18 de outubro de 2016

Discussão sobre a velocidade nas marginais de SP é irrelevante

 

Trânsito nas marginais de São Paulo
Trânsito nas marginais de São Paulo

Se o Bom Gestor por ventura chegasse à Terra e listasse as cem questões mais importantes para a vida de São Paulo e seus cidadãos, o limite de velocidade nas marginais não entraria na lista.

A capital paulista tem necessidades gravíssimas de curto e médio prazos e oprefeito eleito João Doria (PSDB) não deve deixar a alteração de uma regra de trânsito em duas avenidas (entre 17 mil km de vias) ocupar a atenção da opinião pública.

Muito barulho por nada: é enorme a chance de qualquer decisão (mudar ou não) causar enorme polêmica, consumir muita energia e, ao final, não resultar em benefício sensível à população e nem aos motoristas.

Além disso, é questão que pode resultar em perda de popularidade logo no início da administração (só 1% dos ouvidos pelo Datafolha apontaram a questão como motivo para votar em Doria). Imagine o que pode ocorrer se os acidentes fatais aumentarem nas semanas após a alteração: quem vai ser acusado pelas mortes?

Com todo seu programa de governo inovador (incluindo quebras de paradigma importantes como as privatizações), Doria terá que dar várias entrevistas, 365 dias por ano, sobre sua responsabilidade no aumento das mortes no trânsito.

Além de não ser tema relevante para a população, nem mesmo para os eleitores de Doria, a medida divide a base de apoio do novo prefeito na Câmara Municipal: vários vereadores eleitos por sua coligação (além dos que defenderam outras candidaturas mas apoiam suas iniciativas fundamentais) são contra a mudança.

Isso ocorre exatamente no início do mandato, quando o Legislativo tem que aprovar os principais pilares do programa do prefeito eleito, como asprivatizações do Anhembi, de Interlagos e das ciclovias; mudanças no sistema de Saúde; a licitação dos ônibus etc.

Pense o leitor: por que enfrentar um tema polêmico e irrelevante quando é preciso obter sólida maioria parlamentar para aprovar medidas realmente importantes? Se o Bom Gestor chegasse hoje ao planeta, enfrentaria tamanho desgaste para tão pouco benefício?

Vilfrido Pareto (francês, 1848-1923) criou a ideia de que devemos aplicar energia naquelas coisas que provocam grande efeito, descartando as questões que podem consumir muito esforço para resultar em pouco benefício.

Pareto entendia que, em toda organização (ele começou estudando fazendas; hoje seu princípio é aplicado a qualquer empreendimento), 20% de esforço alteram 80% dos problemas. Suas ideias são a base de muitas empresas de sucesso no mundo contemporâneo. É até chato ouvir tantos administradores recitarem o Princípio de Pareto em empresas e consultorias.

João Doria, em sua trajetória de sucesso empresarial, deve ter cansado de ouvir e aplicar Pareto. Por isso, sabe que o limite de velocidade nas Marginais é daquelas coisas que exigem 80% de energia para conseguir 20% de benefício Pareto diria: que erro, meu filho!

Agora, imagine o furdunço que o novo prefeito vai provocar para mudar regras de velocidade na Marginal, que não preocupam realmente a população (de fato, a maioria se revela consistentemente incomodada com o que entende ser “a indústria da multa”, o que é inteiramente diferente).

Convenhamos: o Bom Gestor, recém-chegado ao Planeta, diria que isso tudo se trata de uma bobagem. Muito barulho por nada.

(Publicado no site da Folha de S. Paulo. em 17 de Outubro)

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