25 de fevereiro de 2022

Comunicação think tank

Quando falei a primeira vez sobre think tank com alguns amigos, eles pensaram que eu estava me referindo ao TikTok. A confusão é até aceitável, pelo sucesso atual e pelo fato que há anos venho estudando, trabalhando e escrevendo sobre como as redes sociais vêm impactando e transformando a forma como as pessoas se comunicam e obtêm informações atualmente. Nada contra os conteúdos virais e as interações que convidam outros usuários a participar de desafios interessantes ou coreografias divertidas como alternativa de entretenimento, mas efetivamente estava querendo provocar outro tipo de reflexão.

Think tanks são laboratórios de ideias. Instituições que desempenham o papel de influenciar a formulação de políticas públicas e a alocação de recursos oficiais. Elas têm a capacidade e o objetivo de explicar, mobilizar e articular os principais decisores da coletividade, atuando em diversas áreas, como segurança internacional, globalização, governança, economia internacional, questões ambientais, informação e sociedade, redução de desigualdades e saúde. Produzem pesquisas, análises e recomendações que contribuem para que formadores de opiniões tenham instrumentos para tomar decisões mais embasadas e, também, para a disseminação de conhecimento. Incrível como muitas vezes passam desapercebidas.

Essas organizações têm um importante papel crítico, principalmente em uma sociedade que valoriza cada vez mais influenciadores pagos, para criar desejos desnecessários, incentivando consumidores insanos, em um ambiente cada vez mais complexo de informações. São os think tanks que fecham as lacunas de conhecimento entre academia e sociedade, academia e governo e entre o governo e a sociedade. Os primeiros laboratórios de ideias oficiais no mundo foram regulamentados com o fim da segunda guerra mundial. Atualmente no Brasil existem mais de 180 think tanks, quase sempre ligados às universidades ou fundações.

Apesar do envolvimento que existe entre a grande mídia e os think tanks, nem sempre as relações são harmoniosas, existindo alguns conflitos de interesses. Ambas atuam em conjunto para se tornarem mais relevantes, porém, convivem no mesmo ambiente de superabundância de informações e têm a necessidade de serem ágeis sem perder a qualidade dos dados. Esses fatores exigem a adoção de novos princípios, especialmente nas análises, pesquisas e monitoramento de informações. Mas a maioria das empresas de comunicação ainda utilizam a mentalidade, os processos e as métricas do século passado. Muitos recursos tecnológicos, como a inteligência artificial (IA), são percebidos como ameaça, o que inicialmente impede implementações inovadoras.

A boa notícia é que o cenário está mudando. O “peso” das big techs nos principais centros de estudos está aumentando. Google, Amazon, Meta e Apple estão financiando quatro dos mais prestigiados grupos de pesquisa de Washington. Os interesses são claros, pois lutam contra as tentativas de uma regulamentação mais rígida em relação a moderação de conteúdos e a privacidade. Incentivam a adoção tecnológica em larga escala. Apesar das intenções serem controversas, é fundamental que as empresas mais ricas do mundo financiem instituições suprapartidárias. Afinal, sempre haverá interesses envolvidos. Pior seria a restrição das informações, impedindo o debate entre as várias linhas de pensamento.

Temas envolvendo as alterações climáticas, degradação ambiental, crise energética, conflitos geopolíticos, desigualdade social, saneamento básico, segurança digital, cultura do cancelamento, mobilidade urbana, saúde pública, educação, e trabalho, entre tantos outros, precisam de olhares diferentes. Tudo está conectado e interligado. Temos à disposição recursos inéditos e infelizmente muitos procuram o caminho da negação.

Não é a tecnologia que acaba com as vagas de trabalho. O que destrói o emprego é a falta de atualização, de preparo, de qualificação. Os países ricos são aqueles que mais investem em educação, que mais adotam tecnologias, e que menos tem problemas com desemprego. A preocupação com a educação deve ser constante e contínua. Já passou a fase em que ficávamos alguns anos na escola. Hoje é uma jornada para toda a vida.

Precisamos cada vez mais promover essas fábricas de ideias e círculos de reflexão. Vivemos um momento da história humana onda parece só existir dois lados. O espaço de fuga nessa polarização é a alienação. O crescimento e o consumo de ambientes que distraem e interferem na capacidade dos indivíduos agirem e pensarem por si próprios é uma ameaça a todas as gerações. Afinal, informação de qualidade é importante para qualquer empresa. Boa informação é importante para qualquer pessoa.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Marcelo Molnar

Marcelo Molnar é formado em Química Industrial, com pós graduação em Marketing e Publicidade. Experiência de 18 anos no mercado da Tecnologia da Informação, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Criador do processo ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de sua relação emocional com seus consumidores. Coautor do livro "O segredo de Ebbinghaus". Atualmente é Sócio Diretor da Boxnet.

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