Comunicação para a diplomacia da ciência e inovação
Como campo do conhecimento, a comunicação tem uma forte abertura à interdisciplinaridade e colaboração com outras áreas, seja na academia, no setor público, no mercado ou no terceiro setor. A ideia de que outras disciplinas podem se beneficiar da comunicação e tê-la como aliada, pensando principalmente do desenvolvimento de boas relações, é um dos pilares da Aberje. Neste sentido, apoiamos uma importante iniciativa nas áreas da diplomacia da ciência e da inovação, a São Paulo School on Science and Innovation Diplomacy (Innscid), liderada pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) e Instituto de Relações Internacionais (IRI-USP) da Universidade de São Paulo.
As mesma habilidades e estratégias para pensar a comunicação empresarial, ou nas organizações de forma geral, podem ser aplicadas para a diplomacia científica e da inovação, e vice-versa. Tanto o jornalismo quanto a ciência vinham enfrentando nos últimos anos uma crise de legitimidade. Fake news, terraplanismos, grupos antivacina e todos os tipos de narrativas que ameaçam o trabalho sério de especialistas e profissionais qualificados sinalizam que deixamos para trás o tempo em que referências não eram questionadas e a comunicação tinha um papel informacional e funcionalista.
Temas como a escuta ativa, comunicação não violenta e storytelling, tão disseminados entre as empresas hoje, apareceram entre as habilidades desejadas por quem trabalha no campo da diplomacia científica e da inovação. Estar atento ao que a sociedade, comunidades, autoridades e indivíduos levam em consideração na hora de colaborar ou não, se provou um dos principais desafios do campo.
Do ponto de vista da comunicação, esses temas são primordiais para, por exemplo, estabelecer relações com as comunidades locais que recebem cientistas ou colaboram com equipes estrangeiras. Também vale para equipes de diferentes nacionalidades que se juntam em esforços que, começando pela diplomacia, tem o objetivo de resolver problemas globais e locais.
O desenvolvimento dessas “soft skills” do comunicador ou do diplomata é a resposta para um paradigma em que só informar, gerenciar ou impor uma mensagem não é mais suficiente. É preciso interagir, conhecer e compreender o outro, assumindo que a interpretação “correta” da sua mensagem não está garantida até que você estabeleça laços genuínos com o seu interlocutor.
Os relatos compartilhados durante o Innscid sobre experiências de pesquisas de campo provam que é preciso ter uma narrativa coesa sobre os objetivos de um estudo e, também, sobre como a ciência produzida ali pode ter um impacto positivo na comunidade. A mesma preocupação é tema recorrente nos principais fóruns da comunicação empresarial. Desfazer um sentimento de “hit and run”, em que cientistas ou organizações chegam, realizam uma atividade e vão embora sem deixar um legado é um dos pontos de sobreposição das áreas de comunicação e diplomacia da ciência e da inovação.
Sob a mesma ótica, os esforços para a criação de uma vacina, que passam por colaborações entre instituições, governos, universidades e outros atores, precisam ser acompanhados por uma comunicação que transmita não só a segurança que as pessoas querem ter ao se vacinarem como também para combater a já estabelecida narrativa antivacina, que é por si, um fenômeno comunicacional.
Por fim, a comunicação ainda pode colaborar para a criação dos ecossistemas de inovação, que contam com a participação da iniciativa privada, realçando não só as possibilidades de colaboração, mas também a visão de como aquele ambiente pode ser benéfico para a sociedade.
Pensar a diplomacia, seus modelos e sua forma de atuação a partir de habilidades comunicacionais, uma vez que engloba dimensões das relações pessoais e das instituições, é um caminho frutífero para o desenvolvimento do relacionamento e de cooperações entre partes distintas. E pensar a comunicação a partir de premissas da diplomacia, como a não negação de conflitos existentes, pode gerar uma nova perspectiva para a área.
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