12 de setembro de 2022

Relações institucionais e governamentais no modo “raiz”: do parto da baleia ao lançamento de foguete! (Parte 1)

Flexibilidade, adaptabilidade, jogo de cintura e visão 360° são características imprescindíveis ao profissional de RIG nos dias atuais. O mesmo profissional que ontem conversou sobre um pleito com um governador ou com um influente senador da República pode estar, amanhã, tratando com um líder comunitário ou com um coordenador do Corpo de Bombeiros do município…essa é a real dinâmica dessa função.

Grande articulador. Resolvedor de problemas. Profissional multitarefas. “Aquela pessoa do lobby”…. Enfim, a percepção que se tem do profissional de relações institucionais e governamentais (RIG) é multifacetada, e isso diz muito.

De fato, é um profissional que está sempre envolvido em múltiplas tarefas, de variadas nuances e cada qual com sua relevância, atuando em estudos, análises, projetos, recomendações, reuniões e gabinetes de diferentes matizes.

Uma coisa é certa: não existe a atividade menos ou mais importante. Tudo é importante. Se o profissional atua em uma organização do ramo industrial, que tem fábricas, se empenhar para ajudar a viabilizar o licenciamento de uma unidade produtiva, por exemplo, é tão fundamental quanto estar em Brasília trabalhando em prol da aprovação de algum projeto de lei (PL) que impacte no funcionamento do setor.

Começando pelo começo – vem crescendo a importância do profissional de relações institucionais e governamentais

É crescente a importância estratégica das funções de relações institucionais e governamentais nas empresas, organizações e entidades, apoiando no encaminhamento e na solução de demandas legítimas importantes e, com isso, contribuindo com os objetivos do negócio.

A missão primordial do profissional de RIG “raiz” é defender os interesses legítimos da empresa ou organização em que atua, buscando fazer chegar a governos, ao parlamento, a formadores de opinião, às comunidades ou a qualquer um de seus públicos de relacionamento o pleito dessa empresa ou organização que representa, com argumentos sólidos e bem embasados e sempre lastreado na ética e nas boas práticas, para a construção de relacionamentos duradouros e benéficos para todos os envolvidos.

Deve haver um esforço redobrado desse profissional para não só conceituar corretamente o que se deseja demandar mas também para compreender os diversos aspectos envolvidos. Também é crucial ter capacidade de compreensão cultural do momento político-econômico-social e fazer a leitura de contextos variados. O apoio de assessorias especializadas também é fundamental na construção dessa trajetória.

O profissional “raiz” atua em diversos segmentos do mercado, tanto no setor privado quanto no setor público ou até no terceiro setor. Em cada área, a atividade apresenta caráter específico para a atuação, mas que  sempre envolve, em alguma medida, a avaliação e o monitoramento de cenários para identificar riscos e oportunidades, a análise de informações diversas, o desenvolvimento e a elaboração de materiais, a ações de issues management, o mapeamento dos stakeholders envolvidos e a interlocução com esses públicos, construindo relacionamentos construtivos.

Ou seja, as atividades desse tipo de profissional contemplam variadas funções. Ele trabalha tanto remotamente, com pesquisas, sistematização e monitoramento de dados, análise de informações, cenários, riscos e impactos, construção de materiais e interação à distância, como também in loco,  representando os interesses da empresa, organização ou entidade que representa em reuniões, grupos de trabalho e conversas.

Nos últimos anos, principalmente, as relações institucionais e governamentais  passaram a ter impacto maior na competitividade dos negócios e nos resultados das companhias e, com isso, ganharam mais atenção da alta liderança das organizações, o que faz com que estas possam se relacionar de maneira mais intensa com diferentes governos e órgãos públicos e outras organizações ou entidades.

Capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, adaptação constante, conhecimento, resiliência e “olhos bem abertos” são algumas das características fundamentais na atuação desse profissional. O mundo e o universo corporativo, em contínua transformação, exigem compreensão, análise e diálogo permanentes, para que se construam sólidos e duradouros vínculos com os formuladores de políticas públicas e com os demais stakeholders (fornecedores, clientes, sindicatos, associações civis, comunidades, imprensa, ONGs, entre outros públicos).

Devem ser consideradas e analisadas inúmeras variáveis. Quem se beneficia? Quais os benefícios esperados? Quais os setores, públicos e órgãos envolvidos? Quais os impactos para o setor de atuação da empresa, para a economia em geral e para a sociedade? Que desdobramentos podem acontecer? E assim por diante… há variáveis sobre as quais não podemos ter visão total ou controle, como mudanças de governos, planos econômicos repentinos, ebulições sociais, alterações climáticas, eventos inesperados, catástrofes, guerras, etc. Sem contar as fake news, que exigem, igualmente, redobrada atenção.

No dia a dia, para a gestão e o bom andamento de um projeto ou uma atividade por esse profissional, passada a fase de análises iniciais e planejamento deve-se encaminhar o pleito de forma competente, com uma narrativa fundamentada e bem embasada, revestindo o pedido com todos os itens que envolvam legitimidade, legalidade, ética e os aspectos técnicos, como interface com outras áreas e análise de dados consolidados. Visão holística, foco em compliance, gestão de conhecimento, gestão de tempo e saber analisar e ligar os fatos também são atributos relevantes nessa etapa.

Após o encaminhamento do pleito, entra outra fase importantíssima, que é o acompanhamento das demandas, com apoio de pontos de controle adequados.

Questões tecnológicas também não podem ser esquecidas. O profissional deve saber transitar pelas redes sociais e estar atento às mudanças aceleradas do comportamento social na era digital, avaliando a necessidade de interações imediatas na interlocução com os diversos públicos.

Sem contar, ainda, que ele deve se esforçar, cotidianamente, para a construção de relacionamentos de longo prazo. Muitas das discussões, bem como os processos de pleitos, podem levar meses ou anos para serem resolvidos. Há o momento de avançar, o momento de refletir e o momento de recuar…Simples demandas podem se transformar em maratonas de longa duração, a depender do andamento e dos fatores que influenciam. Estas demandas são apenas o começo.

No próximo artigo, vamos falar sobre algumas características fundamentais para a atividade de RIG.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Carlos Parente

Graduado em Administração de Empresas pela UFBA, com MBA em Marketing pela FEA USP, possui um sólido histórico de experiência em Relações Institucionais & Governamentais, Comunicação Corporativa e Advocacy, com participações e lideranças em processos de comunicação estratégica, inclusive internacionais. Carlos Parente é sócio-diretor da Midfield Consulting.

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