Crise de saúde mental nas empresas e o papel da comunicação

A saúde mental se tornou um dos principais desafios da gestão de pessoas, a ponto de ser classificada como crise, com impacto em empresas de todos os portes e segmentos. Só em 2024, o Brasil registrou quase meio milhão de afastamentos por transtornos mentais, o maior número em uma década. O dado mostra como o problema é sério e, sem o apoio da comunicação interna, dificilmente poderá ser superado.
Quando casos de transtornos mentais aparecem nas licenças médicas, podemos avaliar que o problema é ainda mais grave. De acordo com dados do Ministério da Previdência Social, os afastamentos desse tipo cresceram 68% entre 2023 e 2024. Entre os diagnósticos mais comuns estão a ansiedade e a depressão.
O famoso burnout nem figura na lista, mas isso não quer dizer que ele não esteja presente. O que acontece, de acordo com especialistas, é que é difícil diagnosticar essa condição, e a subnotificação tende a ser bastante comum quando o assunto envolve um tema tão marginalizado nos ambientes de trabalho. Mesmo assim, o adoecimento psicológico nas empresas é real e precisa ser endereçado pela comunicação interna.
Sabemos que esse não é um problema para ser tratado exclusivamente por uma área ou outra. O esforço precisa ser conjunto e o assunto tem que ser encarado como prioridade em todos os níveis da organização. Afinal, não agir também traz prejuízos para as pessoas e para o negócio. É papel da comunicação dar visibilidade a essas ações, alinhar o discurso e, principalmente, estabelecer um diálogo transparente e responsável com o público interno.
Muito além da obrigatoriedade
A crise de saúde mental nas empresas não pegou ninguém de surpresa. O grande número de afastamentos apenas escancara uma situação que já vinha se desenhando. Prova disso é que até mesmo as normas de saúde e segurança no trabalho já vinham incorporando medidas de enfrentamento e responsabilização.
Destaco duas que têm grande importância nesse contexto. A primeira delas foi a inclusão do assédio moral como tema obrigatório da CIPA. A outra é a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que incluiu os fatores psicossociais nos programas de gerenciamento de riscos: estresse crônico, assédio, sobrecarga, entre outros.
Embora a nova NR-1 só entre em vigor em 2026, ela já deveria estar provocando mudanças nos ambientes de trabalho. O tempo extra que foi concedido não é um alívio; é uma oportunidade para estruturar políticas adequadas ao tamanho do desafio e para fortalecer, desde já, a comunicação que sustenta esse processo de mudança.
Comunicação, cuidado e conexão
Não existe cultura de bem-estar sem coerência na comunicação. Também não dá para promover um ambiente acolhedor com discursos formais e vazios, desconectados da experiência real das equipes. Quando bem alinhada, a comunicação interna pode reforçar ações, esclarecer políticas de cuidado, divulgar iniciativas, combater estereótipos, instruir as pessoas e, principalmente, criar espaços de diálogo.
Tudo isso só acontece quando a área é valorizada, ou seja, tem respaldo e recursos para desenvolver suas ações. Os resultados dependem da atuação estratégica. Sem filtro, curadoria e propósito, qualquer mensagem vira ruído. O efeito é desgaste, atenção dispersa e perda de confiança.
Mais do que intenção, criatividade e mensagens adequadas ao público, é fundamental ter uma comunicação estruturada e analítica. Se as campanhas têm o objetivo de apoiar as ações de saúde e segurança no trabalho, é indispensável acompanhar os indicadores que refletem o bem-estar organizacional. Combinar os KPIs da comunicação com os do RH faz todo sentido. Isso inclui olhar para aspectos como absenteísmo, turnover, produtividade, clima organizacional e por aí vai.
No final das contas, precisamos assimilar que bem-estar no trabalho não é responsabilidade exclusiva do RH, nem deve ser tratado como iniciativa isolada. A comunicação interna é quem costura essa narrativa, conecta pontas, traduz orientações em linguagem acessível e dá visibilidade ao que está sendo feito.
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