19 de outubro de 2021

O Brasil como hub de eletrificação

Publicado originalmente no LinkedIn em 14 de outubro de 2021

O planeta tem sido assolado por eventos climáticos extremos. Enchentes, incêndios devastadores, tempestades intensas, secas e geadas estão se tornando cada vez mais frequentes e catastróficos. Isso tudo acelera a necessidade de reduzirmos as emissões de CO2, que são responsáveis pelo aquecimento global. Relatório publicado recentemente pela ONU estima que o limite de +1,5° C de aquecimento em relação à era pré-industrial será alcançado já em 2030, dez anos antes do previsto e com efeitos sem precedentes.

Enfrentar as mudanças climáticas é o grande desafio de nossa geração e a indústria automotiva tem papel relevante neste processo. Os veículos a combustão, que dominam o transporte no planeta há mais de 100 anos, tem participação importante nas emissões de CO2. Eles representam cerca de 75% das emissões geradas pela cadeia do setor e no Brasil são responsáveis por 13% do total de emissões. Desenvolver e lançar tecnologias e produtos zero emissão são os grandes desafios e a maior parte das empresas está fazendo investimentos expressivos nesta direção. Veículos 100% elétricos são os únicos “zero emissão” e, portanto, capazes de contribuir de forma decisiva para um futuro sustentável para o planeta.

Estudo do Boston Consulting Group (BCG) apresentado recentemente pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) avalia os cenários de evolução da eletrificação no Brasil nos próximos 15 anos. O cenário que mais contribui para a redução dos níveis de emissão de CO2 é o da convergência global. Ou seja, a indústria local seguindo o caminho de suas matrizes nos mercados maduros e partindo para as soluções zero emissão. Esta é a solução que está sendo implementada nos Estados Unidos, Europa e China, com regulações específicas que vão acelerar a rota para um futuro 100% elétrico.

No cenário de convergência global, os veículos eletrificados representarão 62% das vendas no país já em 2035, com os EVs (100% elétricos) ocupando um terço deste mix. Para isso serão necessários investimentos expressivos e um trabalho colaborativos dos diversos stakeholders envolvidos no processo. Da indústria, através do desenvolvimento de tecnologias elétricas, das empresas de energia, ampliando a produção através de fontes renováveis e dos governos, fomentando a adoção em massa dos veículos elétricos e da infraestrutura de recarga. Uma política industrial de Estado adequada e bem planejada, poderá promover um novo ciclo de investimentos nos próximos 15 anos superior a R$ 150 bilhões, aponta o estudo.

Temos aqui uma oportunidade histórica de contribuir para salvar o planeta. O Brasil e região têm todos os diferenciais que podem contribuir de forma decisiva na aceleração da eletrificação.

Nós temos:

  • uma grande base industrial instalada
  • mão-de-obra de engenharia altamente qualificada
  • algumas das maiores reservas de minerais utilizados na produção de baterias
  • players importantes na área de veículos, motores elétricos e baterias
  • uma matriz de energia superior a 80% vinda de fontes renováveis

É hora de tirar proveito dessas condições favoráveis e trabalhar juntos para transformar o Brasil em polo de desenvolvimento e exportação de tecnologias de eletrificação. Trata-se de uma oportunidade única de desenvolvimento, geração de empregos e renda e criação de valor agregado para alavancar a balança comercial do país. Isso pode colocar o Brasil no caminho para se tornar uma potência industrial e tecnológica global, contribuindo de forma decisiva para o futuro do planeta e das novas gerações.

 

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Nelson Silveira

Diretor de comunicação da General Motors para América do Sul. Membro do Conselho Deliberativo da Aberje.

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