Você está cancelado! Até que seja convidado: O estranho prazer de se sentir especial e eleger quem tem o direito a fazer parte da mesma categoria
Você quer atrair interesse do mercado? Dê ao seu produto ou serviço um caráter de exclusividade. Crie um posicionamento capaz de mexer com a vaidade humana. Essa é uma das máximas das marcas de luxo, das bandeiras elitizadas de bancos e de devices tecnológicos como os da @apple e seu sistema iOS.
Tenho assistido ao esforço, especialmente no Linkedin, mas também no Instagram, de pessoas anunciando sua chegada à nova – e badalada – rede social Clubhouse. Uma espécie de grito “sou um dos escolhidos” em um mecanismo de autoafirmação típico adolescente. Até que uma grande amiga, aliás que não se enquadra neste descritivo, mas é curiosa sobre lançamentos, me convidou. Me avisou animada: “Mandei invite para o Clubhouse. A rede social do momento. É bacana”
Claro que meu ego inflou e pensei – ah, legal, estou entre os escolhidos. Só não lembrei que o sistema está disponível primeiro para Iphones. Abandonei o sistema iOS há dois anos quando conheci os modelos @huawei, ao criar um plano de lançamento do smartphone no Brasil em 2018 quando participava de processo seletivo na marca, e fiquei fascinada. Enfim, essa é outra história.
Voltando para os convidados x cancelados, percebi que fora excluída antes de entrar na ‘casa’. E redobrei a atenção aos movimentos que a novidade está provocando: já tem agências oferecendo estratégias para criar presença na rede, marcas com canais e eventos por lá e muito, mas muito conteúdo de gente que te pergunta: “E, você, o que achou?”, mesmo sabendo que boa parte – senão a maioria – dos interlocutores está excluída da experiência.
O que leva pessoas e marcas a aderir impulsivamente – desconsiderando energia, tempo, investimento, relevância e até presença real de audiência? No caso de marcas, claro, há as que tem no DNA a exclusividade, o movimento disruptivo e quase que a obrigação de estar no mainstream. Mas, nada que justifique economicamente. Para posicionamento, ok, mas para retorno efetivo falar com uma plateia tão restrita é, no mínimo, duvidoso.
Me espanta mais a motivação por trás disso. Depois de um vírus escancarar nossa interdependência, vulnerabilidade e nos forçar a resgatar a simplicidade de uma vida doméstica, continuamos deslumbrados. E sentindo prazer na dinâmica de rotular a tudo e a todos.
E, assim, o “Fear of Missing Out” (FOMO), medo de ficar de fora, guia nossas decisões. Difícil não cair nessa também. Procuro lembrar diariamente que independente da rede social, da posição, da atividade, da cor, da raça, da crença, do gênero, orientação sexual e tantas outras diferenças, somos todos humanidade e o que nos torna únicos – especiais – está dentro, não fora.
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