25 de novembro de 2022

Lab debate pesquisa da Aberje sobre a comunicação da governança nas organizações

Estudo mostra como está estruturada a comunicação da governança corporativa nas organizações no Brasil

Os resultados da pesquisa “A Comunicação da Governança nas Organizações no Brasil”, realizada junto ao LiderCom da Aberje – grupo de lideranças de Comunicação Corporativa de empresas associadas – foram apresentados durante o Lab de Comunicação para a Governança, realizado no dia 23 de novembro. O evento, patrocinado pela Ypê, contou com a participação de especialistas em governança e comunicação para um debate com interação da audiência.

O estudo tem como objetivo mostrar como está estruturada e como é realizada a comunicação da governança corporativa, um dos fatores ESG, nas organizações no Brasil, gerando insights importantes para planejamento e atuação. Na ocasião, o gerente de pesquisas da Aberje, Carlos Ramelo, apresentou alguns tópicos relevantes da pesquisa. 

Carlos Ramello

A maioria das empresas participantes são privadas multinacionais (70%), localizadas no Estado de São Paulo (63%), com mais de 10 mil funcionários (52%), representando quase todos os setores da economia, com destaque para o de Energia (13%) e o de Veículos e Peças (13%). A maior parte das empresas (61%) tem ações negociadas em bolsas de valores e que trazem consigo alguns pré-requisitos de Governança.

O estudo mostra quem as empresas consideram como stakeholders. Para a maioria absoluta (89%), stakeholders são todos os públicos que se relacionam com a organização: acionistas, gestores, empregados, credores, fornecedores, clientes, consumidores, comunidades locais e sociedade como um todo – governos e organizações não-governamentais.

Comitês relacionados à governança

Em termos de comitês relacionados à governança os mais comuns são comitês de Riscos (91%), comitês de ESG (74%), comitês de Recursos Humanos (72%), comitês de Auditoria (65%) e comitês Financeiros (57%). A área de Comunicação é integrante em poucos desses comitês, com destaque para os de ESG (67%), de Riscos (48%) e comitês de Divulgação de Informações e Negociações (48%).

O nível hierárquico da área de Comunicação dessas organizações é o nível executivo, ou seja, está posicionada no nível de vice-presidência (46%), no nível de diretoria (37%) ou no nível de gerência (15%). O profissional responsável pelo setor faz parte do board em 61% das empresas que responderam à pesquisa.

A área de Comunicação Corporativa é a responsável pela comunicação da governança em 83% das organizações. Em segundo lugar está a área de Relações Institucionais (46%). A comunicação da governança é feita por uma área específica de governança em 37% das empresas e pela área de Relações com Investidores em 30% das organizações pesquisadas.

Para 65% das empresas participantes, as boas práticas do conselho têm muita importância. 54% das empresas dão a elas a mesma importância que os resultados financeiros e outros 11% chegam a considerar as boas práticas ainda mais importantes do que os resultados financeiros. Já para um terço das empresas pesquisadas (33%), não há um foco de comunicação que relacione as boas práticas do conselho com os resultados financeiros.

Canais de comunicação

Quanto aos principais canais de comunicação junto aos stakeholders, para os acionistas, são utilizados websites para a divulgação de relatório anual da administração (50%) e também para a divulgação de previsões ou fato relevante (46%), realização de apresentações públicas de informações, direcionadas a públicos específicos (37%) e por meio de teleconferências (37%).

Os canais de comunicação utilizados junto aos colaboradores são os canais internos de comunicação direto com a administração (67%), e-mail (41%), teleconferências (33%) e portais específicos de governança corporativa (26%). O website também é utilizado por 22% das empresas para a divulgação de previsões trimestrais ou anuais, além de fatos relevantes.

Para outros públicos estratégicos da organização, os canais utilizados para a divulgação de informações sobre governança são: os releases em  agências de notícias e imprensa em geral (54%), o website para a divulgação de relatório anual (50%) e o website para a divulgação de previsões ou fato relevante (39%) e as mídias sociais (28%). 

A maioria das organizações participantes (78%) define uma programação para que todos os públicos sejam sempre alcançados pelas ações de comunicação de governança.

Informações relativas à governança

57% das participantes consideram a importância da comunicação externa da governança, se dirigindo de forma constante à comunidade e ao público ao qual a organização está inserida, para prevenir crises e projetar uma imagem de transparência e honestidade. Já 54% consideram a importância da comunicação interna da governança, e se dirige de forma permanente ao conjunto dos colaboradores, para projetar uma imagem unificada e forte. 50% das participantes divulgam as medidas relativas à garantia de boas práticas de governança adotadas pela organização. 

Em 7% das participantes, a comunicação da governança se limita apenas às comunicações obrigatórias, na forma da lei. Para toda essa comunicação, 89% das empresas declararam utilizar uma linguagem acessível, e de forma transparente. Apenas 9% das empresas pesquisadas disseram lançar mão de uma linguagem técnica e especializada, em suas comunicações sobre governança.

A pesquisa também aponta que as medidas mais importantes que podem contribuir para uma maior efetividade da estratégia e execução da comunicação da governança na organização são a tomada de consciência dos administradores sobre a importância da boa comunicação de governança e a necessidade do seu constante aprimoramento (67%) e a participação das lideranças e dos gestores da comunicação em fóruns, encontros e comitês de associações especializadas em comunicação organizacional (59%).

