18 de maio de 2023

Inteligência Artificial e ChatGPT: falta de transparência gera crise de desconfiança do mercado

Imagem: OpenIA

E quando você tem um negócio bilionário nas mãos, mas não consegue comunicar o seu propósito, o que acontece? O ChatGPT surgiu em meados de dezembro do ano passado causando grande alvoroço no universo da tecnologia. Cinco dias após o lançamento alcançou a marca de um milhão de usuários; no final do mês, já eram 57 milhões. Para entender a grandiosidade do feito, saiba que o TikTok levou meses para alcançar esse número. E no Instagram foram dois anos e meio até a marca de 100M.

Estamos falando de uma ferramenta que alcançou a sua popularidade em tempo recorde. Passados quase um semestre desde a sua chegada no mercado, é possível afirmar que muitos dos que tiveram acesso ou leram sobre, conseguem entender como o ChatGPT funciona, o que entrega. Agora, quando as perguntas são “por que o Chat GPT existe?” e “para onde vai?”, quais são as respostas?

Muito se fala sobre substituição da força de trabalho humano. Mas até que ponto a IA vai exercer funções operacionais e criativas? Devemos temê-la? Devemos tê-la como aliada?

A expectativa era que as respostas para essas e muitas outras dúvidas fossem sanadas no SXSW, realizado em março. O evento é reconhecido por viabilizar diálogos mais “informais” com grandes CEOs. Logo, com a confirmação da participação de Greg Brockman, cofundador e presidente da OpenAI, era esperado que ele elucidasse o público sobre o tema.

No entanto, não foi bem isso o que aconteceu. Com a atenção do mundo inteiro voltada para o Southby, Greg foi sucinto, evitou polêmicas e não deu nenhuma aspa. Bem articulado, o maior nome da IA no momento, soube bem como sair pela tangente. Mas ele perdeu a chance de encantar um público que lotou o ballroom D do Austin Convention Center, ansioso por entender a magia e as preocupações em torno da nova tecnologia que traz muitas possibilidades e também muitos riscos para o mercado de trabalho.

E se a Inteligência Artificial por si só gera desconfianças, a participação de Brockman não melhorou o cenário. Coincidência ou não, pouco tempo depois do evento, lideranças da indústria tecnológica, acadêmicos e executivos como Elon Musk e Yuval Noah Harari assinaram uma carta aberta pedindo uma pausa de seis meses nas pesquisas sobre sistemas avançados de inteligência artificial. Para eles, a tecnologia traz ‘graves riscos para a humanidade’. Sam Altman, CEO da OpenAI reconheceu ter “um pouco de medo” de que sua criação seja usada para “desinformação em grande escala ou ataques cibernéticos”.

Recentemente, fotos do Papa Franciso viralizaram nas redes sociais devido aos trajes casuais no qual o pontífice aparecia vestindo. Muitos veículos repercutiram as imagens, que depois foram reveladas como resultado da inteligência artificial.

Assim como o debate da regulação gira em torno do metaverso, é preciso discutir as regras para desenvolvimento e uso da IA. Quem vai cuidar disso? O Governo deve entrar em cena? Se for o Estado, qual frente seria responsável e como? Se for o mercado privado, como equilibrar a inovação com a segurança?

Incertezas à parte, fato é que Greg Brockman teve uma oportunidade de ouro nas mãos: a chance de ser transparente, de conectar toda a sua cadeia de stakeholders com o seu propósito, e, quem sabe assim, tranquilizá-los a respeito dos próximos passos.

Nesta semana, Sam Altman, fundador e também presidente da OpenAI vem ao Brasil para encontro com cientistas e evento organizado pela Fundação Lemann no Museu do Amanhã. Antes de vir ao país, ele deve se apresentar como testemunha no congresso americano para falar justamente sobre regulação e o impacto da IA, como se vê, uma preocupação internacional. Agora nos resta aguardar as cenas do próximo capítulo. Façam as suas apostas.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Patricia Marins

Sócia-diretora da Oficina Consultoria de Reputação e Gestão de Relacionamento. É especialista em public affairs, gerenciamento de crises de alta complexidade, programas de relações públicas e treinamentos. É sócia do Grupo In Press, co-fundadora do WOB (Women on Board) e autora do livro Muito além do media training, o porta-voz na era da hiperconexão.

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