05 de outubro de 2020

Usando Big Data para entender o #Blacklivesmatter no Brasil

Em 2020, a questão racial ganhou imensa visibilidade por conta da repercussão do assassinato do americano George Floyd em 25 de maio. Floyd, um homem negro, foi asfixiado por um policial enquanto gritava que não conseguia respirar. Tudo isso foi filmado e, dois dias após sua morte, uma onda de indignação e protesto varreu o mundo.

Vale lembrar que, ao final de maio, várias partes do planeta estavam com política de isolamento social em vigor. As pessoas não podiam ou, ao menos, evitavam de ir à rua. Nesse contexto, as redes sociais foram ainda mais usadas como ambiente para manifestação. Ou seja, entender a dinâmica do movimento nas social media ajuda, largamente, a entender o fenômeno como um todo. Para isso, usamos técnicas de Big Data numa pesquisa com viés quantitativo e qualitativo.

Decidimos coletar menções desde o dia 12 de maio (véspera do aniversário da abolição da escravatura no Brasil) até o dia 19 de julho, cobrindo mais de dois meses de menções ao movimento. Coletamos 9,7 milhões de publicações únicas, que geraram mais de 100 milhões de replicações, o que nos permitiu chegar em diversos insights. Alguns deles estão apresentados no relatório abaixo que tornamos público.

Entre os destaques, vale, primeiro, falar sobre a resiliência do movimento online.  Criado em 2013, se mantem hoje consistentemente ativo e altamente colaborativo: não é apenas um perfil oficial que mantem o movimento ativo, são diversos usuários que o fazem. Não houve um dia sequer sem menção ao movimento, mesmo antes do assassinato de George Floyd.

Em grande parte, essa resiliência provem do fato de que o nome do movimento, usado como hashtag, virou um símbolo, um label, expressa um conjunto de significados. Ao incluir #blacklivesmatter ou sua versão em português (#vidasnegrasimprotam) o usuário resume que não fala de um caso isolado, que é preciso lutar pela igualdade racial, que a violência policial é mais letal para as pessoas negras, que há pessoas atentas a isso etc. Vejamos algumas mensagens que exemplificam isso:

Como já dito, o caso George Floyd turbinou o engajamento ao movimento. Em poucos dias, o volume médio de citações subiu 83 vezes, atingindo um pico de 1,6 milhão no dia 3 de junho. Chamou atenção o fato de a esmagadora maioria das publicações ser de apoio ao movimento. Apenas 0,5% do que foi coletado e analisado buscava tirar a credibilidade do movimento. Isso é absolutamente incomum no contexto atual de alta polarização, em que diferentes temáticas (seja ligada à saúde ou ao meio ambiente, por exemplo) são politizadas e discutidas num formato de Lado A contra Lado B. Não foi esse o caso. Pelo contrário, detectamos que 3,4% das menções analisadas eram de pessoas brancas demonstrando o seu apoio ou de recomendações sobre como os não-negros podem contribuir para o movimento.

Por fim, é destaque que, passado o auge de George Floyd, houve um aumento de 46% no volume de menções ao movimento antirracista. Ou seja, percebe-se um impacto permanente no engajamento à temática mesmo mais de um mês depois da fase de pico. Isso sinaliza que não se tratou de uma moda passageira, as de uma mudança de patamar na luta por igualdade e justiça racial.

O relatório completo traz mais insights e pode ser visualizado abaixo.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Lucas Reis

Lucas Reis é CEO da Zygon AdTech & Data Solutions, PhD em Comunicação Social (UFBA), alumni dos programas de aceleração Startup Beta (Web Summit) e Scale Up (Endeavor). Atualmente, é Professor do IAB Brasil e pesquisador de Big Data no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital.

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