Das redes sociais ao advocacy: a pseudo justiça a serviço da vingança

Parece que uma grande nuvem, imensa e densa, parou sobre nossas cabeças e criou uma multidão de reclamões. As chamadas redes sociais tornaram-se uma espécie de muro das lamentações digital, no qual cada um se encosta e deita falação, esbraveja contra o que não agrada gregos e troianos, em um mundo praticamente binário.
O tempo moderno tem nos levado ao estreitamento de horizontes, sem muito espaço para a conversa, a argumentação, o debate das possibilidades. Julgamos e sentenciamos no mesmo instante e damos o assunto por encerrado, sempre taxativos e inflexíveis, a favor ou contra.
As relações perderam um pouco do seu encanto, o jogo de cintura, a negociação, a conquista de espaço em uma conversa inteligente, civilizada, mesmo que dura e tensa, o que faz parte dessa esgrima argumentativa.
A gente aprendia, por exemplo, que não se discute uma decisão judicial, cumpre-se. Se você não concorda com ela, vai trabalhar para aperfeiçoar a lei, usando os meios oficiais e legais e não ficar berrando em praça pública digital seu descontentamento. Não gostou? Levante-se, arregace as mangas e vá convencer o legislador a alterar a lei. Se seus argumentos forem sólidos, consistentes, constitucionais, pode demorar, mas você terá sucesso.
Em uma explicação simples e rápida, isso chama-se advocacy, uma atividade legal e institucionalizada de comunicação, que faz uma defesa e argumenta em favor de uma causa pública; tem com regras e técnicas específicas, usa a mobilização de pessoas para promover bandeiras, políticas ou ações específicas, relacionadas ao bem comum, influenciando a opinião pública. Quando o assunto é de interesse de um grupo específico, com mais proximidade/acesso ao poder público, a atividade é chamada de lobby, que trabalha para influenciar as decisões do governo. E não tem problema algum com isso, desde que a condução do processo seja legítima e ética.
Temos visto espantosamente um novo justiçamento: o digital, com assassinato de reputações, banimento, ou coisa parecida em nome de uma pseudo justiça, que é, na verdade, apenas vingança. A gente vê pessoas presumidamente de bom nível intelectual com esse papo, que extrapola a justiça: “tem mais é que morrer”; “não deveria trabalhar novamente”; “como está solto?”.
É chocante. Por isso, defendo sempre, sem dúvida, a linha do advocacy; da defesa legítima dos interesses: organize-se e vá para cima! Você está insatisfeito? Então, prepare-se, mobilize recursos e pessoas em prol da sua causa, reivindicando-a junto ao poder público, sabendo que você não legisla, nem define as leis.
Nesse extremo em que vivemos, querendo que o outro lado exploda, é o caminho mais rápido para o caos generalizado das narrativas vigentes, neste momento em que parece que os contextos colapsaram. O grande risco, parafraseando Gilberto Gil na canção “Se eu quiser falar com Deus” é:
“Que ao findar, vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar”.
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