20 de dezembro de 2023

Qual é a sua dieta da informação?

Como (e quanto) você consome notícias, posts das redes sociais, filmes, documentários, podcasts, programas de televisão ou de rádio? Já parou para pensar no volume de informações diárias que você absorve? Neste mundo hiper conectado, corremos o risco de acessar, por smartphones, horas e horas de conteúdo sem perceber. Segundo a agência internacional We Are Social, o brasileiro passou, em média, 9 horas e 32 minutos utilizando a internet diariamente, em 2023, número 45% superior à média mundial de 6 horas e 37 minutos.  

Além da quantidade, o tipo e a qualidade das informações consumidas devem ser ponto de atenção. Se precisamos cuidar da nossa alimentação para ter uma vida saudável, evitando junk food e doces em quantidades excessivas, é necessário, também, ter um olhar atento ao impacto do conteúdo que visualizamos cotidianamente.  

É preciso, ainda, ater-se à duas frentes de alfabetização:  media e information literacy –  habilidade de usar e ser capaz de compreender a informação recebida pelas diversas mídias e multicanais. Saber julgar e classificar conteúdos como falsos ou verdadeiros. Fazer análise de contexto, analisando criticamente interesses econômicos, políticos e ideológicos de quem os produz.  

Mais ainda, é necessário desenvolver pensamento crítico, ter capacidade de questionar, analisar e avaliar as inúmeras informações a que temos acesso. Além do volume, o excesso de desinformação é outro desafio da atualidade. Temos de buscar fontes confiáveis, sejam oficiais, independentes ou de veículos tradicionais.  

As informações negativas são as que circulam com mais velocidade e engajamento, especialmente pela internet. O mundo está em crise constante e de longa duração. Estamos vivendo a era da permancrisis. E esta sensação de crise permanente afeta não apenas os negócios e as corporações, mas também os profissionais que estão cada vez mais vulneráveis ​​ao esgotamento. Desafio relevante para a alta liderança. 

Quando pensamos que a Covid-19 seria superada, surgiram outras cepas. Ainda traumatizados pelos reflexos da pandemia, fomos impactados pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Antes desta guerra acabar, outra tomou conta dos noticiários e imagens da barbárie do conflito Israel x Hamas chegaram em vídeo, a cores e ao vivo, nos celulares de milhões de pessoas em todo o mundo. Eventos climáticos extremos, desinformação sobre o impacto da Inteligência Artificial no mercado de trabalho, entre outros fatos negativos, complementam o caldeirão de preocupações que ocupam nossas mentes. Um prato cheio para atingir a saúde mental, com o aumento de crises de ansiedade, burnout e depressão.  

Recentemente, o programa Arena de Ideias, conduzido pela CEO da Oficina Consultoria, Liliane Pinheiro, abordou o posicionamento de grandes líderes num contexto de crise internacional. Ao longo do debate, a fundadora da Agência Lupa e pioneira brasileira do fact checking, Cristina Tartaglia, e a consultora associada da Oficina Consultoria, Miriam Moura, comentaram sobre as dificuldades enfrentadas na era da hiperconexão, com excesso de informação e difusão de fake news em um ambiente altamente polarizado.  

Saber o que se passa no mundo é essencial, especialmente para aqueles que ocupam posição de liderança e precisam tomar decisões rápidas e assertivas a todo momento. O relatório do Fórum Econômico Mundial elencou como habilidades imprescindíveis de um líder analisar contexto e ter pensamento crítico e inovador. Isso é possível para os que estão muito bem-informados, têm acesso a conteúdo confiável e são curiosos. Então, como fazer para se blindar da sobrecarga de informações desnecessárias e de fake news sem correr o risco da síndrome do FOMO – Fear of missing out (ou medo de ficar de fora, em português)? 

A sugestão é fazer uma boa dieta da informação. Assim como para mudar os hábitos e seguir uma alimentação saudável recorremos aos nutricionistas, fazer uma dieta da informação eficaz requer uma curadoria de conteúdo cuidadosa, que priorizeo essencial e disponibilize, em multicanais, um enxoval de referências de leitura confiável e de qualidade para o negócio de cada líder.  

O principal ponto da dieta de comunicação é o letramento para que qualquer pessoa saiba avaliar conteúdos que recebe e fazer buscas de informação relevante. Dessa forma, é possível criar uma blindagem para não cair nas “pegadinhas” da polarização e das fake news. O objetivo é adquirir conteúdos críveis e que sirvam como base da construção de repertório, do upskilling e reeskiling. 

Essa estratégia é crucial para enfrentar os desafios do mundo corporativo e construir uma vantagem competitiva sólida. Negligenciar a dieta da informação pode resultar em decisões equivocadas, crises complexas de reputação e a perda de oportunidades estratégicas. Em um mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo, em português), onde a informação é poder, aqueles que se concentrarem na aquisição de um repertório robusto, por meio de fonte confiáveis, estarão melhor preparados para liderar suas organizações rumo ao sucesso sustentável. 

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Patricia Marins

Sócia-diretora da Oficina Consultoria de Reputação e Gestão de Relacionamento. É especialista em public affairs, gerenciamento de crises de alta complexidade, programas de relações públicas e treinamentos. É sócia do Grupo In Press, co-fundadora do WOB (Women on Board) e autora do livro Muito além do media training, o porta-voz na era da hiperconexão.

  • COMPARTILHAR:

COMENTÁRIOS:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *