14 de julho de 2021

Fato ou fake?

Publicado originalmente no LinkedIn em 29 de junho de 2021

12 tópicos sobre a área de Relações Governamentais para que você se atualize e conheça mais sobre a atuaçao desse profissional.

Sabemos que há vários entendimentos sobre essa atividade, muitas vezes desconhecida, porém necessária e parte do jogo democrático.

Vamos apresentar aqui nome completo pela qual essa atividade é conhecida e reconhecida no Brasil: Relações Institucionais e Governamentais (RIG). Essa função organiza, gerencia, educa e comunica as mensagens de organizações aos decisores públicos (poderes Executivo e Legislativo) e interage com os setores organizados da sociedade. Além de monitorar os temas e as políticas públicas, em todas as esferas de governo, desenvolve estratégias de atuação, produz, organiza, sistematiza e difunde informações para apoiar o processo de tomada de decisão.

Tudo isso parece complexo? A ideia é que as organizações (setores públicos e privados) sejam capazes de participar do jogo político e democrático. Tudo isso com o objetivo de romover a defesa de promover interesses e articular a defesa de causas, construir canais de interlocução confiáveis entre os agentes de governo e organizações da sociedade; e ser capaz de ampliar previsibilidades e minimizar conflitos e riscos.

Ainda com essa rápida conceituação, alguns tópicos são frequentemente levantados aos profissionais de RIG. Seguem alguns deles abaixo:

  1. É uma área obscura, que trata com agentes governamentais (políticos) então… FAKE. Não é. RIG tem de ser pautada por relações cada vez mais transparentes. Quanto mais transparentes a agenda e o discurso, mais legitimidade (e força) tem o argumento que está sendo defendido. É uma área que prima não só por ser relavante, com seus assuntos estratégicos pela melhoria do ambiente de negócios, mas também por ser “compliant”.
  2. O profissional de Relações Governamentais fica na linha de frente de questões políticas no País. MITO! É dever do profissional de Rel Gov agir com ética, transparência e consistência. Ele trabalha interesses maiores da sociedade, incluindo o fortalecimento da democracia!
  3. É lobby. FATO, é lobby. Sabia que lobby não é algo negativo? Estamos acostumados à associação do termo lobby com tráfico de influências. Aqui o termo lobby assume seu sentido original. O sentido de convencer com argumentos.
  4. O profissional de RIG precisa saber o que está acontecendo na política no país. FATO. É dever deste profissional acompanhar o cenário político e antecipar oportunidades e riscos para a organização em que atua.

 “Não é sobre defender o seu argumento. É sobre ser capaz de mostrar a importância de seu racional e seu impacto positivo.”

5. O RIG tem informações de “insider” e sabe o que rola em fofocas. FAKE. A matéria-prima desse profissional é informação pública. Sejam dados oficiais, estudos publicados, dados abertos etc. Outra ferramenta importante para sua atuação é uma sólida rede de relacionamentos, para se manter atualizado dessas fontes públicas de dados e de informação.

6. O profissional de RIG precisa ser low profile. FAKE. Ele pode – e deve – respeitar a confidencialidade de determinados temas ou materiais, assim como qualquer outro profissional da empresa. Ele não precisa ter estilo low profile e se esconder nas estruturas.

“Relações Governamentais não precisa ficar fechado em uma porta. Ele pode fazer uma gestão transparente. Claro que há temas confidenciais, mas são confidenciais pelo timing. E de resto, é saudável que compartilhe o que está fazendo, que compartilhe com a empresa as informações do cenário político.”

7. Relações Governamentais é a mesma coisa que Relações Institucionais? FAKE. Relações Governamentais está dentro de Relações Institucionais. Relações Institucionais incluem outras a participação de outras organizações, parte do jogo político, tais como associações de classe, federações, ONGs, formadores de opinião (think tanks) etc.

8. Profissionais de RIG atuam sós, diretamente com Setor Público. FAKE. Tende a ser cada vez mais raro que esse profissional não esteja integrado a outras áreas da organização, em sua atuação. Pelo fato de ele ser normalmente um generalista, internamente ele se vale de um bom trabalho em equipe. Externamente é normal que ele aja por meio de associações e coalisões, pela busca de mais legitimidade em seu discurso.

9. Reuniões e comunicações com governos não podem ser registradas. FAKE. Ao contrário, devem ser registradas e comunicadas com atas. Se você é um profissional em uma empresa, e por algum motivo vai falar com alguém do governo presencialmente ou não, certifique-se em estar com um profissional de RIG ao seu lado, da mesma forma que você estaria acompanhado de uma assessoria de imprensa para conversar com um jornalista.

10. O profissional de RIG não consegue saber tudo o que está acontecendo. FATO. As fontes de informações são múltiplas e para ter mais efetividade em sua atuação, ele pode contar com assessorias que o apoiam buscando informações em fontes como diários oficiais, agendas de autoridades, consultas públicas, portais oficiais, proposições legislativas, audiências públicas, discursos, pauta de comissões e plenário, perfis em redes sociais e clipping. Importante: parte deste material pode ser compartilhado com a empresa ou com algumas pessoas da empresa. E isso é muito rico quando acontece.

11. Tudo bem quando a empresa vai fazer algo em Relações Governamentais “que todo mundo faz”. MITO. A área é absolutamente ética. Não importa se todo mundo faz. Se você não puder falar sobre aquilo na manchete de um jornal, não faça.

12. Empresas fazem Relações Governamentais se quiserem. MITO. Minha opinião: é direito e dever do setor privado participar do jogo político juntos aos tomadores de decisão, que impactam sua atuação. Por isso é importante manter um canal permanente de interlocução com os poderes públicos, para auxiliá-los na melhoria do desenho de políticas públicas.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luciana Coen

Profissional com mais de 20 anos de experiência em Comunicações Integradas, Jornalismo, Mídias Sociais, Relações Públicas e Sustentabilidade, Luciana Coen é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com MBA em Comunicações Corporativas pela Syracuse International e Fundação Getúlio Vargas em Assuntos e Comunicações Corporativas. Trabalhou como repórter e editora de veículos especializados em tecnologia como Computer World e CIO Magazine. Desde maio de 2014 é Diretora de Comunicações Integrada e Responsabilidade Social Corporativa da SAP Brasil. É membro do Conselho da Associação Brasileira das Comunicações Corporativas (Aberje) e dos Comitês de Comunicação da AHK e de Sustentabilidade Amcham-SP.

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