19 de dezembro de 2022

ESG é boa jogada para a indústria do futebol

A grande maioria dos que crescem alimentando o sonho do esporte não chega a se profissionalizar e é simplesmente deixada para trás
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Publicado originalmente no jornal O Globo, em 10 de dezembro de 2022

futebol brasileiro é uma indústria próspera, responsável por quase 1% do PIB nacional e com forte potencial de crescimento. Ao mesmo tempo, é uma indústria que trata mal sua principal fonte de riqueza: a base, onde se incubam os jogadores profissionais, as grandes estrelas e seus clubes. Essa contradição, apesar de problemática, põe em campo uma oportunidade para o mundo empresarial: uma situação propícia para a aplicação da cultura ESG.

ESG é a sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, um indicador dos esforços empresariais em valorizar questões ambientais, sociais e de governança corporativa. É um tipo de estratégia em que o lucro ainda é o objetivo, mas a maneira de consegui-lo passa por caminhos mais amplos. Realoca-se dinheiro para projetos que trabalham por um mundo mais justo e igualitário, que tenham maior responsabilidade no uso de recursos naturais e que apostem no desenvolvimento social. Desse modo, as empresas constroem reputação, fortalecem a presença de suas marcas nas comunidades, associam seu produto a questões éticas, desenvolvem seu storytelling e robustecem seus alicerces.

Ao levarem essa prática, já tão em voga no meio empresarial, para o investimento na base do futebol brasileiro, as empresas poderão construir vínculos mais sensíveis com seu público. Elas se beneficiarão da paixão nacional pelo esporte tanto pela via das relações diretas com os envolvidos com ele quanto pelas vias indiretas de seu impacto social e econômico.

É claro que, para que isso seja viável, o esforço deve se dar também na direção contrária: os clubes formadores e os projetos sociais também precisam investir em sua governança para ser eticamente atraentes para as marcas. No Brasil, atualmente, o futebol de base não proporciona um caminho positivo e saudável para aqueles que não se destinam aos clubes de elite. A grande maioria dos que crescem alimentando o sonho do futebol — depois de passar boa parte da juventude jogando seu futuro —acaba não chegando à profissionalização e é simplesmente deixada para trás, relegada ao prejuízo de não ter tido outra formação que lhe orientasse a vida. É o que nos faz reconhecer que a base dessa indústria não é bem cuidada.

Os clubes de base podem se tornar atraentes para as empresas, e seus investimentos em ESG transformar a paixão pelo futebol numa estrutura social formadora e inclusiva. Assim, as empresas terão interesse em ganhar espaço, reputação e força por aliar seus nomes à transformação do futebol numa comunidade mais rica e sadia. E os clubes de base se beneficiarão largamente dos investimentos privados que poderão receber. Por fim, até mesmo a grande indústria dos clubes de elite ganhará com essa aliança, à medida que o surgimento de astros do esporte se torne mais consistente —já que investimento na base significa mais estabilidade na formação de profissionais.

Este é um momento propício para tal transformação na estrutura do futebol nacional, graças à lei que regula a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) — um estatuto legal que os clubes podem assumir, mais próximo do modelo empresarial. As SAFs são obrigadas a se comprometer com a criação de um Programa de Desenvolvimento Educacional e Social. Essa é uma medida legal que convoca para a integração público-privada na estruturação e no desenvolvimento da base que sustenta o esporte.

As empresas, portanto, precisam aproveitar o momento e ficar atentas ao que está acontecendo no mundo do futebol. No Brasil, o futebol também é, sob o olhar empreendedor da cultura ESG, um terreno fértil e seguro para a aliança entre a responsabilidade social, o desenvolvimento econômico e a comunicação empresarial.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Hamilton dos Santos

Jornalista, mestre e doutor em Filosofia, ambos pela Universidade de São Paulo (USP). Também é formado em Administração de Empresas pela Stanford Global Business School. Tem experiência em diversas redações dos principais veículos de comunicação do Brasil e como diretor de Recursos Humanos da Editora Abril, onde trabalhou por 20 anos. Atualmente é diretor executivo da Aberje – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, representa a instituição na Global Alliance For Public Relations and Communication Management e é membro da Page Society, do Conselho da Poiésis e um dos líderes do movimento “Tem Mais Gente Lendo”.

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