21 de abril de 2021

COlabora #2 – Relações de Valor

Publicado originalmente no LinkedIn em 15 de abril de 2021

* Escrito em parceria com Paula Prado Rodrigues Couto, superintendente de Relações com Investidores da Eletrobras

Se compararmos o universo corporativo a uma família, o profissional de Relações com Investidores (RI) poderia ser classificado como uma espécie de primo-irmão do profissional de Comunicação. Ambos têm a informação como matéria-prima e a construção de relacionamentos de valor com seus públicos como objetivo final. As duas áreas devem prezar por transparência, agilidade e accountability. Suas estratégias de atuação envolvem a identificação de formadores de opinião e a definição das melhores formas de fazer chegar a eles informações relevantes e atrativas sobre a companhia, de modo a promover confiança e engajamento.

Os pontos de contato são inúmeros, mas a “familiaridade”, idealmente, deve ir muito além das similaridades para que as duas áreas exerçam com excelência o seu papel. Regulada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e, no caso de companhias listadas em uma das bolsas de valores dos Estados Unidos, também pela Securities and Exchange Commission (SEC), a comunicação praticada pela área de RI vai muito além de uma simples obrigação.

Sim, as regras precisam ser observadas e cumpridas. Mas o profissional tem papel estratégico valioso quando, além de cumpri-las, atua de modo proativo, funcionando como embaixador da empresa junto a seus potenciais investidores e auxiliando na precificação das muitas informações que são divulgadas. O RI exerce ainda papel fundamental de vetor de retorno das demandas e anseios dos seus “clientes” para a administração, auxiliando a companhia a compreender os pontos estratégicos sensíveis que merecem uma atenção especial e também fornecendo as perspectivas de como o mercado espera que sejam tratados os desafios.

Mais que informar, então, entram em jogo outros verbos, como despertar, mobilizar, encantar, participar. Desafios cada vez maiores diante das expectativas de um mercado em constante evolução, onde desde há muito as questões financeiras deixaram de ser as únicas a embasar as avaliações de acionistas, investidores e analistas de mercado.

É fundamental que o profissional de RI atual se esforce para integrar o elenco principal, saia do backstage para assumir papel estratégico na construção do valor da companhia. Nesse sentido, a parceria com a área de Comunicação é, mais que bem-vinda, necessária, seja para o alinhamento dos materiais de divulgação às diretrizes da marca, assegurando a consistência na comunicação visual, verbal ou escrita; seja para a construção de narrativas que melhor sirvam aos dados que se quer destacar para valorizar as potencialidades da companhia; seja para encontrar as formas e os canais mais eficientes para a entrega das mensagens-chave a este público-alvo; seja para adaptar forma e conteúdo ao transmitir as informações financeiras aos públicos não familiarizados com o tema, como boa parte dos colaboradores.

Embora o seu foco esteja em um público externo à companhia, o profissional de RI tem o sucesso de seu trabalho atrelado fundamentalmente à construção de um ambiente interno consciente da importância do fortalecimento da relação transparente com o mercado. Segundo o “Guia de Relações com Investidores da B3”, “(…) a disseminação da cultura de empresa de capital aberto entre os diversos níveis de público interno é reconhecida internacionalmente como a base da pirâmide para o sucesso no mercado de capitais, uma vez que direciona o comportamento de todos no que diz respeito ao ambiente corporativo, ajudando a fixar os conceitos de empresa ética, responsável e transparente”. Mais uma vez, a parceria estratégica da Comunicação, como vetor essencial para o fortalecimento dos drivers que se quer valorizar na cultura corporativa, faz-se essencial.

Do lado da Comunicação, por sua vez, o profissional de RI é fonte preciosa, e uma relação próxima, direta e de atenção recíproca é base para o atendimento tempestivo das demandas de imprensa, assegurando a observância dos princípios de objetividade, transparência e disponibilidade. Nesse aspecto, merece atenção especial a regulamentação que estabelece o princípio de acesso às informações de modo igual e simultâneo ao mercado, por meio da divulgação de informes como fatos relevantes e comunicados ao mercado. Evitar ruídos, vazamentos e eventuais sanções exige atenção criteriosa dos profissionais das duas áreas, ao mesmo tempo em que é preciso, ainda, buscar o equilíbrio entre o atendimento à regulamentação e a oferta de informação relevante à imprensa. Trata-se, portanto, de um trabalho de equipe fundamental para evitar difusão assimétrica e não controlada de informações desalinhadas com a realidade, que podem interferir no mercado de ações da companhia, extremamente ágil nas tomadas de decisões, e acabar por desconstruir, sorrateiramente, todo o esforço de agregação de valor.

De certa forma, ainda, uma área atua como espécie de salvaguarda da outra, na medida em que as impressões coletadas de um lado e de outro orientam a definição de estratégias, a atuação emergencial em caso de potenciais riscos de crise e atuações preventivas e proativa da companhia para evitar deficiências informacionais. O monitoramento dos meios de comunicação e a análise estratégica das menções à companhia na mídia, realizadas pela assessoria de imprensa, fornecem à área de RI os alertas necessários quanto a temas que podem vir a entrar no radar de analistas e investidores. De igual modo, o contato contínuo da área de RI com este público é um termômetro imediato sobre a percepção do mercado a respeito da atuação da companhia, constituindo subsídio valioso para uma comunicação estratégica.

Por tudo isso, uma atuação colaborativa e integrada entre as áreas de Comunicação e RI é elemento-chave para o fortalecimento da reputação corporativa, contribuindo para a construção de relacionamentos sólidos com acionistas, investidores, analistas de mercado e a imprensa e, ainda, auxiliando a disseminação de uma cultura interna voltada para a valorização da relação com o mercado.

Na Eletrobras, esta parceria se reflete não apenas na condução dos grandes eventos do calendário, como a elaboração das apresentações de resultados, as teleconferências com analistas e investidores, as reuniões da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) e as coletivas de imprensa sobre resultados financeiros, mas, também, no dia a dia dos contatos contínuos com mercado e imprensa, nos quais a tempestividade e a transparência se fazem tão necessárias. Na última pesquisa de reputação realizada pela companhia, em dezembro de 2020, o índice de reputação da Eletrobras entre analistas de mercado é um dos melhores entre nossos públicos de relacionamento, com percepção de melhoria significativa nos últimos anos.

Fruto de muito trabalho, o resultado também aponta importantes oportunidades de avanço. Muito ainda há por fazer, mas uma lição já foi aprendida: é na colaboração que somos mais fortes, e bem à frente estão os profissionais de RI e de Comunicação que já perceberam o quão valiosa essa parceria se mostra ser.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Renata Petrocelli Bezerra Paes

Superintendente de Comunicação da Eletrobras, Renata Petrocelli é jornalista e publicitária, com mestrado em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente, cursa o Global Business Management do IBMEC. Atuando há mais de 10 anos na comunicação corporativa da Eletrobras, também coordena o Comitê de Comunicação Integrada das Empresas Eletrobras, que congrega todas as subsidiárias do grupo, e representa a empresa na Plataforma Ação para Comunicar e Engajar da Rede Brasil do Pacto Global. É membro do Conselho Editorial da revista "Comunicação e Memória", publicação da Memória da Eletricidade.

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