2º Encontro de Comunicação na Era das Causas discute o papel das empresas em causas sociais
André Romani e Matheus Souza | Jornalismo Júnior
No início deste ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou mudanças radicais em sua política de financiamento. As novas regras indicam uma tentativa de melhorar o custo-benefício dos projetos para a sociedade. A justifica para essas mudanças é evidente em tempos de crise econômica, uma vez que se torna mais forte a cobrança por melhor uso do dinheiro público. Quais empresas e projetos o governo deve incentivar? E, uma vez colocados em prática, o que a sociedade ganha em troca?
Para discutir essa questão, a Aberje promoveu, no dia 10 de agosto em São Paulo, o 2° Encontro da Comunicação na Era das Causas, em parceria com a agência CAUSE. O evento contou com a presença da farmacêutica Libbs e da produtora e exportadora de papéis Klabin, e teve mesas de debate com especialistas do mercado e do poder público discutindo a contrapartida socioambiental das empresas privadas.
Contrapartida social e comunicação
Mas afinal, o que é a contrapartida social? O jornalista Ricardo Arnt, na primeira parte do evento, autor do estudo “Em busca da contrapartida social”, explicou tratar-se de um mecanismo para que as empresas privadas possam, de certa forma, compensar os impactos que geram no território ao redor de suas fábricas. Assim, elas criam projetos que visem impacto socioambiental positivo na região. O BNDES, por exemplo, além de exigir que as empresas usem certa porcentagem do investimento nesses projetos, passou também – a partir de Janeiro desse ano – a privilegiar os projetos de contrapartida social mais eficientes, por meio de juros mais baixos e prazos mais flexíveis.
Ricardo contou que, antes, os projetos escolhidos acabavam sendo apenas os que oferecessem obras de infraestrutura, o que não necessariamente os tornam eficientes. Hoje, com a mudança, projetos que afetem a gestão e se mostrem de grande impacto social também serão aceitos, ao menos na teoria. A questão, porém, de acordo com o jornalista, é que o BNDES não apresenta a transparência que uma instituição desse porte precisaria e, desse modo, não se tem certeza se essas mudanças estão ocorrendo realmente e com qual regularidade.
Ainda nessa parte do evento, Daniela Gomes Pinto, Coordenadora do Programa de Desenvolvimento Local do GVces (Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-EAESP), ressaltou a importância da comunicação entre órgãos públicos e privados nos projetos de contrapartida social. A empresa deve investigar as necessidades da região e tentar ajudar a supri-las. Normalmente, contou ela, o setor privado acaba fazendo obras de infraestrutura, como construir escolas e hospitais, que apesar da aparente boa ideia, sem a devida gestão pública, tornam-se inúteis.
Por essa razão, a comunicação entre empresa e sociedade é imprescindível. Daniela afirma que, com muita transparência do setor privado, é possível conquistar a confiança da população da região e encontrar formas de gerar impacto real para a comunidade.
Cases de sucesso
Para exemplificar o que foi posto em debate, no segundo bloco o evento trouxe dois casos em que a contrapartida social foi alcançada com sucesso. Marcia Bueno, Diretora de Relações Institucionais da Libbs, apresentou o projeto “Tempo é saúde”, realizado em Embu das Artes (SP). Conforme explicado por ela, o primeiro passo foi identificar qual seria o foco da ação, o que foi feito a partir de pesquisas com a população. Dessa forma constatou-se que o sistema público de saúde era o maior alvo das queixas. Ao invés de investir esforços na construção de mais obras, a empresa resolveu focar em melhorias na gestão da saúde.
Assim, com financiamento do BNDES, o projeto implantou o sistema e-SUS, que modernizou o processo de atendimento das Unidades Básicas de Saúde do município, tornando-o mais prático e rápido.
Márcia destacou que, para garantir o sucesso, houve uma grande preocupação quanto ao planejamento, estudando-se a fundo não somente a melhor maneira de colocar o projeto em prática, mas também como e quando divulgá-lo para a população. Isso só foi possível devido ao diálogo constante entre a Libbs, a agência CAUSE, a Prefeitura de Embu das Artes e outras empresas parceiras. O ex-prefeito do município, Francisco Brito, também participou do encontro, e chamou a atenção para a importância de se considerar também o contexto socioeconômico da região e os diversos atores políticos que a cercam. Segundo ele, fatores nem sempre levados em conta, como as disputas políticas específicas de cada local, por exemplo, podem ser determinantes para que a contrapartida social seja bem sucedida.
O segundo caso apresentado foi o da Klabin, terceira maior do mundo no ramo de papéis para embalagem. Quem palestrou sobre o assunto foi Sergio Piza, Diretor de Gente e Gestão, Sustentabilidade e Comunicação da empresa.
Assim como no caso anterior, foi feito um estudo demográfico, educacional e econômico da região em questão – Ortigueira, município no norte do Paraná que até pouco tempo era conhecido por possuir o menor IDH do Brasil. O estudo resultou no programa “Klabin semeando educação”, criado para trazer melhorias no sistema educacional de uma gestão escolar mais eficiente, tanto administrativamente quanto em sala de aula, através do treinamento e capacitação de profissionais.
Ao final, ficou a mensagem de que o sistema de contrapartida tem potencial para satisfazer tanto empresas quanto população, mas para isso depende de uma série de fatores, passando pelo planejamento, diálogo e, principalmente, o interesse real de garantir impacto social positivo.
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