06 de julho de 2023

Na era da Inteligência Artificial, falar de Compliance é falar de pessoas

Credito: Alex Malavazi/LinkedIn

Todos os dias, nas mais diversas situações, o nosso Código de Conduta interno é posto à prova. Como será que, se tivéssemos um Canal de Ética pessoal, nossas decisões e atitudes reverberariam junto às pessoas com quem mantemos contatos diários ou esporádicos? De que maneira as nossas pequenas e grandes decisões impactam quem e o que está à nossa volta? Como seria o reporte se alguém ligasse para o nosso SAC?

Foram essas as questões que permearam minha cabeça após ter contato com temas, pessoas e debates do 10ª edição do Congresso Internacional de Compliance, realizado pela LEC (Legal, Ethics & Compliance), que é considerada a maior comunidade de compliance do  mundo, o evento aconteceu em São Paulo (SP), de 20 a 22 de junho, e contou com mais de 160 palestrantes nacionais e internacionais, que trataram sobre diversos aspectos do Compliance, desde o temas de ESG, tão em voga nas corporações, até assédio e lei anticorrupção. No entanto, volto à reflexão anterior: não há Compliance sem pessoas, sem que as pessoas tomem para si a ética nas relações, sejam elas quais forem.

Leandro Karnal, historiador, escritor, intelectual e professor universitário, foi o keynote speaker, tratando de ética como valor estratégico. Segundo ele, as empresas éticas lucram mais e são mais perenes. É uma afirmação que soa até óbvia, em um momento em que não há empresa no mundo que não esteja se mexendo para se adequar aos padrões e boas práticas de ESG (Environmental, Social and Governance). Porém, se fosse tão óbvio, não seria necessário reforçar a todo o instante normas, comportamentos desejáveis e códigos internos.

Trazendo esse debate para a realidade brasileira e colocando todos os estereótipos comportamentais do nosso povo na mesa, o famoso e tão falado “jeitinho” nos coloca em desvantagem nesse processo. Ainda flagramos diariamente Códigos de Conduta pessoais com dois pesos e duas medidas, empresas que pregam o que não fazem, discursos vazios e da boca para fora. Por isso mesmo que falar o que é óbvio, que devemos agir com ética, que devemos ser com o outro como agiríamos com nós mesmos é tão importante.

Dando uma navegada nas redes sociais, buscando outras percepções do debate dobre o tema Compliance, com gancho no evento, percebi que as mensagens-chave padrão ainda têm muita força, embora novos temas estejam incorporados à discussão, como o uso de Inteligência Artificial, por exemplo.

Está mais do que claro para mim que tratar de Compliance já passou faz tempo do debate do conflito de interesses, se posso ou não receber um presente de cliente ou fornecedor. Hoje, mais do que um conjunto de regras, o Compliance tem a tarefa de balizar relações humanas. De relembrar o tempo todo que homens e mulheres devem ter direitos, responsabilidades e oportunidades iguais de remuneração e desenvolvimento, que a diversidade traz mais riqueza na tomada de decisões. Que líderes devem avaliar competências como um todo, não privilegiar as relações pessoais. Que agir com ética em contratos, com fornecedores, colaboradores e clientes é agir com ética com pessoas. Que novas ferramentas e tecnologias são aliadas de um bom trabalho, mas que só se faz uma empresa ética com pessoas éticas em seu quadro.

Termino essa reflexão voltando ao início do texto: como seria o seu dia a dia se todos à sua volta seguissem o seu Código de Conduta? Se todos os seus stakeholders medissem o mundo com a sua régua? Isso seria uma preocupação ou um conforto? Se as relações éticas são construídas a partir de cada um de nós, vale observar como são as nossas reações, nossas decisões e nossas interações.  Comecemos sempre por nós.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Thaís Naldoni

Thaís Naldoni é jornalista, pós-graduada em Direção Editorial, e head de Conteúdo da Comunicação Invitro

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