cientistas de dados) para retroalimentar a solução, deixando-a mais “inteligente”. A entrada da SAP permitiu que a ferramenta e o banco de dados fossem replicados em um ambiente SAP Cloud HANA para refinamento do algoritmo, como melhorias da base de dados e adição de inteligência analítica, capaz de identificar mudanças de comportamento nos perfis monitorados e sinalizar quando uma ação imediata é necessária.

Com isso, o Algoritmo da Vida condensa em um banco de dados uma série de informações que também podem ser disponibilizadas para estudos sobre saúde mental. Outro ponto é que a mediação humana está sendo feita pelas ONGs Horas da Vida e Espaço SER Casa Matheus Campos. Essas organizações contam com profissionais especializados na área de saúde mental e de prevenção ao suicídio. Com a entrada da SAP, AWS e o reforço das entidades, o algoritmo está mais inteligente, com retroalimentação por inteligência artificial, mediação profissional e liderada pela sociedade civil. Deixou de ser apenas uma iniciativa da área privada. 

Qual é o futuro do projeto?

Além do aprimoramento contínuo do algoritmo, estamos avaliando novas parcerias e temos muitas empresas e entidades interessadas em nos ajudar. Estamos analisando como podem somar e contribuir para que o projeto alcance um maior número de pessoas. Um caminho que estamos avaliando é a tradução e adaptação do algoritmo para que seja capaz de ler tweets em outros idiomas, como o espanhol – que poderia atender grande parte da nossa região e também para o português de Portugal. São possibilidades que estamos estudando. 

O tema do Aberje Trends deste ano é “Comunicação e Algoritmos” e pretende trazer à tona como a IA e a ciência dos dados estão transformando o modo como as marcas, governos e pessoas se comunicam. Como o projeto Algoritmo da Vida transforma essa relação?

O Algoritmo da Vida funciona com inteligência artificial, análise de dados e análise de sentimentos em um sistema que utiliza softwares e análise feita por pessoas. É um projeto que acredita na combinação de capacidades técnicas de inteligência artificial com a empatia que só os humanos têm. Na prática, é um robô que varre todos os tweets postados no Twitter no Brasil e que está baseado em uma metodologia criado pela Universidade de Harvard e batizada como “gramática da depressão”. Essa tecnologia separa os tweets que indicam algum grau de vulnerabilidade emocional e classificam-nos em diferentes níveis, identificando assim pessoas com depressão, tendências suicidas e com atitudes ou tendência à automutilação. Procura combinações de palavras, incluindo abreviações, ao mesmo tempo em que também é capaz de excluir falsos positivos, que são combinações que possam parecer pedidos de ajuda mas são outras coisas. Os tweets selecionados são enviados para um painel e classificados em quatro níveis, de 0 a 100, sendo que os que estão entre 75 e 100 são os mais graves. Um grupo de profissionais faz uma segunda análise e mediação com base nas informações disponibilizadas  e encaminha uma mensagem privada para a pessoa com um link indicando ajuda do CVV (Centro de Valorização da Vida) para apoio psicológico. 

O Algoritmo da Vida é um caso que demonstra o potencial da tecnologia, pois apenas com apoio de sistemas é possível “ouvir” essas pessoas. A grande beleza do robô é que, numa velocidade que seria humanamente impossível, ele lê tudo o que está sendo escrito e separa os pedidos de ajuda – pois o que essas pessoas estão fazendo quando escrevem seus tweets é pedindo ajuda e expondo seu sofrimento. É como se elas fossem ouvidas no Twitter. Ao mesmo tempo em que seria impossível conseguir isso sem a tecnologia, nosso projeto associa a empatia e o lado humano para que num rápido espaço de tempo e com a urgência da situação consiga oferecer uma resposta. A beleza de só ser possível pela combinação da máquina com o homem.  

Qual a sua expectativa em relação a sua participação, especificamente, e ao Aberje Trends como um todo, este ano?

A minha expectativa em relação ao Aberje Trends é a melhor possível – o evento é o mais relevante do mercado de comunicação brasileiro e tem trazido discussões indispensáveis. O tema “Comunicação e Algoritmos” não poderia ser mais atual e umdebate é fundamental. 

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