28 de setembro de 2021

Como organizações e pessoas podem contribuir para o debate da diversidade no Brasil

Lab de Comunicação para Diversidade registrou mais de 1.000 inscritos nos três encontros e mostra o interesse de profissionais da comunicação no tema de D&I 

Lab de Comunicação para Diversidade registrou mais de 1.000 inscritos nos três encontros e mostra o interesse de profissionais da comunicação no tema de D&I 

O último evento da série de Labs de Comunicação para Diversidade da Aberje, realizado no dia 27 de setembro, contou com a participação de convidados especiais para debater o tema Influência: Como organizações e pessoas podem contribuir para o debate da diversidade no Brasil. Foram três eventos que registraram uma audiência de mais de 1.000 inscritos, o que mostra o interesse de profissionais da comunicação no tema Diversidade & Inclusão. Participaram a diretora de Comunicação e Marketing do Mattos Filho, Ive Lima, pelo gerente executivo de Comunicação Corporativa da Shell no Brasil, Glauco Paiva, pela gerente de Comunicação do Grupo Boticário, Ana Carla Lopes, e pelo gerente Jurídico do Banco Itaú, Bruno Crepaldi

Ao iniciar sua fala, Ana Carla Lopes comentou sobre pioneirismo do Grupo Boticário e sobre o padrão de beleza feminino: “Só vamos fazer a mudança que queremos, quando formos vanguardistas nas decisões. Hoje existe a grande discussão, sobre o que de fato, é ser belo. O Grupo Boticário foi pioneiro numa série de atitudes, de trazer uma beleza mais diversa para as suas campanhas em suas marcas de consumo. Podemos provocar as mudanças e ter uma visão abrangente do mundo para atender o nosso consumidor”.

“No ano passado, por exemplo, o Grupo abandonou o termo Black Friday. Hoje falamos Beauty Week, é a Semana da beleza para todos, independente da etnia, do gênero ou da orientação sexual”, contou Ana.

Quanto ao preconceito dentro do ambiente de trabalho, Bruno Crepaldi, comentou sobre o papel da liderança no sentido de falar sobre diversidade. “Falar sobre isso nas empresas linka essa linguagem para quem está fora dessa conversa e acaba naturalizando isso, pela importância das empresas nesse debate que é comunicar isso de forma simples e direta, humanizando o discurso. Quem está na área de comunicação consegue ajudar muito a tratar o assunto da forma como tem que ser tratado”.

“Este é um chamado à responsabilidade por traz da representatividade. Existe uma responsabilidade muito grande de efetivamente se mostrar para que os outros possam enxergar que a empresa é aberta ou se não for, que esse debate seja promovido!, complementou o mediador Glauco Paiva.

Religião foi outro ponto trazido à tona durante o evento. “Num Brasil tão misturado como o que a gente tem onde tanto se apregoa o nosso sincretismo religioso em que as coisas realmente se misturam e entram umas nas outras, o fato é que ainda temos muito preconceito com relação à religião”, introduziu Paiva.

Para Ive Lima, que atua no mercado jurídico, tradicional e conservador, o desafio de trazer a discussão da diversidade e inclusão para dentro do escritório também foi um processo. “Penso que isso tudo é uma jornada, que está sendo acelerada por esse momento da pandemia e o papel da comunicação é trazer a informação constante, porque a falta de comunicação gera o preconceito muitas vezes”.

“As pessoas são nosso principal ativo, não estamos produzindo nenhum produto, estamos vendendo conhecimento. Estamos à disposição do cliente e é imprevisível o que pode acontecer. A questão da liberdade religiosa foi o último grupo de afinidade que implementamos, um tema que é pouco falado mas não menos importante”, disse Ive. 

A executiva lembrou que existem datas importantes no calendário religioso, tradições ligadas à crenças que não permitem que se trabalhe em determinados dias. “Temos pessoas de diversas crenças aqui, como judeus, por exemplo e começamos estabelecendo uma política que dê tranquilidade às pessoas porque aqui a gente respeita a prática da religião, sem causar nenhum constrangimento à ninguém e criando um ambiente seguro”.

A comunicação e a informação de qualidade, prosseguiu Ive, é que promove esse respeito entre as pessoas em torno da convicção religiosa delas. “Trouxemos alguns líderes de várias religiões, fazemos cine debates e discussões sobre racismo religioso e trabalhamos com muita produção de conteúdo, fatos e dados, infográficos e embasamento científico, sem proselitismo e com a força de aliados que nos ajudam muito a promover a mudança de cultura dentro das organizações”.

Interseccionalidade

A interseccionalidade também foi destaque no debate. Nesse ponto Ana Carla disse que quer ser a inspiração que ela não teve e traz a questão da responsabilidade em estar em bate-papos como este para ter a chance de mostrar que é possível ser uma mulher negra no papel de liderança de uma grande empresa. “Existe muito ‘corre’, existe muito trabalho, empenho e privilégio em razão do esforço dos meus pais. Que venham mais Anas”

E como é fazer beleza num cenário muito machista? Ana confessa que isso está mudando. “A questão que envolve o público masculino nem é só sobre beleza, mas o autocuidado. Homens não vão ao médico com a mesma frequência que as mulheres, homens não discutem sobre suas vulnerabilidades, sobre a sua saúde mental o que leva a uma taxa maior de suicídio então, para além da beleza a questão do autocuidade e da saúde ainda é um ponto a ser desmistificado. Mas acho que isso vem mudando”, opinou.

E qual a real responsabilidade das empresas em participar dessas discussões para mudar o cenário? Políticas públicas existem, como lembra o mediador do debate, Glauco Paiva ao falar sobre os 30 anos da lei de cotas e contratação de pessoas com deficiências no Brasil, da legislação regulamentada com relação ao acesso de pessoas negras em universidades e outras ações afirmativas. “A verdade é que quando você chega no mercado de trabalho, observa-se um gap muito grande. Não adianta deixar só na mão do governo, as empresas têm que tomar atitudes e olhar para isso”, argumentou.

Crepaldi completou afirmando que as cotas são importantíssimas, pois são a porta de entrada, seja a cota de mulheres em altos cargos de gestão, seja cota de pessoas negras ou de pessoas com deficiência, mas são insuficientes isoladamente. “Não adianta ter só a cota se não tiver mais nada, é preciso ‘aparelhar’ a pessoa para que ela consiga desempenhar o seu  potencial. A empresa precisa se estruturar para receber aquele tipo de PcD e além disso, é preciso trabalhar o ambiente cultural da empresa para que as pessoas trabalhem em harmonia”, concluiu.

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