Projeto de agroecologia é premiado na Alemanha e integra banco de tecnologia social da Fundação BB
O método de reaproveitar resíduos orgânicos para fazer compostagem e o desenvolvimento da agricultura urbana foi reconhecido, na Alemanha, como uma das 15 práticas excepcionais em agroecologia do mundo. A iniciativa, originalmente brasileira, é conhecida como Revolução dos Baldinhos e foi desenvolvida com o apoio do Cepagro (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo), de Florianópolis (SC).
A iniciativa foi a única representante do Brasil na premiação do Fórum Global de Alimentação e Agricultura, realizada no dia 18, durante a Semana Verde Internacional, em Berlim. O concurso foi promovido pelo WFC (World Future Council), que escolheu, entre 77 indicações, de 44 países, práticas que promovem a transição para a agroecologia do Sul do globo e que atingiram os critérios de agroecologia desenvolvidos pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Os escolhidos são projetos, programas, empresas sociais e organizações não-governamentais ligadas à alimentação sustentável.
Por ser reconhecida como tecnologia social, a Revolução dos Baldinhos passou a integrar o Banco de Tecnologias Sociais da Fundação BB, instituição associada da Aberje, para que a metodologia possa ser reaplicada em qualquer localidade do Brasil. A metodologia pode ser conferida aqui: http://bit.ly/2RcY9GU
A Revolução dos Baldinhos teve início em 2008, na comunidade Chico Mendes, região continental de Florianópolis, para resolver um problema grave de contaminação de doenças pelo manejo incorreto do lixo e que ocasionou na infestação de ratos – incluindo a morte de pessoas por doenças. O saldo do trabalho realizado por meio da gestão comunitária de resíduos e da compostagem foi a redução do número de doenças, higienização das ruas e o envolvimento da comunidade. A iniciativa sensibiliza as famílias para a reciclagem das sobras de comida e as transforma em composto orgânico, disseminando o plantio como promoção da saúde e alimentação saudável.
A metodologia constrói um círculo virtuoso. No momento em que se recolhe os resíduos orgânicos nas casas, escolas e creches, faz-se a entrega do adubo aos moradores, que utilizam em suas hortas e pequenas plantações orgânicas, resultando em alimentos saudáveis. O lixo que segue para a coleta pública, sem a mistura de restos de comida, fica seco, sem mau cheiro, não suja a rua e é facilmente manuseável. Além disso, ao separar o lixo, a comunidade faz a triagem de materiais, encaminhando aquilo que pode ser reaproveitado para a reciclagem.
Este não é o primeiro prêmio da instituição, em 2011 já havia sido certificada como Tecnologia Social, no prêmio nacional Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Dois anos depois, foi vencedora na mesma premiação, desta vez, na categoria Instituições de Ensino, Pesquisa e Universidades. A iniciativa também é uma das cinco escolhidas para ser implementada no Projeto Moradia Urbana com Tecnologia Social (Muts) – criado para mobilizar moradores por meio da convivência social e da reaplicação de tecnologias sociais em empreendimentos de baixa renda, permitindo o protagonismo social e a geração de renda. O Muts é voltado para população com renda familiar de até R$1,8 mil mensais que vivem em residenciais financiados pelo Banco do Brasil.
Segundo Júlio César Maestri, engenheiro agrônomo da Cepagro, os prêmios são importantes, no sentido de exaltar a experiência comunitária dos moradores que há tantos anos se dedicam para manter o projeto ativo. “Muitas coisas aconteceram, mas o projeto é tão importante para a comunidade que se mantém vivo até hoje. Esses prêmios ajudam a dar esse reconhecimento, renovando a energia da comunidade. Nós, do Cepagro, estamos felizes pela autonomia do grupo. Além disso, acredito que isso fortalece a dimensão, para que essa experiência continue sendo reaplicada dentro do projeto Muts, por outras comunidades do Brasil”, avalia.
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