O sequestro como novela
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Publicado originalmente no Observatório da Imprensa em 20 de setembro de 1996
No dia 14 de setembro fez um mês que dois engenheiros da construtora mineira Andrade Gutierrez, Demétrio Mendonça Duarte e Eduardo Batista de Oliveira Resende Costa, foram seqüestrados por guerrilheiros na Colômbia. Desde o quarto dia do seqüestro, o grupo Estado de Minas, que além do jornal do mesmo nome edita o Diário da Tarde, mantém correspondente na Colômbia. Isso, em si mesmo, já significa que o assunto mobiliza a opinião pública mineira.
Quase diariamente, os jornais do grupo Estado de Minas têm publicado matérias sobre o seqüestro. E aí podem ser observados vários problemas. Os jornais, por exemplo, apresentam várias versões de negociação, todas fantasiosas (pagamento de taxa de proteção, US$ 1 milhão e obras para a comunidade pelos reféns, etc., etc., etc.). O que é noticiado num dia é simplesmente mudado pela versão do dia seguinte.
As notícias apresentam dados alarmantes para as famílias, coisas como o sofrimento no cativeiro, dificuldades no processo de negociação e violência dos guerrilheiros. Não existe qualquer preocupação em preservar, ou contribuir, para um bom clima emocional das famílias dos seqüestrados. Não há respeito em face do momento delicado.
Um exemplo: no dia 2 de setembro, O Estado de Minas estampava matéria com a seguinte manchete “Reféns Sofrem no Cativeiro”. No texto principal, entrevista com a psicóloga colombiana Olga L. Gomes que “confirma a tese universal de que as seqüelas nas vítimas de seqüestro são para sempre” (….) “Os seqüestrados passam a viver o que os especialistas da área chamam de “Síndrome de stress pós-traumático”. Em outras palavras, a vítima, após ser libertada, entra no processo de flash back, revivendo tudo o que passou em cativeiro”.
O quadro se agrava porque as fontes envolvidas diretamente nas negociações, entre elas a Andrade Gutierrez, por razões óbvias não podem se manifestar.
Os editores e repórteres dos jornais do grupo Estado de Minas poderiam mirar-se na experiência de cobertura de seqüestros dos seus colegas do Rio e São Paulo, onde o silêncio, em respeito aos seqüestrados e suas famílias, tem sido regra de ouro. A Folha de S.Paulo chegou a criar a expressão “razões de segurança”, em seu Manual de Redação, para nortear a cobertura de tudo que coloque em risco a segurança pública, de pessoas ou de empresas.
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