Quanto movimenta a comunicação empresarial brasileira?

Medir o tamanho do setor de comunicação é um exercício estratégico — ainda que necessariamente incompleto. Ele pode ajudar a demonstrar a relevância econômica da atividade, orientar investimentos, informar políticas públicas e contribuir para a disputa de maior espaço dentro das organizações. Mas também se depara com limitações importantes: parte da comunicação não se expressa em cifras, e sim em vínculos, reputação e capacidade de escuta institucional. Ainda assim, diferentes estimativas hoje disponíveis oferecem pistas relevantes sobre como o ecossistema da comunicação empresarial vem se transformando.
Três estudos recentes abordam esse universo por perspectivas distintas. A estimativa da Kantar IBOPE Media aponta que o investimento publicitário total no país chegou a R$ 88 bilhões em 2024, com crescimento consistente desde 2021. Trata-se de um indicador baseado no mercado de compra de mídia — TV, rádio, digital, OOH etc. — e que parece responder principalmente a decisões de marketing orientadas por performance, alcance e visibilidade.
O estudo Orçamento da Comunicação Empresarial 2024-2025, da Aberje, estima em R$ 31,8 bilhões o orçamento das áreas de comunicação empresarial no mesmo ano. Aqui entram salários de equipes próprias, ferramentas, fornecedores, ações de reputação, sustentabilidade, marca empregadora e comunicação interna. Essa trajetória orçamentária cresceu até 2023, mas recuou em 2024 – queda que interpretamos como resultado da soma de três fatores: aumento da incerteza econômica, esgotamento do ciclo de investimentos pós-pandemia e transformação estrutural com a incorporação de novas tecnologias.
Já o Anuário da Comunicação Corporativa da Mega Brasil aponta para um faturamento de R$ 5,36 bilhões por parte das agências especializadas em comunicação corporativa — como relações públicas, public affairs, consultorias de crise e comunicação digital. Esse número reflete um crescimento expressivo desde 2021, sugerindo que parte das atividades comunicacionais das empresas pode estar sendo transferida para fornecedores externos – movimento que analisamos como o Paradoxo Econômico da Comunicação Corporativa Brasileira.
Essas três estimativas partem de objetos e lógicas distintas: a publicidade como mercado transacional de mídia, a comunicação empresarial como estrutura interna de gestão simbólica e relacional, e os serviços especializados como campo de atuação terceirizada. Suas trajetórias não necessariamente convergem — e talvez seja justamente aí que residam os principais insights. Em 2024, por exemplo, o investimento em publicidade cresceu, o orçamento interno recuou e o faturamento das agências continuou em expansão. Abaixo, uma síntese da evolução recente:
Ano | Publicidade Total (Kantar IBOPE) | Comunicação Empresarial (Aberje) | Agências de Comunicação Corporativa (Mega Brasil) |
2021 | R$ 69 bi | R$ 28,5 bi | R$ 3,71 bi |
2022 | R$ 74 bi | R$ 34,3 bi | R$ 4,88 bi |
2023 | R$ 80 bi | R$ 35,5 bi | R$ 5,10 bi |
2024 | R$ 88 bi | R$ 31,8 bi | R$ 5,36 bi |
Essas variações indicam que a comunicação corporativa brasileira segue ativa, mas em processo de reconfiguração: menos recursos sob controle direto das áreas internas, e maior presença de prestadores especializados na execução de estratégias narrativas, de escuta e mediação pública. Ao mesmo tempo, a lógica publicitária continua se expandindo, impulsionada por formatos digitais, segmentação de audiência e novas plataformas.
Em vez de opor essas trajetórias, talvez seja mais produtivo interpretá-las como reflexo de lógicas diferentes, porém interdependentes. A publicidade tende a operar com objetivos de curto prazo, voltada à atenção e conversão. Já a comunicação empresarial trabalha sobre o tempo longo da reputação e da legitimidade. As agências, por sua vez, transitam entre essas esferas, articulando demandas internas e formatos externos, com atuação que varia conforme o contexto.
No fim, a pergunta “quanto movimenta a comunicação empresarial brasileira?” não tem uma única resposta. Mas observar essas estimativas nos ajuda a enxergar algo mais importante: que a comunicação não é apenas uma despesa ou uma técnica — é também um campo de disputa por espaço, prestígio e influência dentro das organizações. E essas estimativas, por mais parciais que sejam, revelam muito sobre como ela é percebida, praticada e posicionada no Brasil de hoje.
Destaques
- Governança e comunicação em debate na Casa Firjan com Vânia Bueno
- Aberje analisa o retorno do nacionalismo econômico em novo estudo do CEAEC
- Especial Executivo de Valor destaca papel da Comunicação junto à liderança
- Fabio Rua, da General Motors, é eleito para o Conselho Deliberativo da Aberje
- Lançamento do livro “Comunicação e Governança” no Rio de Janeiro destaca a interdependência entre confiança, transparência e legitimidade
ARTIGOS E COLUNAS
Leonardo Müller ESG: auge e queda de uma siglaHamilton dos Santos Nova desordem mundialPablo Assolini ESG fora da pauta? Até para isso a comunicação é estratégica!Carlos Parente Cuidado com a “comunicação reborn”!Miriam Moura SXSW London revela sucessos e incertezas da nova economia