Principais riscos na comunicação da governança 

Os principais riscos para a imagem e a reputação da organização na comunicação da governança apontadas pelos participantes são a falta de transparência (59%) e de clareza (50%) na comunicação com seus públicos de interesse (stakeholders). Ainda são vistos como riscos, a demora na divulgação de informações relevantes (37%), a falta de processos de monitoramento para evitar a divulgação de informações não públicas / vazamentos (35%) e a falta de divulgação de prevenção, detecção e resposta de riscos de compliance (35%). 

Elementos indispensáveis para uma agenda de Comunicação de Governança eficaz

Os cinco elementos indispensáveis para o estabelecimento de uma agenda eficaz de comunicação da governança são: 

  • A promoção dos valores éticos da organização (76%); 
  • A promoção da transparência na divulgação de informações sobre a organização (70%); 
  • A ação ética da liderança no dia a dia (48%);
  • A promoção da equidade no tratamento dos stakeholders na divulgação de informações sobre a organização (46%);
  • A promoção e ampliação dos canais de comunicação entre a comunidade e a organização para uma gestão proativa de riscos e situações na gestão de crises (46%).

As empresas participantes avaliaram seu desempenho na Comunicação da Governança de forma satisfatória, relacionando aos conceitos muito bom e ótimo, os seguintes aspectos: gestão das situações de crise (74%), gestão da reputação e boa imagem da organização e das suas marcas (72%) e informação para os públicos de interesse sobre os valores e sobre a essência da organização (70%). Por sua vez, os itens mais associados ao conceito insatisfatório, foram: ouvir e acolher as questões, demandas e opiniões dos públicos de interesse (15%) e promoção e ampliação da diversidade e de canais de comunicação entre a organização e os seus públicos (11%). 

Especialistas comentam pesquisa

A pesquisa foi analisada durante o Lab de Comunicação para a Governança pelos especialistas: Fernando do Couto Henriques Jr, coordenador do Curso de Direito da ESEG (Grupo ETAPA); José Roberto Cardoso, presidente da SBMAG; e Gabriela Blanchet, presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial – IBDEE e integrante da Comissão do Conselho do Futuro do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Para mediar o debate, Maria Elisa Curcio, diretora Jurídica e de Relações Institucionais da Ypê.

Maria Elisa Curcio

Ao abrir o debate, Maria Elisa Curcio, frisou o fato de que cerca de 40% das empresas não têm ações negociadas em bolsas de valores, mas mesmo assim têm um critério de segurança bem estabelecido. “Muitas vezes quando conversamos sobre governança corporativa, o que vem à mente são entidades ou fundações que tenham uma atividade direta do Ministério Público outras entidades que fiscalizam essa atuação ou empresas que tenham ações negociadas em bolsas, com uma série de regramentos e regulações pesadas sobre elas”, comenta.

“Ao analisar a pesquisa, percebe que o papel da Comunicação e a forma como a estratégia de stakeholders acontece são fundamentais para o sucesso da transparência e da estabilidade do negócio da organização”, completa.

Fernando do Couto

“O que me chama atenção é que a maior parte dessas empresas são vinculadas a uma empresa transacional ou têm alguma participação de capital estrangeiro, que também traz a cultura dessas matrizes, desses investidores para esse tipo de preocupação”, analisa Fernando do Couto Henriques Jr. “A preocupação para com a marca e para com a participação no mercado, a atenção a esses critérios são mais do que importantes, resta saber se vamos conseguir implementar a governança na prática”, arremata.

Para o professor José Roberto Cardoso, a governança precisa ser, de fato, eficiente. “Se não tivermos uma governança que faça uma gestão adequada de todas as questões ambientais e sociais, as coisas não funcionam. A pesquisa detectou respostas de empresas de energia e veículos elétricos; a soma das duas equivale a mais de um quarto das empresas participantes. Essas são as empresas que mais impactam nas mudanças climáticas e na redução de emissões”, comentou. “Também notei que uma porcentagem razoável de empresas instituiu os comitês de ESG; isso é fruto da comunicação e acho que a Aberje tem um papel importante nisso. Sem comunicação adequada, as boas ideias não progridem”, acentua. 

José Roberto Cardoso

A governança é a base de tudo, é um sistema composto por processos e princípios pelo qual as empresas são dirigidas, conduzidas, monitoradas e incentivadas. “A pesquisa mostra que as boas práticas de governança recebem a mesma importância dos resultados financeiros e por que? Porque a governança corporativa é um ponto importante quando um investidor decide investir numa organização”, explica Gabriela Blanchet.

“Hoje, vivemos numa sociedade hiperconectada, que questiona os produtos e que demanda posicionamentos das organizações com relação à questões ambientais e sociais mais do que nunca. É uma era de hipertransparência e a área de comunicação efetivamente ganha cada vez mais um maior protagonismo dentro da estrutura de governança. É preciso que as empresas se atentem para o que vão comunicar e como vão comunicar, para não ficar sujeito ao escrutínio das redes sociais”, salienta.

Gabriela Blanchet

Henriques destaca ainda que a importância da equidade e da ética dentro do processo da governança e do próprio processo de gestão. “A governança está intimamente ligada à gestão e a um pensamento relacionado à gestão da economia, que é o capitalismo consciente. Se seguirmos esses princípios, começaremos a dar uma resposta efetiva a todos esses questionamentos”, conclui.

Assista ao Lab na íntegra:

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