O poder da gentileza e o desafio de não se perder de si: reflexões com Denise Fraga

No 12º Congresso de Compliance, em meio a painéis técnicos e temas jurídicos, uma palestra destoou — e, justamente por isso, marcou. A atriz Denise Fraga subiu ao palco não para trazer respostas, mas para distribuir inquietudes. Em uma fala sensível e provocadora, ela tocou em algo que muitas vezes esquecemos em ambientes corporativos: a alma humana.
Denise começou questionando a lógica de sucesso que a sociedade nos impõe. “Sempre fui inquieta com essa ideia de que sucesso é sinônimo de felicidade”, afirmou. Para ela, vivemos em uma sociedade em que o dinheiro dita as regras e somos constantemente levados a fazer concessões. “Tenho muito medo de precisar perguntar: cadê eu?”, confessou, revelando o esforço contínuo de manter-se fiel a si mesma.
Ela contou sobre a “Denisinha” que carrega no ombro, uma imagem simbólica de sua criança interior, que a lembra de não se perder. Nem mesmo o ofício artístico — que, à primeira vista, parece libertador — está isento dessa armadilha. “Mesmo sendo atriz, você pode se distanciar de quem é.”
Falando com bom humor sobre ser palmeirense e ter ficado sete anos longe do teatro por causa dos filhos, Denise compartilhou como a peça A Alma Boa de Setsuan, de Brecht, foi um divisor de águas em sua vida. “Aquela história dizia o que eu precisava dizer”, explicou. Nela, a personagem principal precisa se vestir de homem para conseguir prosperar, uma metáfora potente sobre o preço que pagamos para sermos gentis em um mundo hostil. “Não usamos a dureza para proteger nossa gentileza — usamos a dureza como primeira resposta, com medo de sermos abusados.”
A atriz também refletiu sobre o impacto da tecnologia em nossas vidas: “Me sinto um aparelho 110 ligado no 220, sem poder queimar.” Para ela, a aceleração constante e a falsa ideia de multitarefa estão adoecendo as pessoas. “Estamos vivendo uma torre de Babel. Ninguém escuta de verdade. E depois a gente faz curso de mindfulness, ou seja, deu ruim.”
Entre risos e silêncios, ela tocou em pontos profundos: a importância da escuta, da empatia, da gentileza, e da arte como ferramenta de reconexão com o humano. “Mais vale um exemplo do que mil argumentos”, disse. “Tem muita opinião para pouco fato. E estamos acelerando até os áudios, como se desse para acelerar pessoas.”
Em um mundo que parece cada vez mais pragmático e polarizado, Denise nos convida a recuperar o fascínio pela existência — algo que, segundo ela, só a arte consegue fazer. “A poesia dá palavras para a angústia”, concluiu. E nos deixou com uma imagem poderosa: os três tipos de pessoas diante de um elevador — a que segura a porta, a que finge não ver, e a que fecha na cara do outro mesmo tendo visto. “O tipo 3 está aumentando”, alertou. “E se a gente não fizer o esforço de resistir, vai se acostumar com coisas inaceitáveis.”
Sua palestra foi, acima de tudo, um chamado à ponderação, à escuta ativa e à resistência à desumanização. Em um congresso sobre regras e ética, Denise Fraga lembrou que o maior desafio talvez seja seguir as regras do coração.
A Sing Comunicação esteve presente no 12º Congresso de Compliance a convite da Aberje e agradece imensamente pela oportunidade.
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