Alejandro Romero: “todos os comunicadores devem estar atentos ao impacto em nossa profissão causado pela tecnologia”
Alejandro Romero assumiu recentemente a posição de CEO global da LLYC, uma das maiores consultorias de comunicação do mundo ibero-americano, com planos bastante ambiciosos. “Nossa ideia é sermos capazes de ter uma empresa com 100 milhões de euros em professional fees e, nos próximos três anos, sermos capazes de dobrar de tamanho”, afirma com grande entusiasmo. “Vamos crescer de forma orgânica, fruto do nosso trabalho, mas também de maneira inorgânica, por meio de aquisições”, explica. Planos que ele afirma também serem válidos para a operação da consultoria no Brasil, com uma ampliação de atuação em assuntos públicos e regulatórios, performance e digital.
Hoje presente em 12 países e com 20 escritórios, a LLYC tem se firmado como uma consultoria global de Comunicação. O lema de Alejandro para seguir relevante em um mundo em constante transformação é “inventar o futuro”: compreender os caminhos que estão sendo abertos hoje e, com base em análise de dados e modelos de previsibilidade, inventar o futuro, antecipar problemas e criar soluções eficientes para problemas que ainda estão começando a incomodar.
A Aberje recebeu Alejandro em sua sede para um bate-papo com nosso diretor-executivo, Hamilton dos Santos, e aproveitamos para explorar um pouco mais de seus planos para o futuro da LLYC e sua visão sobre a comunicação em nossa região.
Um de seus mantras e da forma como a LLYC estrutura seus negócios é a ideia de “inventar o futuro”. Com sua longa experiência internacional, sobretudo na América Latina, qual seria sua recomendação para o comunicador LATAM para os próximos anos?
Todos os comunicadores, não apenas os latino-americanos, devem estar atentos ao tremendo impacto em nossa profissão causado pela tecnologia. Eu apontaria para dois pontos principais de transformação.
O primeiro é que estamos migrando radicalmente de modelos de prevenção para modelos de previsibilidade, o que é uma mudança radical para a comunicação. Passamos da visão dos nossos sentidos, da nossa experiência para a análise de dados, usando o big data para a tomada de decisão. Pela primeira vez temos ferramentas para medir a gestão da influência e a gestão da reputação de maneira mais eficaz, o que nos mostra perfeitamente se houve ou não uma mudança de percepção ou não.
A segunda grande característica é a transformação na oferta de produtos e serviços. Na LLYC, tudo o que oferecemos hoje aos clientes, não oferecíamos há dois anos. Isso exige muita velocidade de adaptação e uma flexibilidade brutal. Isso não no sentido de apenas evoluir com o mercado e se adaptar, mas de inventar o futuro. Tenho esta frase como um mantra. Devemos entender o que está acontecendo e ter uma visão do que vai acontecer e poder criar o futuro com base nos modelos de previsibilidade.
Este é nosso modelo de consultoria: uma análise de dados profunda, que gera uma análise de territórios e comunidades, que gera influenciadores. A partir de aí, identificamos insights que impulsionam a criatividade eficaz e começamos a criar os conteúdos, que devem ser multiplatarforma (audiovisual, meme, GIF) e multicanal (offline e digital). Estes conteúdos podem ser acelerados com performance, depois voltamos a mensurar para ver que transformação causamos.
Ao final, em todos esses anos que estou na LLYC, nosso modelo de negócio sempre foi buscar contribuir com o negócio de nossos clientes. O que mudou é a maneira de entender o problema e a oferta de soluções. O mais importante segue sendo o desafio do cliente, não as ferramentas que utilizamos.
É uma característica da área de comunicação estar em constante transformação. Há alguns anos, muito se falava sobre gamificação, até outro dia a novidade era o Metaverso e, nas últimas semanas passamos a discutir o impacto da inteligência artificial e do ChatGTP em nossa profissão. Como especialista em comunicação digital e agora CEO Global da LLYC, como seguir oferecendo as ferramentas certas para atender as necessidades de seus clientes?
Na LLYC, investimos em três expressões da inovação. Temos uma área interna de inovação que tem um orçamento anual de 1 milhão de euros, que é um compromisso da empresa. Que é complementada com a LLYC Ideias, que permite que os melhores profissionais da empresa também gerem conteúdo e inovação.
Outro ponto importante para a inovação é a LLYC Venturing, que é nossa companhia de capital de risco. Temos 5 milhões de euros para investir em empresas de alta transformação digital. Queremos ter por volta de 25 investimentos em empresas que possam trazer produtos para a transformação da LLYC. Um desses investimentos é a Erudit, que anunciamos há poucos meses. Uma empresa que faz uma pesquisa de clima com base nas comunicações internas, emails e ferramentas de bate-papo das empresas em 48 horas.
Assim, nossa principal aposta é o digital business, incluindo deep learning e influência digital. Hoje a transformação digital representa 35% do nosso negócio, mas queremos que seja ao menos 50%. Este é a terceira expressão da inovação para a LLYC.
Pensa que estes são também os principais desafios dos gestores de comunicação na atualidade?
Os desafios dos diretores de comunicação são muitíssimos, mas sobretudo a digitalização e a interpretação de dados, somadas à criatividade na hora de desenvolver conteúdos relevantes. Esses são os desafios da comunicação em termos globais, não apenas no Brasil ou América Latina. Por isso os comunicadores devem seguir trabalhando para ter mais influência no interior de suas organizações, estarem presentes nos comitês de gestão e participarem ativamente das tomadas de decisão.
Recentemente, a Aberje publicou uma pesquisa que mostra que o mercado brasileiro de comunicação tem um orçamento anual de mais de R$30 bilhões. Como está a comunicação brasileira em comparação com os outros países da região?
Antes de mais nada, temos que parabenizar a Aberje por seu esforço em medir este mercado. Este é um papel fundamental que cumprem as associações, de serem locais de produção de conhecimento e debate sobre o futuro da profissão.
O resultado da pesquisa mostra que o Brasil, em comparação com outros mercados de comunicação na região ou até alguns mercados europeus, é um mercado bastante grande. Porém, é um mercado com muito potencial para se desenvolver se comparamos com o mercado de telecomunicações, por exemplo, ou de cinema. Os investimentos e comunicação e reputação são um décimo dos investimentos em marketing, por exemplo. E nosso mercado tende ao infinito. Por isso, temos a responsabilidade de sempre aportar mais valor para os clientes com os quais trabalhamos.
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