Confiança em crise
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Em períodos de crise como o que vivemos atualmente, é natural que os olhos e ouvidos da sociedade estejam voltados às decisões de governos e suas lideranças, as quais têm impacto direto na vida dos cidadãos. O mesmo se aplica a líderes empresariais, sociais e de outros grupos que exercem influência direta na opinião pública e cujas ações e atitudes podem ajudar a amenizar os efeitos de uma crise, ou agravá-la ainda mais.
A mais recente edição do Edelman Trust Barometer 2021, estudo global que mede a confiança e a credibilidade nas empresas, governos e lideranças sociais, revelou que os líderes governamentais não apenas permanecem como os menos confiáveis, mas ainda caíram dois pontos em relação à edição anterior, de 43% para 41%. Decisões equivocadas de muitas nações no enfrentamento da pandemia desde seu início parecem ter contribuído para essa crise de confiança. Não é à toa que os cientistas aparecem no primeiro lugar do ranking entre os grupos mais confiáveis (73%), seguidos pelos CEOs das empresas em que atuam os respondentes, com 63%.
A pesquisa é bem ampla, mas gostaria de destacar alguns pontos que reforçam essa maior confiança no setor empresarial em tempos de crise sanitária global. Dados agregados de 27 países classificam o setor como o único visto, ao mesmo tempo, como competente e ético. Além disso, a maioria das pessoas confia mais nas notícias veiculadas pelas empresas (61%) do que em qualquer outra fonte de informação, inclusive a imprensa tradicional. Com o fenômeno das fake news, as mídias sociais estão entre as menos críveis, com um quarto dos participantes mostrando-se incrédulos quanto a informações recebidas apenas por esses canais.
Outro ponto observado é que por conta da desconfiança em seus governantes, 86% das pessoas ouvidas na pesquisa esperam que o CEO e a alta gestão das empresas sejam muito mais atuantes e liderem discussões sobre problemas que impactam a sociedade, e 68% esperam que de alguma forma eles preencham o vazio deixado pelos governos ao não conseguirem resolver questões que afligem a população, e a saúde está entre elas.
Diversos fatores vem contribuindo para minar a confiança dos cidadãos em seus governantes, seja por negligência do Estado ou por sua desconexão com a pauta das ruas. De outro lado está o mérito das lideranças empresariais na proposição de agendas progressistas e ancoradas nos pilares ESG (Environmental, Social and Governance).
Liderar as transformações que estamos vivendo no modelo de trabalho, consumo, saúde e bem-estar social, com o apoio de tecnologias digitais, talvez seja a maior contribuição do segmento corporativo para os novos rumos da economia e da sociedade que desejamos para o futuro. E um motivo e tanto para o aumento da confiança, mesmo que em meio a uma crise de confiança.
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